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quinta-feira, 20 de agosto de 2020

Ancestralidade

Eu apenas planto sementes.

Coloco num vaso de terra, aguo e espero.
Nenhuma das sementes que plantei nasceram.
Nenhuma.
O vaso parece só conter terra há meses.
E por isso colocam coisas por cima dele.
Jogam bitucas de cigarro.
Eu vou e retiro.
E molho.
Talvez o sal da água ainda faça a terra dali infértil.
Mas eu sei que um dia alguma das sementes naquela terra podem brotar.
E que se nenhuma das sementes que plantei brotarem, ao menos a terra estará fértil
para outras sementes
ou para alguma muda de planta.
A muda contará a todos sobre a herança que cultivei.
Ainda que ninguém escute.

quarta-feira, 6 de março de 2013

Bijuteria




Fazer clichês
até o fim
no fim-desejo
clichê de rasurar
alguém que seja.
Até o fim
o desejo esboço de
algo que seja
daquilo só de mim
que em você há
e te  tocar
pelo que só de mim em ti o
É
Fazer clichês e
apesar
e e-daí?
Eras e eras
mesmo que seja
não alcançar
(não te alcançar)
as mãos ao vento...
sopradas de lugares-comuns, palavras-trocados
mímicas,
bijuterias de mim

algo que seja
letra  e medíocre
e mãos desalento
que não se cansam
de rascunhar
algo
que Seja
um pedaço do que és
em mim
intraduzível
do início-desejo
de acariciar

algo que seja
pelo que
risca
em suas vísceras
algo que seja
algo que somos:

planto palavras ao papel à espera 
colher 
em seus olhos,
lembranças do meu silêncio, 
Tempestades semeadas à degustação de desavisados.

Ou para um copo d’agua na privada. 

quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

Boca Úmida


escorrer seus dedos
em licor ornado
em meu úmido desejo
lamber o Amor
em seus 
atos&atalhos

beijar seus palavrões em mim
baixinhos
 ao pé do ouvido
e chupar
o seu “caralho”
sentir Você
Sacana
o olhar direto
fodendo
em minha Chama
acender
os sisos e os tinos
gemer aos gritos
a sua boca suja
cortesia vulgar
delicadamente
ouvir
que comigo
“suavemente quer trepar”
compreender na pele
sua língua
sugar nesta
mais perfeita taça
os lábios tintos
a delicada nata
o sincero segredo rijo
purificar
as minhas ideias
já molhadas
em água santa
nos embriagar
e queimar os trajes,
as carnes e as frases

umedecer pelo fio
o novelo
descobrir a ponta
pelo fim
e pelo fio
sempre o começo

se enredar em linhas e enlaces
de cada nó
na morte
um cálice

nada mais quero
nada mais espero
do começo ao fim
único elo
o começo no fim
o infinito em meu meio 

nada mais
quero

segunda-feira, 6 de agosto de 2012

LouCura

O emplastro necessário


trepar em pé


e foder com a solidão


por anônimas mãos 


pirataria de amor


mais que perdoada.

segunda-feira, 16 de julho de 2012

MULHER 2

No farelo do espelho,

um corpo em retalhos,

no retrato esmigalhado,

entre cacos de reflexo, 

avisto, 

às avessas e embaçada,

nas frestas de meus olhos,

uma mulher.


À espreita,

inesperada mesmo de mim,

bicos de seios,

uns lábios lambuzados,

um dorso em segredo 

(desejo silenciado),


Eu. Mulher. 


Entre migalhas e reflexos,

cacos de desejos, 

e retalhos espelhados,

o olho vê

nas frestas de meu sexo,

pelos segredos de seus lábios,

no toque de meu dorso,

em seus olhos nos meus seios,

Eu, mulher.


Pela fresta de meu corpo,

no segredo de seu dorso,

Pelo bico de seu sexo,

e os olhos em desejo,

inesperada mesmo de mim,


nítida e alinhavada,

no avesso do avesso da vista,

uma menina morre. 


E uma mulher se olha ao espelho. 

domingo, 8 de julho de 2012

ESCULTURA

Os olhos, 

a marreta.

As mãos,

amarretas.

Escultora do próprio esculpir.  


Não ter ao certo se primeiro

são as mãos, ou os olhos.

Com as mãos, 

os olhos, 

com os olhos, 

o destroçar das linhas das mãos. 


Depois, 

redesenhar as torçuras abaixo da cintura:

o desalinho do Entre o Linho,

ninho e desejo,

o tropeço das pernas,

o  tombo dos pés, 

passos  em coreografia de criança, 

tortos telúricos labirintos de música silenciosa.


