sábado, 3 de dezembro de 2016

Semente vermelha

O horário
O salário
O atraso
O filho
O cansaço
A esposa
As regras
O cigarro
A nicotina
A secura
do peito
O rio retesado
Um pouco acima do pulmão

O prédio não era tão alto
O salto
A rigidez que encenava
em vermelho desfeita
escrita em silêncio
no chão

Era água
80% água
Água e sal
As regras lhe proibiam o que era doce
A cidade tão grande
A São Paulo tão grande
Tanta água…
para o Nordeste não
Parecia tão seco
Parecia o patrão do filho
Eu nem ia muito com a cara dele
Quantos de nós
Encobrimos as rachaduras
Da represa que contemos
Sedentos
Por fora secos
Quanto erro!

E o que era seco?
Parecia seco
Agora água e vermelho
Tantas regras
Homem duro
Agora água
Voo do prédio
O nado
para fora da secura
Homem duro?
água ao chão
(não era com a terra o seu encontro
a queda da semente
agora água o rosto finalmente
e molha
o concreto
quase impermeável
da cidade)