sexta-feira, 28 de setembro de 2007

Um ensaio de Ensaio: Anedota Pecuniária: uma leitura da não moral da história

Rating:★★
Category:Books
Genre: Literature & Fiction
Author:Vanessa Yara Gonçalves
“(..) mas, ai de mim! eu não sou Sêneca, não passo de um Suetônio que contaria dez vezes a morte de César, se ele ressuscitasse dez vezes, pois não tornaria à vida, senão para tornar ao império.”
Machado de Assis

Chama-se Machado o meu homem...Quando iniciei a análise do conto machadiano, Anedóta Pecuniária, além do medo que a própria obrigação da interpretação impunha, fui cercada de impressões as quais acabaram por guiar as insinuações que neste trabalho defenderei.
A primeira e, creio, que principal, foi o porquê eu lia aquele texto em que todas as personagens “se dão bem” e ainda sim, sentia a grande incomodação de uma crítica ferrenha? Porque tal formato de crítica se distância tanto de outro livro também do mesmo autor, Ressurreição? Que “malabarismos ou contorcionismos” retóricos o meu autor estaria usando para que eu percebesse, mas não visse o veneno de seus “ferrões”? E, por fim, não principalmente, mas ainda não ignorável, o que Sêneca tinha a ver com tudo isso?
Antes de descrever minha jornada à resposta de tantos questionamentos que ainda estou a definir pertinência, darei uma pincelada no enredo do texto. Anedóta Pecuniária é a história de Falcão, homem ganancioso, que tinha adoração pelo dinheiro. Solitário, adota uma sobrinha para lhe fazer compania, Jacinta. Mas, apesar da estima que mantinha pela moça, Falcão abre mão da presença da moça e vende o consentimento de casamento ao amigo Chico Borges em troca de mais espécimes do objeto de seu desejo. Dez contos de réis era o que o faria esquecer de sua solidão. Mais tarde, para repor a falta deixada por Jacinta, acaba por acolher Virgínia, outra sobrinha. Como a história não poderia escapar à sua (i)moralidade intrínsica, Falcão acaba também por vender a mão de Virginia. Como pagamento, recebe a própria materialização de sua Ganancia, uma coleção de notas de dinheiro de diversos países do mundo.

“(...) esperava uma caixinha com um exemplar de cada moeda, e achou montes de ouro, de prata, de bronze e de cobre. Falcão mirou-as primeiro de um olhar universal e coletivo; depois, começou a fixá-las especificadamente. Só conheceu as libras, os dólares e os francos; mas o Reginaldo nomeou-as todas: florins, coroas, rublos, dracmas, piastras, pesos, rúpias, toda a numismática do trabalho, concluiu ele poeticamente...”

Não há final infeliz apesar da concretização da venda das sobrinhas, O tio obtem seu cobiçado objeto. As sobrinhas se casam com os parceiros escolhidos. Não há castigo nem lição de moral. E foi com esse estranhamento que resolvi dar o ponto de partida a minha análise.

