sábado, 31 de março de 2012

Poesia contra o asfalto

Valorosos de suas dezenas de vãs reuniões. Silêncio às crianças. Paz na terra aos hábeis vomitadores de vazia verborragia em verniz de Power Point. A ordem do dia é sentir-se sempre ocupado. Em infantis leituras demagógicas e o tempo preenchido de nulidades. Cronicamente atrasados ao próximo indispensável compromisso com o nada. Heróis de sua servidão. Os saudemos! Que os segundos passam! E a morte está à espreita. E já noticiaram mais um ego caído em um banheiro trancado.

Corações de pinto molhado. Um insulto bem dado, um elogio escasso e a mediocridade à tona na privada. Merda voltando  após uma descarga mal dada.  E agradeça a deus pelas fezes de cada dia. Antes cheios de bosta a prazo ao desconforto da privada vazia.

 Os minutos escassos. As idéias esparsas. As horas sempre ao alheio. Normais em sua esquizofrenia diária, o importante é não vagabundear. E se fraquejar, ir à farmácia com a velha fórmula do se compadeça de si e odeie aos que não invejam seu ordenado e seu lamento.

Mas chegou a hora da flor contra o concreto.

Só aceitar a realidade no que for poesia.      

sexta-feira, 30 de março de 2012

Ao mestre, com carinho ou, uma questão de mérito

Em um desses cafés de aparência afetada

E eles todos também afetados

Em suas afetadas conversas

Falam

Digo

Discutem

 sobre Nietzsche, Marx, Guimarães Rosa e Machado

enquanto isso

seus discípulos sem dormir

sem comer ou fazer sexo

Preparam os últimos detalhes

da apresentação do orientador

ao dia que virá

Um brinde à Marx!

Um dia eles também poderão afetadamente comer a bunda de um orientando enquanto se indignam com a situação social dos marginalizados e tomam um delicioso café latte.

quarta-feira, 28 de março de 2012

A chegada

Em rendas e cambraias

Pó de arroz

batom vermelho

um cigarro a tira colo

Eu o espero

 

 Na bolsa

Sedosidades

E espinhos

Já com meu sangue espetado

Um ovário e seus rosários

Minhas doloridades

Suspensas em fios da memória

Eu o espero

 

Separado deixo

Em um lenço de  cetim

Um filme do  Win Wenders

Poesias pontiagudas

Meu afeto

para todo o sempre

Eu o espero

 

Cuido a ti

em meus seios

o Amor nu

os lábios despidos

as palavras rubras

a carne quente e crua

Eu o espero

 

E para que não encontres tudo muito assentado

Deixo também à mão

Umas cusparadas na cara

A louça suja

Chulas especiarias e excrescências...

A casca de ferida

Sempre aberta no coração

Eu o espero

 

Fiz uma carta

e uns doces

para o dia em que chegares

coloquei

o de mais sem valor que pode houver nessa vida

umas poesias de mulher

umas docilidades gratuitas

aquela geléia de fruta barata

um par de chinelos velhos

um cachorro vira-latas

um misterioso gato alegre

as mais raras pedrinhas sujas de meu filho

uns tatus bola enlamados

vagalumes para suas noites de calor

O cheiro dessa chuva...

Eu o espero

 

Na terra arrumei a nossa cama

Com lençóis especialmente afeitos à  suores

A casa perfumada

Arroz-feijão-farofa

Beijo-café-com-leite

Tudo já iniciado

Eu o espero

 

Aos olhos

um bilhete afixado

Sobre o infinito nas janelas de seu rosto

da cronicidade de lacrimejâncias indolentes

de uma fase de terremotos sanguíneos

das lanças agudas

das faíscas estomacais

 

Desde já

meu corpo

o espera

 

Ao acontecimento

a pele em óleo de laranjeira

as ideias em jasmim

todas as tardes ensolaradas que couberem no infinito dO instante

uma máscara de colombina já com as lágrimas embutidas

e entre as pernas

Uma  Flor aberta em mel

 

 Assim

para sempre

eu o espero.

  

terça-feira, 27 de março de 2012

Cantos proféticos

Oh, Deusa!

Cantai

Aos Musos

Que já é hora!

Nobres,

do canto dos Deuses apartados

Oh, Deusa,

Cantai!

 

Despiu-se

 

Em meus olhos

Janelas emaranhadas de almas

Recortes de corpos

em lâminas e delineio

Na maciês luminosa do quarto

Os fios lançados à penumbra

Um oráculo a professar...

