terça-feira, 20 de abril de 2010

Maldito Marx!!!


Ócio. Tédio. A dúvida é inevitável: caralho, porque não posso aproveitar esse tempo dormindo?!?!?! Afinal,  dormir é só o que desejo nos últimos tempos.

O dia está lindo lá fora e eu deveria ter vontade de viver o que está lá. Mas penso na trabalheira disso e a vontade em estar no aconchego de minha cama retorna. Viver é coisa de uma trabalheira, né?! Tantas coisas a fazer e sempre parece assim: ter sempre algo em atraso a fazer.

Em meio a este estado anestésico e incômodo resolvi perambular por algum dos milhões de blogs que tenho em meus favoritos do Explorer e não é que caio em um maldito texto sobre a teoria marxista?!

 

O mundo só existe para o animal como deglutição, consumo, objeto de desgaste e destruição – a busca da repetição incessante desse mundo faz da sobrevivência seu campo de realização.

 

Só o homo sapiens sabe que vai morrer. Então, para ele, não faz nenhum sentido que o mundo seja apenas a incessante repetição da busca por comer e copular. Ele não pode mais deixar que lhe passe com indiferença a existência que lhe resta: só quem tem consciência da proximidade crescente da morte é capaz de estabelecer a vida como sua esfera de existência.

 

O homem inventa o arco e a flecha para não ter que passar o resto da vida correndo sem parar atrás da comida. Ele precisa cantar, dançar, brincar, conversar, inventar, imaginar, pensar, em suma, ele precisa transformar o mundo de maneira que deixe de meramente sobreviver e passe a viver. Ele precisa fazer do mundo um lugar bonito, musical, gostoso e aconchegante onde ele não precise mais brigar por comida, onde ele possa encontrar seus amigos e mostrar para eles seus inventos, danças, músicas, pensamentos, brincadeiras e conhecer o que seus amigos têm de novo, para que, juntos, possam transformar novamente o mundo num lugar onde tudo isso possa se realizar.

 

No blog em que recolhi o exerto acima– Café Moçambique, alegam ser o texto anonimo. É claro que, como já iniciada na teoria marxista e em um monte de outras tantas, não deveria haver qualquer espanto, ou estranhase na leitura deste tipo de texto. Mas como não pensar no estado de prostração a que me confinei nos últimos tempos? Eu trabalho para viver, mas vem final de semana, vem feriado, vem férias e só o que quero é dormir?

Resolvi voltar a escrever. Nem que seja qualquer coisa. Q.U.A.L.Q.U.E.R C.O.I.S.A! Este cérebro, estas ansiedades, todas as trivialidades que esta caichola habitam necessitam voltar a serem registradas: preciso de uma prova cabal de que ainda estou viva... 

quarta-feira, 7 de abril de 2010

Da solidão necessária (e inevitável)


