quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

Teresa

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Teresa baixou os olhos, mirou seus seios.
"São meus!" - exclamou.
Desceu as mãos. Perdeu-se.
"Meu deus!"
Teresa desceu a saia, o pudor. Desceu os pêlos, a pele. Desceu tudo seu. Desceu as escadas à rua. Desceu à praia, ao mar.
"Sou eu!"
Desceu tanto, entretanto, que desceram todos, os outros, à rua, à praia. Desceram palavras como pedras, desceram rebentos à carne. Disseram-na feia, disseram-na velha, disseram-na vulgar.
Teresa não disse nada!
Lavou os cabelos, longos e negros. Lavou-se toda, por fora, por dentro. Lavou-se inteira, Teresa.
"É Teresa!" - explicavam. Sempre há quem chega tarde.
"Sou eu!"
Lavou-se ao avesso, estendeu-se em nudez. Esparramou-se um seio, outro também. Toda flacidez, as coxas luziam, os braços, o ventre.
Teresa sorria!
"Meu deus!"
Já plena e lavada, Teresa subiu à praia, à rua, às escadas, ao povo reunido que a cercou:
"Então?" - perguntou.
Não houve pedras, não houve palavras. Não houve nada!

Desde então todos sabem: Teresa é mulher, e toda manhã cruza a cidade ao mar, nua, toda ela, pêlos, pele e prazer. Toma seu banho, estende seu corpo, e volta para casa.
Teresa é mulher invejada!




Viegas Fernandes da Costa é historiador e escritor. Autor de Sob a luz do farol (crônicas, 2005) e De espantalhos e pedras também se faz um poema (Poemas, 2008). É servidor da Biblioteca Universitária da Univ. Regional de Blumenau, onde coordena e edita o site de literatura Sarau Eletrônico.

Texto retirado da seção Oficina Literária, da revista Cult.
http://revistacult.uol.com.br/website/oficinaLiteraria/content.asp?nwsCode={AA4C608B-149F-49C1-81BA-0B2CB778BA2B}