Eu, aqui, nessa cadeira
olhos
à tela,
paródia de infinito.
Distraio-me
e, por um instante,
percebo nessa caixa morte-vida de pandora
o meu reflexo difuso
misturado
à janela, às arvores, aos pássaros
ao voo...
Eu, aqui, nessa cadeira.
Tenho os pés palmilhados de estrelas
e pegadas que arrastam cicatrizes solares e tatuagens lunares de todos os meus afetos.
Dizem que isso não importa,
que meus pés são mancos,
que estrelas são objetos sem valor,
e o mais feio em mim são essas cicatrizes e essas tatuagens,
vulgares.
Desconfio.
Eu, aqui, nessa cadeira.
De pés que não tocam o chão.
Eu, aqui, nessa cadeira.
Pés amarrados.
Enquanto.
Cicatrizes, tatuagens e estrelas esvoaçam à minha cabeça
Nela fazem ninho
anárquico,
desviam o olhar da tela,
e eu, aqui, nessa cadeira
vejo o reflexo da janela,
que é a janela
e o voo
que é o Voo
De asas tatuadas
cicatrizes minhas.
Eu, aqui, nessa cadeira,
sonho o sonho do voo
coisa vulgar, mas ainda,
um Voo.