Há quem defenda que a condição humana é a da dependência em relação ao outro. A de nunca estar só. Mas, talvez em decorrência de tantas chuvas e de uma solidão eterna que em mim parece enraizar-se com o passar do tempo (quem sabe como o mato que prospera com a chuva), enxergo que grande parte de meus medos, covardias e erros venham da negação furiosa que opero para esquivarme de uma condição primeira: a solidão necessária da condição de existir. Não sei isso acomete a todos, mas acredito que, mesmo em parte, sim: quem nunca invejou de forma incestuosa as decisões alheias? Quem nunca sonhou com ter a seu serviço uma espécie de gênio que viesse aos ouvidos e lhe revelasse a escolha certa em uma situação difícil? Um gênio que lhe tomasse o corpo, como quem toma uma marionete e que o “fizesse fazer”? Somos absolutamente solitários em nossas decisões, em nossas responsabilidades e em nossas dores. Há a possibilidade de culparmos a outros, e os culpados podem mesmo existir. Porém, em uma reflexão sincera e franca junto ao travesseiro será difícil nos exirmimos de nossa cumplicidade a nossos algozes. A condição solitária fica ainda mais evidente se pensarmos em nossas dores. A quem confessar a raiva infantil e os desejos bobos que a provocou? A quem partilhar a amargura ainda doída do que tivemos de passar por cima? É claro que a “vaguidão” de tantas perguntas tem origem mesma na solidão do que tenho de guardar e que talvez contextualizasse melhor tanta inquietação.  Por outro lado, posso compartilhar o que ando a observar em mim e nos que vivem ao meu redor. O que anda a despertar o meu interesse, tanto em minhas atitudades, quanto nas atitudes de quem amo, ou mesmo de quem odeio, é o medo. Quantas paixões amputadas, violências, durezas, futilidades, passividade acompanham a sofreguidão de nos entregarmos as decisões alheias e paradoxalmente, em não admitirmos a dependencia que temos do amor alheio?  O medo que azeda tudo. Explico. Acredito que por não ser suportável a nossa condição solitária, amamos. Enquanto estamos junto ao ser amado, nos sentimos protegidos de nossa condição. Ao mesmo tempo, podemos ou, nos viciar nisso, e nos tornarmos “escravos do outro”, nos rebaixando inteiramente as suas vontades. O contrário também é possível e, a fim de demonstrarmos a nós mesmos nossa “racionalidade” e distanciamento, passamos a depreciar e ignorar o ser amado, ou a qualquer um que ouse expor nossas fragilidades. Um exemplo disso é o que acontecia quando ainda não era mãee e dizia que tinha medo de crianças. Isso porque, muitas delas, ao se depararem com minha deficiência, eram categóricas: “você é feia!”. Por muito tempo, creio, tive medo de acreditar nisso. Então, preferia manter-me distante a fim de não odiar-me. Com o tempo, essa questão foi se resolvendo em mim e consequentemente, perdi o medo dos pequenos. Embora reflexões exparsas e com pouca maturidade para descrever o que exatamente gostaria de escrever, nestes últimos meses ando a sentir o peso do que  chamo aqui de condição solitária da existência. Ser ou não ser dizia Shakeaspeare e ele tinha razão: decidir é realmente angustiante. Condição paradoxal a de apenas nos completarmos no outro e pelo outro e ao mesmo tempo sermos  os únicos a termos o leme de nossas decisões – dentro de um quadro de opções. A coragem em dizer sim e em dizer não às aproximações à subjetidade alheia. Aprender a diferenciar “estar só” e “ser só”.  Por esses dias, em conversa com meus botões, pensava em uma “mania feia” que insisto em repetir: contar tudo de minha vida de maneira descontrolada. Colocando de lado o caráter narcisico desta mania, percebi que expunha-me descontroladamento por algo além do que a necessidade de falar sobre mim. Não sou eu geralmente quem inícia assuntos em que a minha vida seja o tema princípal (ao menos não na maioria dos casos). Por algum motivo que desconheço, as pessoas com quem tenho contato têm uma curiosidade enorme sobre minha vida. Nada de mal até aí, se essas “curiosidades” não fossem geralmente invasivas e de intenções duvidosas. Geralmente estão a especular a “exoticidade” de minhas atitudades frente a minha condição de pessoa que tem deficiência – namorar, ter filho, sair à noite, etc. Mas o que eu realmente ando a me perguntar é o porquê eu tão solicitamente respondo em pormenores a esse tipo de interlocutor? Por que sinto-me tão impelida a prestar contas de minhas atitudes? A condição de existir é de solidão e eu acrescentaria, dentro de uma enorme contradição que não sei resolver, amor. Eu sou uma viciada da aprovação alheia. Um carência estranha que de fundo esconde uma enorme covardia em frustrar expectativas alheias são (ou assim acredito) alicerssam essa compulsividade em expor-me tão desprotegidamente.   Um dia, quem sabe, eu consiga resolver todas as contradições desse desabafo. Até lá, é ter paciência com a vida que, mal criada, opera suas  mudanças somente a conta gotas...