Por fim,

arrematar os olhos ao seu lugar:


Escultora cega, 

Escultura nua de mim.  

quarta-feira, 4 de julho de 2012

Embaraço no peito

A vida na berlinda.

Rima melindra,

síntese tímida,

do temor que não rima,

mas bate em meu peito.

 

No meu destino, mora um saci.  

sexta-feira, 29 de junho de 2012

Amar duras e doces

Eu sou a única heroína de minha solidão,

de meus amores.

 

E nem por serem de vento,

os meus moinhos,

doem menos.

 

Se a minha coragem é quixotiana,

ainda sim, é coragem.

 

As minhas lágrimas não são de vento.

E os meus moinhos, as vezes, também fazem gozo.

 

Você ri da minha armadura.

Mas a verdade é

estou nua.

quarta-feira, 13 de junho de 2012

Solo

Eu pensei em escrever sobre as coisas que sinto. Sobre carnes desformes e almas espelhadas em convexo . Sobre gritos que escorrem pelas mãos e que ninguém vê. Sobre ter a sombra aos pedaços e os medos inteiriços. Sobre isso de nunca enxergar-se. Sobre santificarem-te morta enquanto empalham-te viva. Sobre mover-se rio, enquanto todos são mar. Sobre mãos que envergonham-se de tocar e ainda sim tocam. Sobre um útero que ninguém via. Sobre uma vagina que fingi-me não ser. Sobre ser fera e bela em um mesmo corpo. Sobre ser agridoce. Pensei em citar nomes e guetos, e ícones, e músicas, e bantos, e batidas, e histórias de gentes minhas de outras gerações. E procurar alguma Angela Davis, algum dos Panteras Negras ou ler algum Craveirinha que finalmente nomeasse o que sou. Pensei. Não escrevi. Meu silêncio é solitário. Palavra em amnesia não enxerga.   


Carne que se fez linguagem. Eu sou dislexia. A minha carne não toca jazzes, nem blues, nem sambas, nem faz poemas . Terei de inaugurar este novo grito dos olhos.


segunda-feira, 11 de junho de 2012

Adagas

Faca de dois gumes,


eu beijo o espelho e ele não me corta.


O reflexo ali não é o meu.


Não me corta, mas me atravessa. 

quarta-feira, 30 de maio de 2012

Poesia vadia

Eu grito o meu gozo,

e choro o meu destino.

Se faz barulho o meu gemido

- Cala-se! És humana. Poesia não tem sexo!

Esquece-se, porém,

que humano

é o meu grito.

A minha dor

é ser mulher.

sexta-feira, 18 de maio de 2012

Tempo seco

Há tempos em que a gente

deserta

a alma seca

afluente por afluente 

as veias estanques e ainda sim abertas


Há tempos de desesperança

a cada passo pisado, a cada marca de pé no limo

a boca seca 

a tentação de enfiar goela a baixo

o que resta de lama úmida

ilusão de um gole de água.


Eu tenho uma colcha em flagelos 

farelos

sonhos 

a ponta da meada já esquecida do nó de seu enredo


Mas encosto aos lábios um pouco de barro

e em cada veia de meus áridos córregos

o sangue a insistir na procura de velhas vias

nascentes não cicatrizadas 

distraído nos rodilhos de seus enleios


A colcha segue  

esburacos

A secura segue 

o redesenho de seus veios

E o meu destino segue 

o corte

no embaraço de um o fio úmido 

o corpo segue 

a vida

alma 

abaixo

o seio em torções

coxeia

labirinto

gauche 

alumbramentos

de uma enxurrada de pontas

as linhas em gotejo.  

quinta-feira, 26 de abril de 2012

Aguâncias

II

No início

 o horizonte

belo e distante

nítido

como a luz e a escuridão

os contornos cheios de certeza

o coração sempre em linha reta

***

Depois

A  vida em enxurrada

fecundação

em meu útero

a fórceps

este estado de mulher

E então

os sonhos nublados

os desejos 

desde ali

borrões

  ***

Choveu

Placentas inteiras

encharcaram-me todas as certezas

mofações fertilizadas

um dilúvio

a terra abrindo-me com os dentes

exigindo o seu retorno ao meu ventre

um parto ao avesso

contrações eternas  

abortanças compulsórias

um rastro de ilusões pelo caminho

  *** 

agora

apenas

acalentar as frustrações

para que não acordem.

sábado, 31 de março de 2012

Poesia contra o asfalto

Valorosos de suas dezenas de vãs reuniões. Silêncio às crianças. Paz na terra aos hábeis vomitadores de vazia verborragia em verniz de Power Point. A ordem do dia é sentir-se sempre ocupado. Em infantis leituras demagógicas e o tempo preenchido de nulidades. Cronicamente atrasados ao próximo indispensável compromisso com o nada. Heróis de sua servidão. Os saudemos! Que os segundos passam! E a morte está à espreita. E já noticiaram mais um ego caído em um banheiro trancado.

