Eu apenas planto sementes.
quinta-feira, 20 de agosto de 2020
Ancestralidade
quarta-feira, 6 de março de 2013
Bijuteria
Fazer clichês
até o fim
no fim-desejo
clichê de rasurar
alguém que seja.
Até o fim
o desejo esboço de
algo que seja
daquilo só de mim
que em você há
e te tocar
pelo que só de mim em ti o
É
Fazer clichês e
apesar
e e-daí?
Eras e eras
mesmo que seja
não alcançar
(não te alcançar)
as mãos ao vento...
sopradas de lugares-comuns, palavras-trocados
mímicas,
bijuterias de mim
algo que seja
letra e medíocre
e mãos desalento
que não se cansam
de rascunhar
algo
que Seja
um pedaço do que és
em mim
intraduzível
do início-desejo
de acariciar
algo que seja
pelo que
risca
em suas vísceras
algo que seja
algo que somos:
planto palavras ao papel à espera
colher
em seus olhos,
lembranças do meu silêncio,
Tempestades semeadas à degustação de desavisados.
Ou para um copo d’agua na privada.
quarta-feira, 5 de dezembro de 2012
Boca Úmida
segunda-feira, 6 de agosto de 2012
LouCura
O emplastro necessário
trepar em pé
e foder com a solidão
por anônimas mãos
pirataria de amor
mais que perdoada.
segunda-feira, 16 de julho de 2012
MULHER 2
No farelo do espelho,
um corpo em retalhos,
no retrato esmigalhado,
entre cacos de reflexo,
avisto,
às avessas e embaçada,
nas frestas de meus olhos,
uma mulher.
À espreita,
inesperada mesmo de mim,
bicos de seios,
uns lábios lambuzados,
um dorso em segredo
(desejo silenciado),
Eu. Mulher.
Entre migalhas e reflexos,
cacos de desejos,
e retalhos espelhados,
o olho vê
nas frestas de meu sexo,
pelos segredos de seus lábios,
no toque de meu dorso,
em seus olhos nos meus seios,
Eu, mulher.
Pela fresta de meu corpo,
no segredo de seu dorso,
Pelo bico de seu sexo,
e os olhos em desejo,
inesperada mesmo de mim,
nítida e alinhavada,
no avesso do avesso da vista,
uma menina morre.
E uma mulher se olha ao espelho.
domingo, 8 de julho de 2012
ESCULTURA
Os olhos,
a marreta.
As mãos,
amarretas.
Escultora do próprio esculpir.
Não ter ao certo se primeiro
são as mãos, ou os olhos.
Com as mãos,
os olhos,
com os olhos,
o destroçar das linhas das mãos.
Depois,
redesenhar as torçuras abaixo da cintura:
o desalinho do Entre o Linho,
ninho e desejo,
o tropeço das pernas,
o tombo dos pés,
passos em coreografia de criança,
tortos telúricos labirintos de música silenciosa.
Por fim,
arrematar os olhos ao seu lugar:
Escultora cega,
Escultura nua de mim.
quarta-feira, 4 de julho de 2012
Embaraço no peito
A vida na berlinda.
Rima melindra,
síntese tímida,
do temor que não rima,
mas bate em meu peito.
No meu destino, mora um saci.
sexta-feira, 29 de junho de 2012
Amar duras e doces
Eu sou a única heroína de minha solidão,
de meus amores.
E nem por serem de vento,
os meus moinhos,
doem menos.
Se a minha coragem é quixotiana,
ainda sim, é coragem.
As minhas lágrimas não são de vento.
E os meus moinhos, as vezes, também fazem gozo.
Você ri da minha armadura.
