quinta-feira, 30 de agosto de 2007

A Happy Day

Olá querido diário...

Hoje estou mais otimista!!!

só para não desesperar quem leu o texto anterior...o cinismo me cai bem!

Musica e poesia em Cordel do Fogo Encantado e João Cabral de Melo Neto

Rating:★★★★★
Category:Music
Genre: Other
Artist:Cordel do Fogo Encantado
Ouvir tudo isso no playlist - Cordel do Fogo Encantado

Cordel Do Fogo Encantado - Dos Três Mal-amados Palavras De Joaquim

João Cabral de Melo Neto

O amor comeu meu nome, minha identidade, meu retrato
O amor comeu minha certidão de idade, minha
genealogia, meu endereço
O amor comeu meus cartões de visita, o amor veio e
comeu todos os papéis onde eu escrevera meu nome
O amor comeu minhas roupas, meus lenços e minhas
camisas
O amor comeu metros e metros de gravatas
O amor comeu a medida de meus trenós, o número de meus
sapatos, o tamanho de meus chapéus
O amor comeu minha altura, meu peso, a cor de meus
olhos e de meus cabelos
O amor comeu minha paz e minha guerra, meu dia e minha
noite, meu inverno e meu verão
Comeu meu silêncio, minha dor de cabeça, meu medo da
morte

Cordel Do Fogo Encantado - Jesus No Xadrêis

Chico Pedrosa

No tempo em que as estradas
Eram poucas no sertão
Tangerinos e boiadas
Cruzavam a região
Entre volante e cangaço
Quando a lei
Era a do braço
Do jagunço pau-mandado
Do coroné invasô
Dava-se no interiô
Esse caso inusitado

Quando o Palmeira das Antas
Pertencia ao capitão
Justino Bento da Cruz
Nunca faltô diversão
Vaquejada, canturia
Procissão e romaria
sexta-feira da paxão

Na quinta-feira maió
Dona Maria das Dores
No salão paroquial
Reuniu os moradores
Depois de uma preleção
Ao lado do capitão
Escalava a seleção
De atrizes e atores

Todo ano era um Jesus
Um Caifaz e um Pilatos
Só não mudavam a cruz
O verdugo e os maltratos

O Cristo daquele ano
Foi o Quincas Beija-flor
Caifaz foi Cipriano
Pilatos foi Nicanô

Duas cordas paralelas
Separavam a multidão
Pra que pudesse entre elas
Caminhar a procissão

Quincas conduzindo a cruz
Foi num foi adivirtia
O Cinturião perverso
Que com força lhe batia

Era pra bater maneiro
Bastião num intidia
Divido um grande pifão
Que tomou naquele dia
D'um vinho que o capelão
Guardava na sacristia

Cristo dizia:
- Ô rapais, vê se bate divagar
Já to todo incalombado
Assim num vô agüentar
Tá cá gota pra duer
Ou tu pára de bater
Ou a gente vai brigar
Jogo já essa cruis fora
Tô ficando aperriado
Vô morrê antes da hora
De ficar crucificado

O pior é que o malvado
Fingia que num ouvia
E além de bater com força
Ainda se divirtia
Espiava pra Jesus
Fazia pôco e dizia:
- Que Cristo frôxo é você?!
Que chora na procissão
Jesus, pelo que se sabe
Num era mole assim não
Eu to batendo com pena
Tu vai vê o que é bom
Na subida da ladeira
Da venda de Fenelom
O côro vai ser dobrado
Até chegar no mercado
A cuíca muda o tom

Naquele momento ouviu-se
Um grito na multidão
Era Quincas
Que com raiva
Sacudiu a cruz no chão
E partiu feito um maluco
Pra cima de Bastião
Se travaram no tabefe
Pontapé e cabeçada
Madalena levou queda
Pilatos levou pancada
Deram um cacete em Caifaz
Que até hoje num faz
Nem sente gosto de nada

Dismancharam a procissão
O cacete foi pesado
São Tumé levou um tranco
Que ficou desacordado
Acertaram um cocorote
Na careca de Timote
Que inté hoje é aluado

Inté mesmo São José
Que num é de confusão
Na ânsia de defender
Seu filho de criação
Aproveitou a garapa
Pra dar um monte de tapa
Na cara do bom ladrão

A briga só terminou
Quando o dotô delegado
Interviu e separô
Cada santo pro seu lado

Desde que o mundo se fez
Foi essa a primêra vez
Que Jesus foi pro xadrês
Mas num foi crucificado.