Corações de pinto molhado. Um insulto bem dado, um elogio escasso e a mediocridade à tona na privada. Merda voltando  após uma descarga mal dada.  E agradeça a deus pelas fezes de cada dia. Antes cheios de bosta a prazo ao desconforto da privada vazia.

 Os minutos escassos. As idéias esparsas. As horas sempre ao alheio. Normais em sua esquizofrenia diária, o importante é não vagabundear. E se fraquejar, ir à farmácia com a velha fórmula do se compadeça de si e odeie aos que não invejam seu ordenado e seu lamento.

Mas chegou a hora da flor contra o concreto.

Só aceitar a realidade no que for poesia.      

quarta-feira, 28 de março de 2012

A chegada

Em rendas e cambraias

Pó de arroz

batom vermelho

um cigarro a tira colo

Eu o espero

 

 Na bolsa

Sedosidades

E espinhos

Já com meu sangue espetado

Um ovário e seus rosários

Minhas doloridades

Suspensas em fios da memória

Eu o espero

 

Separado deixo

Em um lenço de  cetim

Um filme do  Win Wenders

Poesias pontiagudas

Meu afeto

para todo o sempre

Eu o espero

 

Cuido a ti

em meus seios

o Amor nu

os lábios despidos

as palavras rubras

a carne quente e crua

Eu o espero

 

E para que não encontres tudo muito assentado

Deixo também à mão

Umas cusparadas na cara

A louça suja

Chulas especiarias e excrescências...

A casca de ferida

Sempre aberta no coração

Eu o espero

 

Fiz uma carta

e uns doces

para o dia em que chegares

coloquei

o de mais sem valor que pode houver nessa vida

umas poesias de mulher

umas docilidades gratuitas

aquela geléia de fruta barata

um par de chinelos velhos

um cachorro vira-latas

um misterioso gato alegre

as mais raras pedrinhas sujas de meu filho

uns tatus bola enlamados

vagalumes para suas noites de calor

O cheiro dessa chuva...

Eu o espero

 

Na terra arrumei a nossa cama

Com lençóis especialmente afeitos à  suores

A casa perfumada

Arroz-feijão-farofa

Beijo-café-com-leite

Tudo já iniciado

Eu o espero

 

Aos olhos

um bilhete afixado

Sobre o infinito nas janelas de seu rosto

da cronicidade de lacrimejâncias indolentes

de uma fase de terremotos sanguíneos

das lanças agudas

das faíscas estomacais

 

Desde já

meu corpo

o espera

 

Ao acontecimento

a pele em óleo de laranjeira

as ideias em jasmim

todas as tardes ensolaradas que couberem no infinito dO instante

uma máscara de colombina já com as lágrimas embutidas

e entre as pernas

Uma  Flor aberta em mel

 

 Assim

para sempre

eu o espero.

  

segunda-feira, 26 de março de 2012

Flor no Asfalto

Poesia tropeçada do pedestal


Poesia pedestre


Poesia manca


Sem título de dotô


Poesia cafezim de botequim


Poesia caixa de fósforo  de sambista


Poesia pedrinhas sujas das crianças


Poesia esterco no pé da hipocrisia


Poesia descabaçada 

(ando)


Poesia lambuzada


Poesia fodendo com o mundo


 


Poesia


Em primeira pessoa


Eu,


Tu,


Nós...


Em todas as


Pessoas


 


Sobe e desce


Poesia Trepa em tudo


 


Poesia compromisso primordial


Poesia-Pacto-celestial


Tema central de estadistas


Grito eufórico das torcidas


 


 


Comer poesia com arroz-feijão


Saborear Poesia com farofa


Poesia macarronada de domingo


Poesia churrasco na laje da Dona Maria


Poesia com gingado de pagode


Com ritmo de Rap


Poesia preferência nacional


 


Poesia cárie na boca do mendigo


Do velho


Do cozinheiro


Do porteiro


Do diplomata


Assepsia histérica do magnata


Poesia nascendo em pedra


Poesia Flor Rocha


No coração


dos trouxas


 


uma flor


outra flor


Todas as flores...


A FLOR!


Daninha do asfalto


Poesia contra o concreto.

sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

Folha.com - Blogs - Xico Sá

http://xicosa.folha.blog.uol.com.br/arch2011-12-04_2011-12-10.html#2011_12-07_16_23_14-161644940-0
Uma receita grega para aliviar a barra

A escrita de Xico pode ser sentida - nunca definida - entre o poético, o jornalistico,o "bloguistico" e o tom de uma conversa de mesa de bar com um grande proseador.