Mas a verdade é
estou nua.
quarta-feira, 13 de junho de 2012
Solo
Eu pensei em escrever sobre as coisas que sinto. Sobre carnes desformes e almas espelhadas em convexo . Sobre gritos que escorrem pelas mãos e que ninguém vê. Sobre ter a sombra aos pedaços e os medos inteiriços. Sobre isso de nunca enxergar-se. Sobre santificarem-te morta enquanto empalham-te viva. Sobre mover-se rio, enquanto todos são mar. Sobre mãos que envergonham-se de tocar e ainda sim tocam. Sobre um útero que ninguém via. Sobre uma vagina que fingi-me não ser. Sobre ser fera e bela em um mesmo corpo. Sobre ser agridoce. Pensei em citar nomes e guetos, e ícones, e músicas, e bantos, e batidas, e histórias de gentes minhas de outras gerações. E procurar alguma Angela Davis, algum dos Panteras Negras ou ler algum Craveirinha que finalmente nomeasse o que sou. Pensei. Não escrevi. Meu silêncio é solitário. Palavra em amnesia não enxerga.
Carne que se fez linguagem. Eu sou dislexia. A minha carne não toca jazzes, nem blues, nem sambas, nem faz poemas . Terei de inaugurar este novo grito dos olhos.
segunda-feira, 11 de junho de 2012
Adagas
Faca de dois gumes,
eu beijo o espelho e ele não me corta.
O reflexo ali não é o meu.
Não me corta, mas me atravessa.
quarta-feira, 30 de maio de 2012
Poesia vadia
Eu grito o meu gozo,
e choro o meu destino.
Se faz barulho o meu gemido
- Cala-se! És humana. Poesia não tem sexo!
Esquece-se, porém,
que humano
é o meu grito.
A minha dor
é ser mulher.
sexta-feira, 18 de maio de 2012
Tempo seco
Há tempos em que a gente
deserta
a alma seca
afluente por afluente
as veias estanques e ainda sim abertas
Há tempos de desesperança
a cada passo pisado, a cada marca de pé no limo
a boca seca
a tentação de enfiar goela a baixo
o que resta de lama úmida
ilusão de um gole de água.
Eu tenho uma colcha em flagelos
farelos
sonhos
a ponta da meada já esquecida do nó de seu enredo
Mas encosto aos lábios um pouco de barro
e em cada veia de meus áridos córregos
o sangue a insistir na procura de velhas vias
nascentes não cicatrizadas
distraído nos rodilhos de seus enleios
A colcha segue
esburacos
A secura segue
o redesenho de seus veios
E o meu destino segue
o corte
no embaraço de um o fio úmido
o corpo segue
a vida
alma
abaixo
o seio em torções
coxeia
labirinto
gauche
alumbramentos
de uma enxurrada de pontas
as linhas em gotejo.
quinta-feira, 26 de abril de 2012
Aguâncias
II
No início
o horizonte
belo e distante
nítido
como a luz e a escuridão
os contornos cheios de certeza
o coração sempre em linha reta
***
Depois
A vida em enxurrada
fecundação
em meu útero
a fórceps
este estado de mulher
E então
os sonhos nublados
os desejos
desde ali
borrões
***
Choveu
Placentas inteiras
encharcaram-me todas as certezas
mofações fertilizadas
um dilúvio
a terra abrindo-me com os dentes
exigindo o seu retorno ao meu ventre
um parto ao avesso
contrações eternas
abortanças compulsórias
um rastro de ilusões pelo caminho
***
agora
apenas
acalentar as frustrações
para que não acordem.
sábado, 31 de março de 2012
Poesia contra o asfalto
Valorosos de suas dezenas de vãs reuniões. Silêncio às crianças. Paz na terra aos hábeis vomitadores de vazia verborragia em verniz de Power Point. A ordem do dia é sentir-se sempre ocupado. Em infantis leituras demagógicas e o tempo preenchido de nulidades. Cronicamente atrasados ao próximo indispensável compromisso com o nada. Heróis de sua servidão. Os saudemos! Que os segundos passam! E a morte está à espreita. E já noticiaram mais um ego caído em um banheiro trancado.
Corações de pinto molhado. Um insulto bem dado, um elogio escasso e a mediocridade à tona na privada. Merda voltando após uma descarga mal dada. E agradeça a deus pelas fezes de cada dia. Antes cheios de bosta a prazo ao desconforto da privada vazia.