Cordel Do Fogo Encantado - O Cordel Estradeiro
Letra E Música: Lirinha
O Cordel Estradeiro
(Letra e música: Lirinha)

A bença Manoel Chudu
O meu cordel estradeiro
Vem lhe pedir permissão
Pra se tornar verdadeiro

Pra se tornar mensageiro
Da força do teu trovão
E as asas da tanajura
Fazer voar o sertão

Meu moxotó coroado
De xiquexique e ficheiro
Onde a cascavel cochila
Na boca do cangaceiro

Eu também sou cangaceiro
E o meu cordel estradeiro
É cascavel poderosa
É chuva que cai maneira
Aguando a terra quente
Erguendo um véu de poeira
Deixando a tarde cheirosa

É planta que cobre o chão
Na primeira trovoada
A noite que desce fria
Depois da tarde molhada

É seca desesperada
Rasgando o bucho do chão

É inverno e é verão

É canção de lavadeira
Peixeira de Lampião
As luzes do vaga-lume
Alpendre de casarão
A cuia do velho cego
Terreiro de amarração
O ramo da rezadeira
O banzo de fim de feira
Janela de caminhão

Vocês que estão no palácio
Venham ouvir meu pobre pinho
Não tem o cheiro do vinho
Das uvas frescas do Lácio
Mas tem a cor de Inácio
Da serra da Catingueira
Um cantador de primeira
Que nunca foi numa escola*

Pois meu verso é feito a foice
Do cassaco cortar cana
Sendo de cima pra baixo
Tanto corta como espana
Sendo de baixo pra cima
voa do cabo e se dana**

*Ivanildo Vilanova, fragmento de um improviso
**Manoel Chudu

terça-feira, 28 de agosto de 2007

Mantenho o título: Bom dia pessoa curiosa!

Olá querido diário, hoje...

E era assim que começava todos os textos de meus diários quando eu os tinha, em minha infância. Preguiçosa, exatamente como continuo a ser, raramente escrevia, o que, em parte, explica a minha péssima escrita de hoje e a dificuldade de interpretar e tornar interpretáveis os meus próprios sentimentos. Sim, porque entre muitas das ideologias que se nutrem dos poucos neurônios que dormem em meu cérebro é a de que tenho sentimentos. Kant já tentou me provar um pouco do mecanismo podre pelo qual nos excitamos com as coisas “belas” do mundo e nos decepcionamos com as “feias”, mas teimosa e vaidosa de minhas conclusões, insisto em continuar...sublimando tudo!

Mas não há como evitar. Talvez para me sentir mais confortável, prefira acreditar que não há como evitar alguns clichês: Para que estou nesse mundo? Poderei mudar alguma coisa desta merda toda? (Agora, a pergutinha sacana!) COMO?

Se me disser que nada disso tenha passado pela sua cabeça, eu categorizo de insensível, desumando, ou ainda, hipócrita, e mantenho, como sempre venho a fazer, a minha linda zona de conforto.

O tempo passa, a gente vive, a gente lê (quer dizer, eu leio...mas só as vezes!) e as nossas costas começam a doer. O mundo pesa! E sempre...cada vez mais. As perguntas começam a mudar, ou ainda, adicionamos novas perguntas, cada vez mais sacanas...e pessimistas: Se não posso mudar o mundo, poderei ao menos mudar minha comunidade? Se não posso mudar minha comunidade, poderei mudar ao menos a realidade das pessoas que convivo? Ao menos, das pessoas que amo? Ao menos a minha?! Pois é...olha o individualismo aí! Poderei salvar meu rabo?! Ou talvez não. Quem sabe a constatação de que não temos controle nem da realidade da única pessoa que se tem acesso e “controle” da mente e do corpo...a única...nós mesmos!

Sabes para que serviu todo o meu conhecimento de retórica, de teoria do texto e do caralho a quatro quando tentei convencer o pai do meu filho de que era irracional que não gostasse de seu próprio filho? Isso tudo é ideologia de intelectual idiota que acha que são as palavras que governam o mundo.

Muitos, aliás, a maioria, dos aristocratas da Idade Medieval e, pensando em Brasil, do período colonial até meados do século XIX, eram ANALFABETOS!!! E se argumentar que o conhecimento é transmitido também pela oralidade, dúvido que estes mesmos aristocratas discutissem qualquer coisa relativa a uma reflexão da situação social que os rodeava. Aliás...que situação social? E que tal argumentar essa: QUEM É QUE NO FINAL DAS CONTAS MANDAVA EM TUDO?

E a coisa não mudou tanto assim não! Apenas que agora sublimamos mais. E como boa pseudo-intelectual frustrada, engoli a soberba de meu discurso, converti todas as minhas idéias em um mar de sal e ateei tudo no jardim de minhas esperanças, agora um tanto quanto estéreis.

Mas, se estéreis, o porquê deste texto? Quem sabe para levantar o vôo do pássaro onírico descrito por Walter Benjamim. Assim como fez minha avóE do mesmo modo que por mim tantas vezes ignorado, assim como seu discurso e ainda, como seus humildes e velhos sentimentos, este texto (já sem qualquer humildade) é apenas um reboco de tempo: e também não será lido. Como diria minha mãe: o castigo vem a cavalo. De qualquer maneira, está aí o tal pássaro!      

Marconi Leal

http://marconileal.blogspot.com/
Crônicas e diálogos no mínimo...interessantes

O TRANCA RUA

http://tranca-rua.blogspot.com/
Canal alternativo de noticias.