quarta-feira, 28 de março de 2012

A chegada

Em rendas e cambraias

Pó de arroz

batom vermelho

um cigarro a tira colo

Eu o espero

 

 Na bolsa

Sedosidades

E espinhos

Já com meu sangue espetado

Um ovário e seus rosários

Minhas doloridades

Suspensas em fios da memória

Eu o espero

 

Separado deixo

Em um lenço de  cetim

Um filme do  Win Wenders

Poesias pontiagudas

Meu afeto

para todo o sempre

Eu o espero

 

Cuido a ti

em meus seios

o Amor nu

os lábios despidos

as palavras rubras

a carne quente e crua

Eu o espero

 

E para que não encontres tudo muito assentado

Deixo também à mão

Umas cusparadas na cara

A louça suja

Chulas especiarias e excrescências...

A casca de ferida

Sempre aberta no coração

Eu o espero

 

Fiz uma carta

e uns doces

para o dia em que chegares

coloquei

o de mais sem valor que pode houver nessa vida

umas poesias de mulher

umas docilidades gratuitas

aquela geléia de fruta barata

um par de chinelos velhos

um cachorro vira-latas

um misterioso gato alegre

as mais raras pedrinhas sujas de meu filho

uns tatus bola enlamados

vagalumes para suas noites de calor

O cheiro dessa chuva...

Eu o espero

 

Na terra arrumei a nossa cama

Com lençóis especialmente afeitos à  suores

A casa perfumada

Arroz-feijão-farofa

Beijo-café-com-leite

Tudo já iniciado

Eu o espero

 

Aos olhos

um bilhete afixado

Sobre o infinito nas janelas de seu rosto

da cronicidade de lacrimejâncias indolentes

de uma fase de terremotos sanguíneos

das lanças agudas

das faíscas estomacais

 

Desde já

meu corpo

o espera

 

Ao acontecimento

a pele em óleo de laranjeira

as ideias em jasmim

todas as tardes ensolaradas que couberem no infinito dO instante

uma máscara de colombina já com as lágrimas embutidas

e entre as pernas

Uma  Flor aberta em mel

 

 Assim

para sempre

eu o espero.

  

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