Os minutos escassos. As idéias esparsas. As horas sempre ao alheio. Normais em sua esquizofrenia diária, o importante é não vagabundear. E se fraquejar, ir à farmácia com a velha fórmula do se compadeça de si e odeie aos que não invejam seu ordenado e seu lamento.
Mas chegou a hora da flor contra o concreto.
Só aceitar a realidade no que for poesia.
quarta-feira, 28 de março de 2012
A chegada
Em rendas e cambraias
Pó de arroz
batom vermelho
um cigarro a tira colo
Eu o espero
Na bolsa
Sedosidades
E espinhos
Já com meu sangue espetado
Um ovário e seus rosários
Minhas doloridades
Suspensas em fios da memória
Eu o espero
Separado deixo
Em um lenço de cetim
Um filme do Win Wenders
Poesias pontiagudas
Meu afeto
para todo o sempre
Eu o espero
Cuido a ti
em meus seios
o Amor nu
os lábios despidos
as palavras rubras
a carne quente e crua
Eu o espero
E para que não encontres tudo muito assentado
Deixo também à mão
Umas cusparadas na cara
A louça suja
Chulas especiarias e excrescências...
A casca de ferida
Sempre aberta no coração
Eu o espero
Fiz uma carta
e uns doces
para o dia em que chegares
coloquei
o de mais sem valor que pode houver nessa vida
umas poesias de mulher
umas docilidades gratuitas
aquela geléia de fruta barata
um par de chinelos velhos
um cachorro vira-latas
um misterioso gato alegre
as mais raras pedrinhas sujas de meu filho
uns tatus bola enlamados
vagalumes para suas noites de calor
O cheiro dessa chuva...
Eu o espero
Na terra arrumei a nossa cama
Com lençóis especialmente afeitos à suores
A casa perfumada
Arroz-feijão-farofa
Beijo-café-com-leite
Tudo já iniciado
Eu o espero
Aos olhos
um bilhete afixado
Sobre o infinito nas janelas de seu rosto
da cronicidade de lacrimejâncias indolentes
de uma fase de terremotos sanguíneos
das lanças agudas
das faíscas estomacais
Desde já
meu corpo
o espera
Ao acontecimento
a pele em óleo de laranjeira
as ideias em jasmim
todas as tardes ensolaradas que couberem no infinito dO instante
uma máscara de colombina já com as lágrimas embutidas
e entre as pernas
Uma Flor aberta em mel
Assim
para sempre
eu o espero.
segunda-feira, 26 de março de 2012
Flor no Asfalto
Poesia tropeçada do pedestal
Poesia pedestre
Poesia manca
Sem título de dotô
Poesia cafezim de botequim
Poesia caixa de fósforo de sambista
Poesia pedrinhas sujas das crianças
Poesia esterco no pé da hipocrisia
Poesia descabaçada
(ando)
Poesia lambuzada
Poesia fodendo com o mundo
Poesia
Em primeira pessoa
Eu,
Tu,
Nós...
Em todas as
Pessoas
Sobe e desce
Poesia Trepa em tudo
Poesia compromisso primordial
Poesia-Pacto-celestial
Tema central de estadistas
Grito eufórico das torcidas
Comer poesia com arroz-feijão
Saborear Poesia com farofa
Poesia macarronada de domingo
Poesia churrasco na laje da Dona Maria
Poesia com gingado de pagode
Com ritmo de Rap
Poesia preferência nacional
Poesia cárie na boca do mendigo
Do velho
Do cozinheiro
Do porteiro
Do diplomata
Assepsia histérica do magnata
Poesia nascendo em pedra
Poesia Flor Rocha
No coração
dos trouxas
uma flor
outra flor
Todas as flores...
A FLOR!
Daninha do asfalto
Poesia contra o concreto.
quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012
sexta-feira, 9 de dezembro de 2011
Folha.com - Blogs - Xico Sá
Uma receita grega para aliviar a barra
A escrita de Xico pode ser sentida - nunca definida - entre o poético, o jornalistico,o "bloguistico" e o tom de uma conversa de mesa de bar com um grande proseador.