Sábado a noite, Gabriel, meu filho, e eu fomos ao noivado de
uma amiga. Tudo muito bem, festa linda,
comida saborosa, e, mesmo Gabriel tendo relutado em ir ao evento, percebi que
se divertia. Chegou o momento do discurso do casal e o noivo, recém convertido
à fé cristã, chamou o pastor de seu afeto para também discursar sobre o
noivado. Crianças são impacientes com essas tradições de adultos e Gabriel logo
começou a ficar inquieto. Até aí, normal. Mas, conforme o pastor começou a
falar sobre a “importância da família”,
dos “casais que não se separam”, etc, Gabriel dizia “este cara está me
enrolando” com certa agressividade incomum a ele. E falava de modo a que o
pastor pudesse ouvi-lo. Eu sou agnóstica. Contudo, nunca falei nada que colocasse qualquer religião sob
questão. Minha mãe é católica e até reza com Gabriel. As vezes, critiquei o
Papa na frente dele, ou a igreja, mas não o discurso da fé alheia. Já me
perguntou se podia acreditar em Deus e eu disse que sim. E mesmo em relação ao discurso dos noivos,
ele reagiu de modo menos agressivo. Então, em casa, pensando sobre o assunto, retomei uma atitude parecida que Gabriel teve
no restaurante da USP (a funcionara, estando o local cheio, deixou que fossemos
nos sentar em um local vazio do restaurante. Depois, pediu que nos retirássemos
de onde estávamos, pois só havia aberto exceção a mim e ao Gabriel de nos sentarmos ali e não aos
meus acompanhantes. Segundo ela, o local estava limpo e não poderíamos sujar o chão) em
que, com raiva, jogou comida no chão propositalmente. Nós, Gabriel e eu, éramos a única família ali
que não se encaixava nos padrões elogiados pelo pastor. A única que não prezava
pelo casamento, pela existência de homem na configuração familiar. A comparação
do pastor foi “casais que se casam e ficam juntos para sempre=família
verdadeira em Deus” versus “as outras =sem Deus”. Gabriel notou (eu também, mas
sem novidades). E reagiu. Como culpá-lo por ter reagido?
segunda-feira, 23 de setembro de 2013
segunda-feira, 16 de setembro de 2013
Barata
Seus pés: pequeninos, veias fortes, pelos.
Há quilômetros e quilômetros ao sol. pés que consomem
caminhos.
O chão cinza brilha e reluz em prata . E ela caminha sob
ouro de tolo.
Muitos caminhos. E todos, o sol era barato e a vida cara
demais para planos futuros além do brilho no concreto/
Na cidade, há muitas baratas. Tontas. Desbaratadas por
caminhos que dão sempre para debaixo dos pés que as esmagam.
Seus pés sempre inchados. Todavia, as pernas fortes, que
seguem o horizonte a pé
( apesar da violência, da violência, da violência...)
Na cidade de baratas e prédios, o horizonte está em toda
esquina
(e em nenhuma).
Espera que seus pés a levem sempre por esquinas úmidas.
Esquinas com mijo, com música, com um povo esquisito(!), com pequenas baratas
que sejam sempre pequenas/ esquinas
assimétricas. e vivas.
antes que vire
a barata
de Kafka
sem pés
e esmagada.
sem pés
e esmagada.
quarta-feira, 11 de setembro de 2013
O meu plano A era Vinicius, mas...
Se a vida é “a arte do encontro”, sou desvivida em
desencontros.
Encontrada apenas com o anjo torto do gauchismo Drummondiano.
Sem rancores, sem rancores!
Apenas é que faz dois dias ando a pensar em meus
desencontros. E comecei a lista-los todos, in memoria. Eu sou meio maso mesmo.
Encontrei um filho, desencontrei um pai. Fui apaixonada por
um mocinho da Letras por anos e acabei ficando com o outro, que eu era a fim,
mas justo quando... descobri que estava grávida. Aliás, estar grávida é chamar
encontros desencontrados em feto.
O outro se declarou a
mim no dia que peguei o exame de positivo. O amigo de amizade colorida se
engraçou comigo com a barriga crescendo. Depois, se apaixonou por uma mocinha
linda e a abandonou pra ir pra França. Daí ficou dois anos e quando voltou eu
acabara de começar o namoro. Quando terminei o meu, começou o outro... Eu menstruo em meus encontros, eu passo mal,
fico sem grana, o metrô cai, é Hiroshima-micro-in-loco, saci trocando a hora do
relógio, um atraso, deslocos.
Eu disse que o amava quando ele não. Ele disse que me amava
quando eu não. Eu tive sempre bons empregos, só que ao contrário. O primeiro,
eu teria sucesso, se antes houvesse
passado pelo atual. E o atual, pelo primeiro. E o do meio, se no fim.
Vinicius era meu plano A. Mas nasceu antes e ainda tirou
sarro, safado! Chico era o B, Vinicius, novamente, desaforado! Sem rancores, sem rancores... meus
desencontros geraram todos os demais encontros desencontrados, se eu pensar
melhor, com mais bossa, né? E que meus desencontros sejam eternos enquanto
durem!
quarta-feira, 4 de setembro de 2013
Sobre ser mulher, jovem, mãe solteira, na Universidade, no mundo.
Este texto é sobre muitas coisas, todas dentro do
rótulo “ser mãe”. Ele deveria ter sido feito aos poucos, pois para
cada item do título, houve uma porta arrebentada ou uma perna quebrada na
tentativa de. Talvez pudesse ter
escolhido o título “Por quê sou feminista”. Mas é exatamente a relação entre
causa e efeito a matéria mesma que me leva a escrever e não só o feminismo.
segunda-feira, 2 de setembro de 2013
Mil vezes uma mentira...
- Tudo vai dar certo, eu não estava mais feliz aqui - disse a Ele e a Ela.
- Vai sim - Ele respondeu.
- Já estava aqui há muito tempo, tudo vai dar certo agora..
Só o quê não sabiam é que repetia a mesma frase, pois a repetia para si. Falava a eles, olhava em seus olhos, mas era para si que dizia. Se os demais acreditassem, quem sabe Ela também não acreditaria?
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