Para tanto, tive de buscar os elementos que circundavam a obra machadiana, que estava fora do texto, mas que não obstante seria de necessidade imprescindível para a realização de uma crítica literária que observando a movimentação e intrínseca dinâmica entre estrutura estética e contexto social, me fornecesse o combustível necessário para a construção de máquina de interpretação literária : o conhecimento de mundo. Recorri ao crítico literário, Roberto Schwarz, que me presenteou com mais duas questões: “ Em que consiste a força do romance machadiano da grande fase?Há relação entre a originalidade de sua forma e as situações particulares à sociedade brasileira no século XIX?.”
Ao recorrer ao contexto social em que a obra foi escrita, tinha já em mente algo além da concepção de obra de arte como “Sedimetação histórico-social”, frase que ouvi em uma palestra do crítico acima referenciado. Era a percepção da duplicidade de planos interpretativos da estrutura textual machadiana dos textos mais recentes, ou ainda, classificados como a obra da Segunda Fase, conceito que mais à frente delinearei.
E o que eu quero dizer quando afirmo uma multiplicidade, mais que um ao menos, de planos interpretativos? A verdadeira “moral da história” se é que se pode dizer isto, não está e nem deve estar na superfície do conto, mas em outro plano, que apesar de invisível, é concretamente apontado pela narrativa. Bom, voltemos um pouco o raciocínio e vejamos o contexto em que a obra se insere.
Anedota Pecuniaria é um dos contos, incluídos na coletânea Histórias sem data, de 1884. O contexto político, é o reinado de D.Pedro II em que, apesar de o Brasil não ser mais uma colonia, conserva ainda quase todas as suas características enquanto tal: ainda é um país escravagista e ainda é predominantemente rural, mas que apesar disso, está as vésperas de algumas de suas mais importantes transformações político-sociais: a abolição da escravatura e a proclamação da República. O café é o grande propulsor desse sistema “pseudo-republicano” e o que estimula e mantém o mercado interno e externo. Tal prosperidade da economia cafeeira acaba por sustentar o sentimento de esperança de um surto modernizador.
Mas como a arte tem como inerência de sua própria essencial a impossibilidade em fugir às contradições sociais de sua época num movimento de absorção e reflexão (do conceito de refletir, similar ao espelho), o que se vê da literatura local é um ressoar retardado de ecos da literatura européia: uma forte influência dos anseios nacionalistas do Romantismo, vestida em trages de Naturalismo de Zola e Flaubert e, sutentada nos calçados apertados do cientificismo darwiniano e da luta das classes operária da Revolução Industrial.
O resultado é a construção de um cânone literário que prega a descrição compulsória do que os críticos acreditavam ser a realidade brasileira, com descrições da realidade de classes mais pobres de maneira superficial e caricatural em desconjuntada pele determinista, ideologia européia mal digerida aplicada “aos trancos e barrancos” numa tentativa de construção de ensaio de literatura brasileira com cortiços de Veneza. E de repente, em meio a uma floresta tropical e a uma aristocracia rural, temos infinitas descrições de paisagem impregnada de um rigor cientificista completamente artificial em cujo o produto é será uma moral da história de crítica...a burguesia industrial (?). Escravidão e clientelismo até chegavam a serem mencionados, mas a crítica profunda e necessária dos valores que lhes servem de alicerce se limitava a apenas a uma visão de exotismo, em que por um exagero eufórico se pressupunha tal exotismo como natural e comum ao próprio ambiente em que a obra estava imersa.
Esses padrões literários desconexos da própria realidade que tentava descrever de maneira fidedigna simplesmente refletem um contexto social que amalgama valores burgueses de libertade, igualdade e fraternidade com a herança colonial brasileira de escravidão africana e clientelismo, conciliação existente na situação real vivida pelo país nesta época. A absorção das idéias divulgadas pela chamadaTendência Nova, nome dado à literatura e conhecimento cientifico circulado na Europa àquela época, é inconclusa e disforme: lê-se pela fonte de terceiros e nada é interpretado a fundo ou mesmo diretamente.

Em conseqüência não há discernimento para se separar o “joio do trigo” e, tudo é incorporado com inflamada defesa. A presença da hereditariedade é vista com rigoroso conhecimento cientifico e se institui enquanto regra inexorável e tautológica em que as personagens são tautologicamente submetidas a uma inevitável entrega à sensualidade, à sucessão dos fatos e às circunstâncias ambientais. Além disso, se defende que toda a ação romanesca deve ser detida sob o senso do real em que o escritor deve ser capaz de comprovar as ações de sua ficção de maneira inflexivelmente alinhada às “verdades cientificas” da época.
Podemos verificar a vigência de tais parâmetros fruto do determinismo na descrição de cânone literário exaltados na crítica de Silvio Romero, crítico literário contemporâneo a Machado. Silvio em diversos de seus artigos publicados na época da escrita da obra machadiana acusa o autor de oportunista e anacrônico baseado no livro Quincas Borba que o critico usa de exemplo em que Machado estaria a zombar das idéias, segundo ele, realmente promissoras e válidas, das teorias evolucionistas européias. Qualquer diálogo com a tradição era visto como fator de anacrônico, resquício vicioso do Romantismo e até mesmo manifestação de abuso e desrespeito. Tal reação, pauta-se em uma percepção inocente da obra machadiana em que o segundo plano de sentido não é apreendido, sendo por sua característica de “implicitude” paradigmática do sentido, em que a critica não está diretamente colocada à superfície do texto, mas inerentemente pressuposta do senso-crítico do leitor que o interpreta. A construção do sentido é dada por planos textuais que se desdobram uns sobre outros. Estes planos textuais são ativados pelo próprio leitor que somente distanciado do preconceito ali denunciado será capaz de enxergar os truques retóricos do narrador de Dom Casmurro ou o “conhecimento de amput”, a futilidade dissimulada do narrador de Memórias Postumas. Ou, ainda, não ficará escandalizado com a “boa sorte” de Falcão que apesar da ganância, não é punido.
Esse jogo de linguagem em que o autor “brinca” com os valores ideológicos do leitor o qual somente será capaz de ativar o segundo plano de sentido se for critico o suficiente para discordar com os valores exaltados no primeiro. É esta nova caracterização estilística que serve de base para a diferenciação que estabelece a divisão de águas entre os posteriormente classificados pela crítica, como Romances da Primeira Fase e Romances da Segunda Fase. Em Ressurreição, romance da primeira fase da obra machadiana, nota-se que embora haja uma critica as relações baseadas em interesses econômicos, essa mesma se restringe apenas a parte nuclear das personagens do romance não se prolongando aos personagens periféricos.
Um fator que coloca a luz tal aspecto é que o vilão que é colocado como obstáculo ao desfecho da narrativa, na verdade não o é. A vilania é apresentada na narrativa para logo posteriormente ser desativada. O símbolo “intocavél” da Família não é questionado. Ao contrário, é afirmado. A crítica não atinge à vertebra da questão. Machado, nesta fase, ainda se baseia nos valores divulgados pela burguesia européia.

