Já era noite e aquela semana parecia um mau presságio.
Cansaço, trabalho, menstruação, dispensa da babá, falta de dinheiro... Faltas e
excessos. Irritada, queria dormir, queria que o dia acabasse logo. Pedia ao
pequeno para, dessa vez, “não enrolar”.
Segurava para ignorar seu choro, que também estava cansado, segurava para
ignorar a fome enquanto o esperava comer, segurava para ignorar o que os
apartava – há tanto tempo... Colocado o pijama ao seu lado na cama, fora
banhar-se. Ao retornar, o menino ainda nu, a dormir: “só para dar trabalho, não
é possível!”. Não segurou-se dessa vez (devia). Tentava acordá-lo à força,
vestiu-o cravando as unhas, suas duas unhas, em sua inocente pele. Tudo sem resultado,
ainda dormia. “Chinelou-lhe” o bumbum com uma de suas pantufas almofadadas. Já
com frio (havia tirado a toalha que o cobria), acordou. E chorava. Dormia, vestia-se
e chorava. Menos pela grosseria da mãe, que pelo frio e pelo sono em estar nu
em uma noite de inverno. O choro deveria comover, mas segurava. E repetia: “Era
só vestir uma roupa!” “Uma maldita roupa!” “O caralho de uma roupa!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!”
Parou.
E o abraçou forte.
Mesmo com o pequeno ainda dormindo, iniciou uma nova repetição:
“Desculpa, filho, desculpa...” Terminou
de vesti-lo já delicadamente, apagou a
luz. (Apagada a raiva, o sentido do mundo esclarecendo a noite). E o beijou. Muitas vezes, muitas vezes, muitas vezes...
Sua pele úmida molhava o rosto do pequeno, que já ressonava tranquilo. No outro
dia, a pergunta: “você lembra da mamãe brigando com você ontem a noite?” – Não,
mãe, você brigou porquê? “Porque... porque...”.
Não sabe se Deus existe, mas desconfia que algumas preces
são atendidas.
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