segunda-feira, 26 de julho de 2010

A confusa Senhorita D.

Olá querido diário, a quantas anda?

A esta que vos escreve as coisas não andam, tropeçam. Mil coisas a dizer e ainda sim, não saber como. E o que me trouxe aqui hoje? Uma enorme necessidade de dispersão.

Após três longos meses da creche de meu filho em greve, dívidas, dúvidas, trabalho, estágio da faculdade e toda sorte de imprevistos, heis que volto à arena: desisti de organizar minhas deslumbrações. Por esse período, passaram em meu socorro, ou para me apunhalar de vez, as leituras de Hilda Hilst, a obscena Senhora D. (duas vezes) , e no momento, o diário de Anais Nin, Henry e June. O que isto tem a ver?  Que coinscidentemente, ou como se diz por aí, por fraqueza de espírito, nunca estive tão próxima da sensação de me ver em espelho enquanto lia um livro. Em especial, pelo primeiro. Senhora D, de derrelição, desamparo, é um dos livros mais fortes que li em toda minha vida.

Quem sabe por ter sido um período de inferno astral (rsrs!) a sensação de desamparo descrita no livro e vivida em meus dias acasalaram-se como dois amantes. Assim como a protagonista, a Senhora D, o mundo parece ter adquirido dimensões infinitas, esmagadoras, e eu tão pequena a divagar por  locais que não me pertecem. Uma eterna estrangeira em terra própria.

Algo em mim está em grande mudança e só o que sei é que dói.  Espero que seja uma dor necessária.

O que acontece é que de uma hora pra outra eu me sinto uma hóspede do mundo, uma desterrada nata. Maltida reflexão a esfregar em minha fuça a casa onde sou a inquilina indesejada, o trabalho alheio ao meu conhecimento, o lazer fugitivo.  A faculdade em que sou um incomôdo, o Sindicato que despreza minhas necessidades, a Universidade a quem crê que me fazer benevolência. A família cuidando de sua vida. Na época, um amor que só cuidava de si (algo que enfim mudou).  A melhor amiga do outro lado do Oceano,  a outra do do outro lado da cidade, casada. No meio disso tudo, o filho, as contas, todas as más noticias dos jornais.

Lembranças....Meus país e eu passamos toda minha infância e juventude morando nos cômodos da frente da casa de minha avó paterna. Coisas boas - vó a todo momento a cuidar de mim - coisas ruins - vó a todo momento se interferindo no casamento de meus país - o fato é que parece que em mim criou-se um sentimento crônico de “estar incomodando”. Ainda é fresco em minha memória a frase tantas vezes repetida: vocês moram aqui de favor e nem sequer pagam IPTU.  Com o nascimento de Gabriel, tornei-me novamente uma “devedora de IPTU”: “você poderia deixar seu filho com sua mãe”. Isso foi o que as assistentes sociais disseram em “meu apoio” assim que minhas necessidades tornaram-se incomôdas.

 Debati, bati e endureci. Mas não o suficiente, eu sei.

Acumulo. Aos poucos vejo um quadro com somas, de todos os lados e, em todas as situações, a minha fraqueza. O jogar na cara de minha mãe em pegar o Gabriel a cada 15 dias (não mais!), o favor da babá em cuidar dele. O favor de o Sintusp ter “lutado” pela creche a qual ele fecha por três meses todos os anos. O favor do namorado em conviver com minha ausência. 

Favores, sempre a dever favores...E aquela sensação de que não importava o quanto pague, enquanto eu depender  de qualquer favor, ou mesmo serviço, ainda sim serei cobrada. Mas é impossível estar só o tempo todo. Limites. Como impor limites do alto de meus castelos de areia?

Total geral dos últimos meses: desamparo.

Total parcial: Preciso urgentimente aprender a ser só com os outros. E a ser feliz assim.

Total inicial: Enquanto não sair deste novelo de medos em que me enredei, não haverá ninguém que ouvirá tudo o que tenho a dizer e o pior: não conseguirei me mover.   Talvez também seja necessário admitir que preciso de ajuda para isso.

Sim, sim, está tudo muito vago. Deixa assim! Já, já organizo!