terça-feira, 22 de julho de 2014

Um cosmético para a pele perfeita


Ei de ter  grossa couraça
grossa couraça...
Que me proteja das desilusões
alanhadas pela Paixão
e suas garras tão ligeiras e afiadas

Ei de ter grossa couraça
grossa couraça...
Que me proteja do frio da Indiferença
que congela o meu sangue em pedra
iceberg no peito
a força de meu Mar contida em gelo
carne em  hipotermia
em vidro corpo
em mim Naufragada
onda empalhada

Ei de ter grossa couraça
grossa couraça...
que rosas por muito esperei
e as tive
mas tacadas em mim
com raiva
e por seus espinhos
enfiada em meu ventre
e das pétalas minuciosamente
já aleijada

Ei de ter grossa couraça
grossa couraça
tão grossa
que relembre em mim
de minha pele
superfície tesa
linha de comunicação com o Outro
e tantas vezes
para souvenir escalpelada
poeta de seu peito abortada

E sigo firme ainda que ferida
refeita em fé e esperança
e à espera
em finalmente parar de sentir dor
pois enfim terei
grossa couraça
grossa couraça... 

segunda-feira, 21 de julho de 2014

Para que um poeta morra.

Eu não sei se faço Literatura, mas sei a Literatura que eu caço. É a da palavra que mora um pouco antes do Silêncio-Pausa, já que o único Silêncio a mim intocado é o da pausa, que é quem dá sentido ao som. É a palavra mais distante possível dos discursos de homogeneização. A Literatura da Alteridade, da singularidade que se sabe somente em relação a um Outro. Literatura que mata o gênio. É a que imprime ao papel o Inomeado. De um Sem-nome  que se faz matéria no que consegue se diferenciar do Outro. E nisso passa a falar de um jeito único. Que captura aquilo que pairava no ar, sem som nem grafia, praticamente na Angústia de um engasgo. A literatura de um soluço. Cenas ali, postas, comprimindo o peito por não se auto-enunciarem.  Eu não sei se tudo que leio é Literatura, mas também tenho comigo a Literatura que eu fujo. É a “grande literatura”. De cânones onde só homens brancos e heteros têm voz. E eu sei que ela tem o seu valor. Porém,  já teve o seu espaço na cronologia dos sonhos e das utopias. Já pode se preparar a sair de palco. Para que coloquemos fogo nele. Essa literatura dos “heróis”. Eu quero é a morte imediata de todos os heróis. Não qualquer morte, é claro. Que não morra laureados. E sim – sim! sim! sim! – cagados. E das grandes coisas eu de ontem me aborreço e desfaço. Eu quero o ínfimo em desagravo. Grão de areia versus o Himalaia. A Lentidão versus a informação. O poema versus o poeta!!! Que todos morram esquartejados! E nem esquecerei a urgente necessidade da morte dos artistas. De todos os artistas. Dos filósofos...  Estripados em minha janela, tão lindos... As vezes eu sonho mesmo até a morte da escrita: sonho as pessoas sentadas,  recitando suas histórias e a de outros, com toda a beleza da Literatura, como se fosse nada. UM INFIMO AO INFINITO E NADA. Um mundo de humanos sendo Artistas e a Arte diluída da normalidade dos dias. Um mundo de humanos sendo apenas e profundamente humanos. Até lá, eu sei, utopias são ao longe e em afasia. Até lá não serei poeta. Com todo o meu esforço. Quero o benefício da dúvida de que toda vez que eu escrevo, eu consiga apunhalar um “Grande” poeta. E faço poemas ruins de proposito. E penso: “ha! ha! Beeeeeem feito!”. E os sujo de menstruação e esfrego meu sangue sujo em suas caras! E cuido deles como meus filhos e elogio esse meu fazer-cuidado, pois sei que o cuidar está fora do mundo dos Homens e eles não entenderão do que eu falo.  Linguagem de Mulher e parida e que não se choca com criança correndo pela casa e nem de limpar bunda de menino. E escolho essa Linguagem que fala de boceta, vagina e clitóris.  Linguagem que nomeia solidões e olhos opacos de memórias ardidas. E que sabe fingir que não foi nada. Que fala de mulheres que moram na mesma casa e não se comunicam com palavras. Estas pararam no caminho, por cansaço. Mas que, enquanto lavam a louça, acabam por desabafar falseadas em amenidades aquelas outras coisas que dormiam exaustas.  E tenho comigo que há muitos silêncios a serem ou paridos e definitivamente abortados. São as palavras que não se sabem. Que foram confundidas a se manterem disfarçadas de Silêncio, para conveniência dos senhores da grande casa (sempre grande). Mudesas. Inomeações.  É a elas que procuro. É Elas que eu gostaria de nomear. Nomear silêncios, enquanto assassino poetas. A alegria da pirraça!

Do resultado eu não garanto. Mas já tenho comigo o prazer do processo. A cada um que me lê, ao menos um poeta morre. E talvez algum artista de outro suporte. E algum filosofo enlouquece... E seus grandes palcos já queimam em chamas. E uma mulher é lida. 
RÁ!

quinta-feira, 17 de julho de 2014

De Medusa a Zeus


Todos os homens querem meu cu
os corados, os calcados, os recalcados e os requintados.
Todos os homens querem meu cu
os trotskistas, os artistas, os skatistas e os feministas
Todos  os homens querem meu cu
E citam Foucault, citam Catulo, citam Drummond e até Rimbaud...
Mas o que todos querem é meu cu
para eu não ser moralista,
para eu ser a grande foda de SUA vida,
para eu ser a pervertida
para eu ser fetichista.
Que tem antropólogo que diz que é subversão
Que tem Psicanálise que prova que só é tabu e é bom
Que tem filósofo que diz que bom mesmo é gostar de ser  a exceção
Mas chupar boceta nenhum deles defende não!

E vagina é coisa de mulher reprimida
E clitóris coisa de virgem descabida
E do MEU prazer sabe Ele muito bem
Estudioso que é de discurso e depravação
Sodoma e Gomorra
SEU tesão!
Que ali é mais apertadinho  
e a seco o sexo é mais safadinho...
E orgasmo?
Esse talvez desencarnado?!
É só não doer se penetrado
E é só sangrar o esperado
Cala a boca! Não para não!
E se não sinto, Freud diz que é desejo incontido
E se machucar, é ignorar, preocupação com isso é higienismo
E se não gozar, espera outra vez, mulher nem sabe direito o que é gozo, frigidez e paranoia,
nem faz sentido!

E me fodem selvagemente
Os mais intelectuais, me fodem até metaforicamente
Mas fodem BEM MESMO é politicamente...
E foda boa não é o que EU sinto,
Foda boa é sim a SUA poesia sadomasoquista
e lírica....

E me fodem conceitualmente
E me fodem repetidamente
E me fodem e me fodem e me fodem
CINICAMENTE...

Todos os homens querem meu cu
já que, se eu não gozo, sou moralista
já que, se eu não gozo, não sou a grande foda da sua vida
já que, se eu não gozo, não sou suficientemente pervertida
E justo eu que li Foucault?!
E justo eu que li Catulo?!
E justo eu que li Drummond?!
O problema mesmo
é que não li Rimbaud!!!

E já que não gozo
Do Teatro Grego, máscara de Medusa e  boa rima
Gemo alto ainda que arredia:
“que nem nos filmes pornôs, Amor,
hoje sou sua putinha!”
trepada de cu e merda
e ferida e
fingida
a arte de ser estuprada
mas academicamente de cabeça erguida

Esse é meu canto AOS de sempre
delicadeza
de poeta sem corpo
vazo de esperma dos que se elegem Deuses.