Em rendas e cambraias
Pó de arroz
batom vermelho
um cigarro a tira colo
Eu o espero
Na bolsa
Sedosidades
E espinhos
Já com meu sangue espetado
Um ovário e seus rosários
Minhas doloridades
Suspensas em fios da memória
Eu o espero
Separado deixo
Em um lenço de cetim
Um filme do Win Wenders
Poesias pontiagudas
Meu afeto
para todo o sempre
Eu o espero
Cuido a ti
em meus seios
o Amor nu
os lábios despidos
as palavras rubras
a carne quente e crua
Eu o espero
E para que não encontres tudo muito assentado
Deixo também à mão
Umas cusparadas na cara
A louça suja
Chulas especiarias e excrescências...
A casca de ferida
Sempre aberta no coração
Eu o espero
Fiz uma carta
e uns doces
para o dia em que chegares
coloquei
o de mais sem valor que pode houver nessa vida
umas poesias de mulher
umas docilidades gratuitas
aquela geléia de fruta barata
um par de chinelos velhos
um cachorro vira-latas
um misterioso gato alegre
as mais raras pedrinhas sujas de meu filho
uns tatus bola enlamados
vagalumes para suas noites de calor
O cheiro dessa chuva...
Eu o espero
Na terra arrumei a nossa cama
Com lençóis especialmente afeitos à suores
A casa perfumada
Arroz-feijão-farofa
Beijo-café-com-leite
Tudo já iniciado
Eu o espero
Aos olhos
um bilhete afixado
Sobre o infinito nas janelas de seu rosto
da cronicidade de lacrimejâncias indolentes
de uma fase de terremotos sanguíneos
das lanças agudas
das faíscas estomacais
Desde já
meu corpo
o espera
Ao acontecimento
a pele em óleo de laranjeira
as ideias em jasmim
todas as tardes ensolaradas que couberem no infinito dO instante
uma máscara de colombina já com as lágrimas embutidas
e entre as pernas
Uma Flor aberta em mel
Assim
para sempre
eu o espero.
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