segunda-feira, 21 de julho de 2014

Para que um poeta morra.

Eu não sei se faço Literatura, mas sei a Literatura que eu caço. É a da palavra que mora um pouco antes do Silêncio-Pausa, já que o único Silêncio a mim intocado é o da pausa, que é quem dá sentido ao som. É a palavra mais distante possível dos discursos de homogeneização. A Literatura da Alteridade, da singularidade que se sabe somente em relação a um Outro. Literatura que mata o gênio. É a que imprime ao papel o Inomeado. De um Sem-nome  que se faz matéria no que consegue se diferenciar do Outro. E nisso passa a falar de um jeito único. Que captura aquilo que pairava no ar, sem som nem grafia, praticamente na Angústia de um engasgo. A literatura de um soluço. Cenas ali, postas, comprimindo o peito por não se auto-enunciarem.  Eu não sei se tudo que leio é Literatura, mas também tenho comigo a Literatura que eu fujo. É a “grande literatura”. De cânones onde só homens brancos e heteros têm voz. E eu sei que ela tem o seu valor. Porém,  já teve o seu espaço na cronologia dos sonhos e das utopias. Já pode se preparar a sair de palco. Para que coloquemos fogo nele. Essa literatura dos “heróis”. Eu quero é a morte imediata de todos os heróis. Não qualquer morte, é claro. Que não morra laureados. E sim – sim! sim! sim! – cagados. E das grandes coisas eu de ontem me aborreço e desfaço. Eu quero o ínfimo em desagravo. Grão de areia versus o Himalaia. A Lentidão versus a informação. O poema versus o poeta!!! Que todos morram esquartejados! E nem esquecerei a urgente necessidade da morte dos artistas. De todos os artistas. Dos filósofos...  Estripados em minha janela, tão lindos... As vezes eu sonho mesmo até a morte da escrita: sonho as pessoas sentadas,  recitando suas histórias e a de outros, com toda a beleza da Literatura, como se fosse nada. UM INFIMO AO INFINITO E NADA. Um mundo de humanos sendo Artistas e a Arte diluída da normalidade dos dias. Um mundo de humanos sendo apenas e profundamente humanos. Até lá, eu sei, utopias são ao longe e em afasia. Até lá não serei poeta. Com todo o meu esforço. Quero o benefício da dúvida de que toda vez que eu escrevo, eu consiga apunhalar um “Grande” poeta. E faço poemas ruins de proposito. E penso: “ha! ha! Beeeeeem feito!”. E os sujo de menstruação e esfrego meu sangue sujo em suas caras! E cuido deles como meus filhos e elogio esse meu fazer-cuidado, pois sei que o cuidar está fora do mundo dos Homens e eles não entenderão do que eu falo.  Linguagem de Mulher e parida e que não se choca com criança correndo pela casa e nem de limpar bunda de menino. E escolho essa Linguagem que fala de boceta, vagina e clitóris.  Linguagem que nomeia solidões e olhos opacos de memórias ardidas. E que sabe fingir que não foi nada. Que fala de mulheres que moram na mesma casa e não se comunicam com palavras. Estas pararam no caminho, por cansaço. Mas que, enquanto lavam a louça, acabam por desabafar falseadas em amenidades aquelas outras coisas que dormiam exaustas.  E tenho comigo que há muitos silêncios a serem ou paridos e definitivamente abortados. São as palavras que não se sabem. Que foram confundidas a se manterem disfarçadas de Silêncio, para conveniência dos senhores da grande casa (sempre grande). Mudesas. Inomeações.  É a elas que procuro. É Elas que eu gostaria de nomear. Nomear silêncios, enquanto assassino poetas. A alegria da pirraça!

Do resultado eu não garanto. Mas já tenho comigo o prazer do processo. A cada um que me lê, ao menos um poeta morre. E talvez algum artista de outro suporte. E algum filosofo enlouquece... E seus grandes palcos já queimam em chamas. E uma mulher é lida. 
RÁ!

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