segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

Não me olhes


Não me olhes
em segredo
escaldada de desejo,
nem fazei
de meus mistérios
pureza e desmazelo,
não me olhes,
não me olhes...

Não busquei em mim
a infantil divina santa
para sempre
no altar atarracada
e do gozo e da sanha,
angélico verniz,
senil empalhada,
sem minhas asas
assim não me olhes,
nem me olhes.

Não me olhes
em adoração
ouro e romarias,
em um pássaro aleijado esculpida,
da beleza mundana
lisura remendada
da dor e casta  
estátua imolada,
não me olhes,
não me olhes.

Não me olhes
em bravura
de meu sexo decepada,
não me olhes qual flor plastificada,
destino asséptico
textura aguada
insossa e inodora
eu não quero!
não me olhes,
não me olhes!

Olhes-me, sim,
em meus defeitos e delicias
lascívias ternuras
queimar a sacristia,
olhes-me
no gozo de um querer-me  incompleta
Olhes-me assim,
e assim me proves.
E assim me proves!

E do azedo
procures  
minha doce fundura
e  em minhas faltas
descubra-me
a rosa e a carne crua,
não só me olhes,
não só me olhes...

Nem me admires
em angelicalidades,
que as asas eu mantive
por artificie veleidade,
e tão-somente para
em suas mãos
meu ninho aninhar-se
não me admires
nem só me olhes
nem só me olhes.

sem mil toques
e seus dedos,
sem seus pelos
em meus seios
não me olhes,
sem mil toques
cem mil toques,
nem me olhes,
não me olhes.

sem querer-me em meus anseios,
sem deslizar-se
pelas frechas
o seu eixo
não me olhes,
se não me toques,
não me olhes,
se não mil toques, 
não me olhes,
não me olhes...

Só me olhes,
se me proves,
nem me olhes,
se não me proves,

Sós, mil toques,
a sós
me toques

em seus toques,
nunca só me olhes,
se a sós
em mim não me toques.
Não só me olhes,
não só me olhes!

Só me olhes,
se me proves,
a sós me olhes
e me proves,
a sós me olhes
a sós me proves,
não só me olhes,
não só me olhes...

segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

Escarros

Dois poemas ruins, mas que sinto, necessários:


Eu
cerco-te de palavras,
perfumes,
segredos,
e sopros,
o desejo enredo
no vermelho
e seus lábios
E você,
nada.

Em um dia besta de chuva,
você em seu carro
molha-me inteira.

Que pena!
Tantas
palavras, perfumes, metáforas,
e você é
apenas
um idiota.   

Caso a frase fosse invertida,
talvez,
um brinde:
o gozo.
Porém,
ainda sim,
um idiota
e nada.

...

Nem poeta, nem poetiza,
poetinha Cretina
de uma única rima,
de uma única lira,
poesia vadia!
(que adora rimar em ão:
a vida é um vão
e você é um c... ão)

Sem vergonha
do poema
deliciosa putinha
na dor e no gozo
de cada linha
a morte
somente
minha!


delira
dor íntima
a poesia
de lira
(só minha! só minha!)

na morte
e na linha
a vida
só minha, só minha...

sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

Das iniciações


Tomávamos chá com bolacha maisena. Você ensinou-me a molhar a bolacha no chá. Agora, só, eu molho meu rosto, enquanto ouço, a sua voz mergulhada em meu silêncio.