sexta-feira, 31 de agosto de 2012

Asas

Eu, aqui, nessa cadeira

olhos 

à tela,

paródia de infinito.

Distraio-me

e, por um instante, 

percebo nessa caixa morte-vida de pandora

o meu reflexo difuso 

misturado 

à janela, às arvores, aos pássaros 

ao voo...


Eu, aqui, nessa cadeira.


Tenho os pés palmilhados de estrelas

e pegadas que arrastam cicatrizes solares e tatuagens lunares de todos os meus afetos.

Dizem que isso não importa,

que meus pés são mancos,

que estrelas são objetos sem valor,

e o mais feio em mim são essas cicatrizes e essas tatuagens, 

vulgares.


Desconfio.


Eu, aqui, nessa cadeira.

De pés que não tocam o chão.

Eu, aqui, nessa cadeira.

Pés amarrados.


Enquanto. 


Cicatrizes, tatuagens e estrelas esvoaçam à minha cabeça

Nela fazem ninho 

anárquico,

desviam o olhar da tela, 

e eu, aqui, nessa cadeira

vejo o reflexo da janela,

que é a janela

e o voo

que é o Voo

De asas tatuadas 

cicatrizes minhas.


Eu, aqui, nessa cadeira,

sonho o sonho do voo

coisa vulgar, mas ainda,

um Voo. 

segunda-feira, 20 de agosto de 2012

A Descida

Rating:
Category:Books
Genre: Other
Author:MSM - Movimento dos Sem Mundo
Ninguém tem o direito de obedecer
O objeto chora, mas o pesquisador não vê as lágrimas

http://atoa.net.br/descida.pdf

domingo, 12 de agosto de 2012

Plagios íntimos

Teoricamente, este espaço deveria ser apenas a coisas escritas por mim.
E já li muitos textos os quais falam sobre o que sinto, com tamanha intimidade, que, quase poderia assiná-los. Mas o texto que coloco abaixo, em especial, além da inveja de não tê-lo escrito, fala sobre mim e de uma maneira tão íntima,  que me senti plagiada...rsrs!

"Odalisca andróide

Eu estou sempre aqui, olhando pela janela. Não vejo arranhões no céu nem discos voadores.
Os céus estão explorados, mas vazios. Existe um biombo de ossos perto daqui. Eu acho que estou meio sangrando. Eu já sei, não prec
isa me dizer. Eu sou um fragmento gótico. Eu sou um castelo projetado. Eu sou um slide no meio do deserto. Eu sempre quis ser isso mesmo. Uma adolescente nua, que nunca viu discos voadores, e que acaba capturada por um trovador de fala cinematográfica. Eu sempre quis isso mesmo: armar hieróglifos com pedaços de tudo, restos de filmes, gestos de rua, gravações de rádio, fragmentos de tv.
Mas eu sei que os meus lábios são transmutação de alguma coisa planetária. Quando eu beijo eu improviso mundos molhados. Aciono gametas guardados. Eu sou a transmutação de alguma coisa eletrônica. Uma notícia de saturno esquecida, uma pulseira de temperaturas, um manequim mutilado, uma odalisca andróide que tinha uma grande dor, que improvisou com restos de cinema e com seu amor, um disco voador. 

Fragmentos do texto Disco Voador do Fausto Fawcett

quarta-feira, 8 de agosto de 2012

Poema da eternidade sem visceras

Rating:★★★★★
Category:Books
Genre: Arts & Photography
Author: Roberto Piva
Na última lua eu odiava as montanhas
minha memória quebrada não pode receber
o amor
eu tomava sopa aguardando meus amigos desordeiros
no outro lado da noite
este é o meu estranho emprego este mês
outro tempo quando o velho Gide se despachava para a África
meu coração era sólido eu dançava
eu assistia uma guerra de chapéus e as brancas
lacerações dos garotos no Ibirapuera angélico
terreno vazio onde eu mastigava tabletes de
chocolate branco
no próximo instante eu vi árvores e aeroplanos com bigodes
e lágrimas de Ouro
no Ibirapuera esta noite eu perdi minha solidão
ROBERTO PIVA TRANSFERIDO PARA REPARO DE VÍSCERAS
todos os meus sonhos são reais oh milagres epifanias
do crânio e do amor sem salvação que eu sabia presos
no topo da minha alma
meu esqueleto brilhava na escuridão
repleto de drogas
eu nunca estou satisfeito e ando um incorrigível demônio
lunático com os dez dedos roídos tamborilando num campo
magnético
memória do arsênico que eu dei a uma pomba
os olhos cinzentos do céu meu oculto Totem espiritual



Roberto Piva nasceu em São Paulo no dia 25 de setembro de 1937. Poeta ligado aos marginais dos anos 60, esteve na Antologia dos Novíssimos de Massao Ohno em 1961 e em 26 poetas hoje de Heloisa Buarque de Holanda. Foi professor na rede de ensino público, produtor de shows de rock e é um dos três únicos poetas brasileiros a ser citado no Dicionário Geral do Surrealismo publicado na França.

segunda-feira, 6 de agosto de 2012

LouCura

O emplastro necessário


trepar em pé


e foder com a solidão


por anônimas mãos 


pirataria de amor


mais que perdoada.

sexta-feira, 3 de agosto de 2012

Botões

E aí graças a Deus...

Quer dizer, Deus é um filho da puta! Tá! Nem sempre. 

-       Bom, pra você que acredita na presença dele...

Na realidade, Deus é os meus botões.