Seus pêlos

 

Torçuras em mel

Trançado gotejo

Óleos quentes

Aguação de língua

Na boca

Desejos em caracolados

O fremir crespo

Ritos e enroscos

Oração arrematada

Uma boca de mulher

A babar-se

na ânsia

de sanguíneos  enleios

 

O Olímpo em Penugens

 

Divinos

Linhos

A morte do pássaro

Aninhada

em meu Novelo.

 

Oh, Deusa

Orai!

O nó

de cada labirinto

 

o  encontro

das dobras

os segredos

do Canto

Teso 

segunda-feira, 26 de março de 2012

Flor no Asfalto

Poesia tropeçada do pedestal


Poesia pedestre


Poesia manca


Sem título de dotô


Poesia cafezim de botequim


Poesia caixa de fósforo  de sambista


Poesia pedrinhas sujas das crianças


Poesia esterco no pé da hipocrisia


Poesia descabaçada 

(ando)


Poesia lambuzada


Poesia fodendo com o mundo


 


Poesia


Em primeira pessoa


Eu,


Tu,


Nós...


Em todas as


Pessoas


 


Sobe e desce


Poesia Trepa em tudo


 


Poesia compromisso primordial


Poesia-Pacto-celestial


Tema central de estadistas


Grito eufórico das torcidas


 


 


Comer poesia com arroz-feijão


Saborear Poesia com farofa


Poesia macarronada de domingo


Poesia churrasco na laje da Dona Maria


Poesia com gingado de pagode


Com ritmo de Rap


Poesia preferência nacional


 


Poesia cárie na boca do mendigo


Do velho


Do cozinheiro


Do porteiro


Do diplomata


Assepsia histérica do magnata


Poesia nascendo em pedra


Poesia Flor Rocha


No coração


dos trouxas


 


uma flor


outra flor


Todas as flores...


A FLOR!


Daninha do asfalto


Poesia contra o concreto.

quarta-feira, 21 de março de 2012

Gozo VIII

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Em cada canal
a sua veia

o veio que entumesce
no fundo da sua teia

Em cada vento
o seu peixe
no tempo que a água tenha

sedosa na sua sede
viciosa em sua esteira

Da seda
o tacto e o suco
dos lábios à sua beira

como se fosse um beiral
do corpo
p'ra lingua inteira

ou o lugar para guardar
o punhal
que se queira

Em cada punho
o seu ócio

um cinzel
de lisura

com a doçura do pranto
da prata e bronze
a secura

O travesseiro não apoia
as pernas já afastadas
mas ajusta as ancas dadas

Escalada
que se empreende na pele das tuas nádegas

Em cada corpo há o tempo
no gozo da sua adaga

Mas só no teu há o espasmo
com que o teu pénis
me alaga

Fonte: Blog Inútil - http://inutilrevista.blogspot.com.br/2010/10/convidado-central-3-maria-tersa-horta.html

segunda-feira, 19 de março de 2012

Aforismo - Franz Kafka

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Não aspiro ao autocontrole. Autocontrole significa: querer atuar num ponto aleatório das irradiações infinitas da minha existência espiritual. Mas tenho de traçar estes círculos em torno de mim, por isso é melhor fazê-lo passivamente no puro espanto de admiração perante o imenso complexo e levar para casa apenas a força que, e contrario, essa visão oferece.

Gauchismo

Fazer do Erro

Sujeito

Errante

Obter prazer nisso

A cada Engano

O Engano

Na descoberta dos mais lancinantes hiatos

Charcos de CorpAlma

Aroma

Impertinente de chuva

na hora do Rusch

Saber-se

deliciosamente

Incompetente

Fracassada Maiúscula

Sado-masoquistamente

Procrastinar

Lentaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa

Pontualidade de intervalo-de-ponteiros

Fazer do Erro

um ritual

Apreender o in certo

Na  exclusão de todas as desopções

(as opções previamente anuladas)

Esfolar os joelhos em cada calçada lisa

Olhar-se ao espelho enquanto o cigarro é aceso

e insistir

com um riso de Monalisa

no câncer de cada dia

Salve, salve!

O carnífero câncer de cada dia

carícia mortífera

morte-vida de cada linha.

.

 

sexta-feira, 9 de março de 2012

Fase

Gabriel pede um sanduíche "dos grandes"no Mac Donald´s. 
A mãe ignora e faz o pedido do Mac Lanche Feliz por desconfiar de que depois a criança choraria pelo brinquedo.
Gabriel para amiga Fernanda de Lima - Odeio essa fase da minha mãe!
Fernanda - O quê Gabriel?
Gabriel - Odeio essa fase em que eu peço uma coisa para minha mãe e ela me dá outra!