Não é o que pode ser observado quando em visita a obras como Memórias Postumas de Brás Cubas e Dom Casmurro. Nestes textos, o autor agora já imprime a ambigüidade de discurso que depois vem a ser uma das grandes marcas dos textos de Machado, ambigüidade esta, com força no contexto pragmático.
Pronto! Cheguei à ponta do fio. Retomo a partir daqui a exigida interpretação do que Machado de Assis quis elucidar ao citar Sêneca em seu conto. Schawrz, exemplifica com clareza a respeito da questão colocada por machado na comentar a obra de Flaubert

“A celebre aspiração de Flabert que queria escrever ´um livro sobre nada(...), um livro sem amarra exterior, inaugura também, embora noutra veia, a reconsideração sobre o cotidiano brasileiro no interior da obra machadiana (...)”

e continua

“ vejam-se mais algumas observações de Flaubert `As reflexões do autor [ da Cabana do pai Tomás] me irritam o tempo todo. Há necessidade de fazer reflexões sobre a escravidão? Basta mostra-la, e ponto (...)`”

O que Schwarz traz à crítica literária é a utilização de um recurso textual de critica em que a ironia não emerge à superfície textual, mas é alocada no próprio enredo do texto, sendo ativada somente pelo leitor. Ao concluir seu conto com a frase de Sêneca, frade esta que abriu este ensaio, Machado quis apontar a diferença entre a critica realizada em frases como as de Sêneca, que prescreviam normas de conduta, receituários morais em contraposição a uma reflexão do que de obtuso que se escondiam por trás do clientelismo, da aristocracia, do patriarcalismo etc.

Machado de Assis pormenorizada e apurava a dimensão não-burguesa da existencia burguesa no Brasil, e a estendia ao âmbito da convenção artística, na forma generalizadora da transgressão. Este passo se via facilitado elas evoluções anti-liberais que na europa começavam a emperrar em direção da ilegalidade assumida, evoluções de que era possível emprestar idéias e formas “adiantadas”. Em consequência, escravismo e clientelismo não são fixados apenas pelo lado óbvio, do atraso, mas pelo lado pertubador e mais substântivo da afinidade da tendência nova (...) (p185)


O ardor da espetada feita em Anedota Pecuniária, reside em uma ficção em que o produto não é apenas o que é vendido, no caso as sobrinhas, mas o próprio vendedor.

Bibliografia de referência

ASSIS, Machado de. Volume de contos. Rio de Janeiro : Garnier, 1884.

ASSIS, Machado de. Memórias Póstumas de Brás Cubas. Rio de Janeiro : Nova Aguilar, 1994. Vol. I.

ASSIS, Machado de. Ressurreição

SCHWARZ, Roberto, 1977. Ao Vencedor as Batatas, São Paulo, Duas Cidades.

SCHWARZ, Roberto 1990. Um mestre na periferia do capitalismo: Machado de Assis. São Paulo, Duas Cidades.

quinta-feira, 27 de setembro de 2007

http://www.angela-lago.com.br/caperucitaF.swf

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Uma proposta muito bacana de releitura de chapeuzinho vermelho para crianças...e para alguns adultos que teimam em não saber o seu lugar. Interativo!

Coisas que aprendi e que havia esquecido...

Musa

Musa ensina-me o canto
Venerável e antigo
O canto para todos
Por todos entendido

Musa ensina-me o canto
O justo irmão das coisas
Incendiador da noite
E na tarde secreto

Musa ensina-me o canto
Em que eu mesma regresso
Sem demora e sem pressa
Tornada planta ou pedra

Ou tornada parede
Da casa primitiva
Ou tornada o murmúrio
Do mar que a cercava

(Eu me lembro do chão
De madeira lavada
E do seu perfume
Que atravessava)

Musa ensina-me o canto
Onde o mar respira
Coberto de brilhos
Musa ensina-me o canto
Da janela quadrada
E do quarto branco

Que eu possa dizer como
A tarde ali tocava
Na mesa e na porta
No espelho e no corpo
E como os rodeava

