terça-feira, 10 de fevereiro de 2015

Anúncio Urgente

Eu tenho uma máquina de fazer vazios
Como quem tem uma máquina de encher balões
Só que além
Ela produz o vazio dos balões
e os salões pendurados
em repetidos festejos
Engenhosidade de precisão
Cálculo exato, eficaz e eficiente.
A programação de um nervo latente
Quanto mais fins de festa realizados
Mais vazios alcançados
Não é possível viver sem a festa,
Como também
Não é possível morar em uma.
(“a ansiedade é a prima histérica da esperança”)

Eu tenho uma máquina de fazer vazios.
Nela, produzo vultos sem rosto
Mãos sem toque
Apegos sem aferro
Razão sem sentimentos
Jantares enlatados “Como foi seu dia?”
Automáticos ou adiados
e ainda mãos-dadas já decepadas
sair da cama engolir café
de sal engasgar-se
bom dia, até logo
facebook twitter whatsapp foi só sexo fingir ignorar sufocar
(e o “amor não é sexualmente transmissível”?)

E os vazios se reproduzem
Induzem
Na rapidez a ilusão de liberdade
Na quantidade a sensação de sensibilidade
(“o dominante é dominado pela dominância” e o resistente é endurecido pela resistência 3X1)

O medo do medo
O sólido em líquido
Amores liquefeitos
(contra o capitalismo Consumir “amores líquidos” Liberar-esmos?)
E anoréxicos lambem o copo
Para manterem a forma do verão
Ressequidos para sempre
Mas preservados In memória
E empalhados

Eu tenho uma máquina de fazer vazios
E viciada pela máquina
(e pelo medo)
Fujo sempre antes do amanhecer
Dos intervalos
Quase-afagos
Fluidos evaporados
Sopro do peito
Quase-amores
Ensaiar a vida
Sem nunca apresentar meu espetáculo
seu movimento apenas
Fetos de afetos Abortados

Eu tenho uma máquina de fazer vazios
De combustível bem alimentada.
Perfeito funcionamento
Excelente estado.
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Infinita de ecos
Sinfonia de retidos
eu
Agora
A máquina
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À venda. Obrigada.