Eu não sei se faço Literatura, mas sei a Literatura que eu
caço. É a da palavra que mora um pouco antes do Silêncio-Pausa, já que o único
Silêncio a mim intocado é o da pausa, que é quem dá sentido ao som. É a palavra
mais distante possível dos discursos de homogeneização. A Literatura da
Alteridade, da singularidade que se sabe somente em relação a um Outro.
Literatura que mata o gênio. É a que imprime ao papel o Inomeado. De um
Sem-nome que se faz matéria no que
consegue se diferenciar do Outro. E nisso passa a falar de um jeito único. Que
captura aquilo que pairava no ar, sem som nem grafia, praticamente na Angústia
de um engasgo. A literatura de um soluço. Cenas ali, postas, comprimindo o
peito por não se auto-enunciarem. Eu não
sei se tudo que leio é Literatura, mas também tenho comigo a Literatura que eu
fujo. É a “grande literatura”. De cânones onde só homens brancos e heteros têm
voz. E eu sei que ela tem o seu valor. Porém,
já teve o seu espaço na cronologia dos sonhos e das utopias. Já pode se
preparar a sair de palco. Para que coloquemos fogo nele. Essa literatura dos
“heróis”. Eu quero é a morte imediata de todos os heróis. Não qualquer morte, é
claro. Que não morra laureados. E sim – sim! sim! sim! – cagados. E das grandes
coisas eu de ontem me aborreço e desfaço. Eu quero o ínfimo em desagravo. Grão
de areia versus o Himalaia. A Lentidão versus a informação. O poema versus o
poeta!!! Que todos morram esquartejados! E nem esquecerei a urgente necessidade
da morte dos artistas. De todos os artistas. Dos filósofos... Estripados em minha janela, tão lindos... As
vezes eu sonho mesmo até a morte da escrita: sonho as pessoas sentadas, recitando suas histórias e a de outros, com
toda a beleza da Literatura, como se fosse nada. UM INFIMO AO INFINITO E NADA.
Um mundo de humanos sendo Artistas e a Arte diluída da normalidade dos dias. Um
mundo de humanos sendo apenas e profundamente humanos. Até lá, eu sei, utopias
são ao longe e em afasia. Até lá não serei poeta. Com todo o meu esforço. Quero
o benefício da dúvida de que toda vez que eu escrevo, eu consiga apunhalar um
“Grande” poeta. E faço poemas ruins de proposito. E penso: “ha! ha! Beeeeeem
feito!”. E os sujo de menstruação e esfrego meu sangue sujo em suas caras! E
cuido deles como meus filhos e elogio esse meu fazer-cuidado, pois sei que o
cuidar está fora do mundo dos Homens e eles não entenderão do que eu falo. Linguagem de Mulher e parida e que não se
choca com criança correndo pela casa e nem de limpar bunda de menino. E escolho
essa Linguagem que fala de boceta, vagina e clitóris. Linguagem que nomeia solidões e olhos opacos
de memórias ardidas. E que sabe fingir que não foi nada. Que fala de mulheres
que moram na mesma casa e não se comunicam com palavras. Estas pararam no
caminho, por cansaço. Mas que, enquanto lavam a louça, acabam por desabafar
falseadas em amenidades aquelas outras coisas que dormiam exaustas. E tenho comigo que há muitos silêncios a
serem ou paridos e definitivamente abortados. São as palavras que não se sabem.
Que foram confundidas a se manterem disfarçadas de Silêncio, para conveniência
dos senhores da grande casa (sempre grande). Mudesas. Inomeações. É a elas que procuro. É Elas que eu gostaria
de nomear. Nomear silêncios, enquanto assassino poetas. A alegria da pirraça!
Do resultado eu não garanto. Mas já tenho comigo o prazer do
processo. A cada um que me lê, ao menos um poeta morre. E talvez algum artista de outro suporte. E algum filosofo
enlouquece... E seus grandes palcos já queimam em chamas. E uma mulher é lida.
RÁ!
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