Um pra lá e dois pra cá, meu pai ensinava. Ou tentava. Era começo
de 1997 e eu havia acabado de pedir ao meu pai se ele poderia pagar a minha
formatura da oitava série. Para mim, um evento importantíssimo. Para o meu pai,
caro. Então, vendo meu semblante cinza diante da incerteza de sua resposta,
pegou-me pelos braços, a distrair-me, e começou: “um pra lá e dois pra cá, tem
que saber dançar valsa..”
Um ano depois ele se foi, não houve formatura.
Gabriel e eu as vezes dançamos juntos. Ele fez teatro no Circo Escola e sabe dançar
bem. Danças de roda, dança de rua, danças de crianças. Liguei a música e o
convidei a dançar. Para minha surpresa, ele havia aprendido na escola – embora
não soubesse o nome ...
- Mãe, é um passo grande pra lá e agora dois.
A mãe era a filha. Duas pontas em um nó do Tempo.
Eu não aprendi a valsar ainda. Nem a ser mãe por completo:
eu as vezes sou a filha aprendendo a dançar valsa. Só que agora, do começo.