quarta-feira, 8 de abril de 2009

Quase dois sambas

A outra metade de meus textos...

Dois sambas e nenhuma melodia.

Sorry pela mediocridade das letras, mas não sou poeta e nem musicista. Apenas uma grande intrometida. Como diria o meu amor, em paráfrase a uma frase do texto de Raduan Nassar, uma lingüístazinha de merda.

Mas se não faço sambas bons, é que estou me guardando para quando o carnaval chegar... 

 

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Samba sem endereço

Meu nego diz que é branco

Que é quase carcamano

Que é da Leopoldina

E que na minha favelinha

Prefere nem pisar.

Meu nego que é branco

Que se acha carcamano

Despejado da mordomia

Diz que só se mudou lá da vilinha

Que é pra não entediar.

Meu branco diz que é preto

Mas que é preto do Bexiga

E que não se junta com gentinha

Que é pra não acostumar.

Meu nego não tem cama,

Não tem mesa, não tem grana

Mas diz com voz de galo empapado

Que não é em barraco alagado

Que ele há de me amar.

Meu nego não tem cor

Não tem diploma de dotô

Não tem beira, não tem eira

Não tem carro, nem cavalo

Mas diz que em endereço favelado

Ele não vai me procurar

O meu nego que não é preto

Nasceu num bairro de operário

Em épocas de glória foi proletário

Mas hoje acha de classe só palavrear

Meu nego fala bonito, Fala difícil

Diz que é branco letrado

E que não vai pro trabalho

Que é pra inteligência não gastar

Diz que é vagabundo de classe

Que pra favela só iria se o pagasse

Mas na hora do amorzinho

A favela não quer largar

O meu branco quer ser preto

Às vezes se acha o literato

E encarna o próprio Machado

Que de preto aos poucos passou a clarear

O branquinho que é o meu nego

Esnobou minha favela,

- Tem gente chucra e sem cultura!

É difícil de chegar

Mas esse branco que é meu nego

Que não banca e só faz trela

É apenas mais um desses malandros de subúrbio

Que de samba não quer gostar

O que o nego num percebe

É que o de menos é meu “CEPE”

Que a favela mora em mim

E o meu amor é feito assim

De samba sem hora e sem lugar

Ele é a minha favela fazendo batuque

E é feito no ritmo da cama fazendo compasso

Ele é o samba sonhando o terreiro em que vai tocar. 

 

 

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(Sem título)

 

Dizem por aí que sou muito é descarada, pois o corpo ainda nem esfriara

E eu tão logo viuvinha

Já me fiz faceirinha pro velório ir paquerar,

Mas o que todos não sabem

é que rancor de mulher traída

só se cura mesmo é com saia curta e com birita...

e mais ainda

com muita danação

Pois só eu sei quanta brasa engoli

Que da amante maldita à boca dele cuspia

as cinzas de nossa paixão

É que por um teco de cigarro, esse desgraçado,

quis me deixar no celibato

com lamento e sem pensão

E se foi.

Com a querida fedida

A traiçoeira, magrela e nem mesmo faceira,

E quem lhe era sempre a preferida

Ingrato! Ingrato!

Eu ali, queimando em paixão,

Trocada por um cinzeiro roubado!

Ingrato!

E o maravilhoso perfume

de nicotina!Da querida... fedida!

Fedida e barata,

que a todo tempo lhe escarrava a desgraça,

a asfixia de nossa canção.

Ingrato!

E agora, que suas brasas o consumiram,

Pois eu é quem pergunto a todos esses ditos amigos

Quem é que consumirá

As brasas que eu estava guardar

e o Amor que estava a lhe juntar, enquanto ele?

Tudo num cinzeiro a nos fumar!

Ingrato!

Há isso é que não há perdão!

E é por isso que eu afirmo

E em compasso de samba de viúva empoleirada

Que por chumbo trocado e cinzeiro derramado

Não se fica a chorar e não se reclama por limpar.