terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Diálogos com Gabriel

"Lei não, mãe. É uma regra. Não é uma lei. 
Mamãe, não gosto de Leis. Não gosto quando usa essa palavra Lei."
Comentário feito por meu filho, Gabriel Antonio, cinco anos, enquanto jogávamos o jogo do palito.
...

Mãe com o chinelo na mão, puta da vida, pois o filho não dorme nunca.
- Mãe, você não sabe que não é assim que se resolve as coisas? Que as pessoas têm de conversar para resolver os problemas?
- Mas eu já pedi muitas vezes e...
- Mãe, sem conversa não dá para resolver nada. 
(Mãe morta de vergonha e tentando esconder o rosto embaixo das cobertas)

terça-feira, 24 de janeiro de 2012

E o que resta dos ombros

Um humilde diálogo com o poema de Drummond.

...

Os ombros


ainda suportam


O peso da mão de uma criança


Apagada


após o extermínio


Dos não pagadores de impostos


almas secas


sonham concretadas


as semelhanças entre São Paulo e Nova York


E os ombros,


agora quebrados,


continuam a suportar esse mundo .


Não se pode dizer o mesmo do coração.  

 ...

O poema com o qual dialogo:

Os Ombros Suportam o Mundo

Carlos Drummond de Andrade


Chega um tempo em que não se diz mais: meu Deus.
Tempo de absoluta depuração.
Tempo em que não se diz mais: meu amor.
Porque o amor resultou inútil.
E os olhos não choram.
 
E as mãos tecem apenas o rude trabalho.
E o coração está seco.


Em vão mulheres batem à porta, não abrirás.
Ficaste sozinho, a luz apagou-se,
mas na sombra teus olhos resplandecem enormes.
És todo certeza, já não sabes sofrer.
E nada esperas de teus amigos.


Pouco importa venha a velhice, que é a velhice?
Teu ombros suportam o mundo
e ele não pesa mais que a mão de uma criança.
 
As guerras, as fomes, as discussões dentro dos edifícios
provam apenas que a vida prossegue
e nem todos se libertaram ainda.
Alguns, achando bárbaro o espetáculo,
prefeririam (os delicados) morrer.
Chegou um tempo em que não adianta morrer.
Chegou um tempo em que a vida é uma ordem.
A vida apenas, sem mistificação.

 

sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

#11 BICA NA BOCA [1988]

Rating:
Category:Books
Genre: Literature & Fiction
Author:Glauco Mattoso

Aí, meu, e você que já nasceu pra ser pisado,
abandonado, carente, infrator,
calcula só se o cara que te deixa nesse estado,
aquele mesmo chamado de doutor,
tropeça e vem pro chão com todo o peso, estatelado,
que nem a bola no pé do jogador...
já pensou? ou ou ou ou ou ou
Sabor de gol!
Um chute só e você barbariza a dentadura!
Que dá vontade dá, nem cana dura te segura...
Tá lá!

Aí, meu, e você que trampa duro e tá mal pago,
contribuinte, freguês e eleitor,
calcula só se o cara que te deixa nesse estrago,
o tal de chefe, cacique, diretor,
cai do cavalo, escancara a perna e mostra o bago
na posição de quem já tá sentindo dor...
já pensou? ou ou ou ou ou ou
Sabor de gol!
Só um pisão e você estrela o ovo na fritura!
Que dá vontade dá, nem desemprego te segura...
Tá lá!

Aí, meu, e você que se diz bom rocabileiro,
que é bom de "Tutti Frutti", "Peggy Sue", "High School",
calcula só se um progressivo, um funky, um metaleiro,
ou desses monstros do brega, reggae ou soul,
der zebra e pendurar na beira do despenhadeiro
em frente ao teu pisante de camurça azul...
já pensou? ou ou ou ou ou ou
Sabor de gol!
É só um pontapezinho e o cara desce das altura!
Que dá vontade dá, nem a galera te segura...
Tá lá!

Fonte: http://glaucomattoso.sites.uol.com.br/marginais.htm

chupar-amar

A anus,

quente piscadela irônica,

mostra-lhe

a língua

enquanto

os lábios

chupam,

compassados,

o seu medo de amar

enquanto

trepas.