Pois o tempo me corta
O tempo me divide
O tempo me atravessa
E me separa viva
Do chão e da parede
Da casa primitiva

Musa ensina-me o canto
Venerável e antigo
para prender o brilho
Dessa manhã polida
Que poisava na duna
Docemente os seus dedos
E caiava as paredes
Da casa limpa e branca

Musa ensina-me o canto
Que me corta a garganta



Sophia de Mello Breyner Andresen, Livro Sexto (1962)

 

O porquê deste poema no espaço do meu blog e não no espaço destinado a artigos é o que o leitor deve estar se perguntando. Bom, se não o fez, terá a explicação mesmo assim. Este poema que tive contato na aula de Literatura Portuguesa de terça (25/09) além de explêndido, me fez recordar algumas coisinhas que já havia aprendido em meu primerio ano de curso e que por desmemoriamento, ou por ser uma pertubada militante, deixei de fora de minha caixinha de conhecimentos. A função da escrita na minha vida.

Talvez por medo de uma vaidade intelectual que muitas vezes me ronda e me enoja, tenha sido tão radical a ponto de questionar a função própria e necessária que a escrita tenha na vida de seu autor e principalmente, até porque isso é um blog, na minha vida. Esqueci mesmo da lição aprendida com um dos meu livros prediletos, São Bernardo, o qual viciosamente li várias vezes.

Passei muitos anos, senão a maioria dos anos de faculdade, com vergonha de minha escrita. E ela é inocente mesmo! Revi meus textos estes dias. Algumas boas idéias em estrututas carentes de boa coesão e até mesmo, de coerência, erros graves para uma ex-professora de redação e atuante corretora de textos. 

O que percebi também foi o quanto a própria incoerência de meus sentimentos tinham influência direta em tais disparatações. E é nesse ponto que a continuidade de minha escrita, o poema de Sophia (grande escritora portuguesa contemporânea. Leiam!), o livro do Graciliano e tantas outras coisas adquiriram vazos comunicantes, de forma a finalmente demonstrarem-me algum sentido realmente profundo. Os meus sentimentos, as minhas fantasias, os meus desejos, embora muitas vezes soltos a revelia e jogados a própria sorte, eles, assim como outras demais coisas de nossas vidas, precisam de organização. E não só: precisam ser revistos, REVISITADOS.

Não  estou aqui a realizar qualquer tentativa de tratado ou definição de literatura ou de sua função social. Também deixo claro que sei que nada disso é novidade e o quanto Walter Benjamim toca em tal questão com muito mais propriedade (não, não o li. Acabou meu dinheiro para a xeróx!). Deve haver outros que também o façam.

São apenas coisas que queria relatar. Que queria cantar aqui! coisas que como coloca Sophia, me cortam a garganta.

Ontem tentei achar um texto que havia começado a escrever a muitos meses atrás. Falava sobre  meus sentimentos em relação à morte da minha avó. Não sei o que aconteceu, mas não encontrei. Pensei depois tenha sido melhor assim. Na época, o texto foi uma maneira de tentar colocar o desespero que sentia por não conseguir entender o que se passava comigo. Um pedido de socorro, confesso. Mas estava tudo tão confuso, que não conseguia concluir o texto. E por misericórdia a qualquer possível leitor desavidado que por aquelas linhas passassem, resolvi deixar o texto amadurendo em algum lugar. Passou do ponto e desapareceu.

Hoje, agora, também não estou conseguindo concluir estes dizeres. Talvez porque não sejam para serem concluidos. Largo aqui.     

segunda-feira, 24 de setembro de 2007

Não aguentei: Vorti!

Só hoje não ficarei exageradamente indignada!

Atualmente Freqüentadora do AIA (Associação dos Indignados Anônimos)

Pois é...meus caros desleitores...óia eu de novo aí!

Ai, ai! Essa vaidade que não me larga nunca! Bom, mais sejamos otimistas: um vício de cada vez! Pois bem, explico. Em minhas andanças pelo mundo virtual achei um texto um tanto quanto íntimo demais para algo que não foi regurgitado por minhas próprias entranhas: O Indignado Anônimo, de Alfredo Ribeiro para a Revista Piauí.

O texto descreve um tipo, brasileiro, que vive indignado com tudo, “um indignado épico, caricatura de homem de bem injuriado, delirante e genérico contra tudo o que aí está, do governo Lula ao xixi na tábua, da fila do INSS à pedofilia na internet, do achaque do flanelinha ao lucro do Bradesco.”. E eis que venho a este veículo, com a humildade que só a mais alta vaidade empresta, confessar: eu fui uma Indignalda! E não faz muito tempo.

Tudo me aborrecia e, como os homens naturalmente já nos aborrecem por sua própria natureza estúpida, estes eram os principais alvos do despotismo “cívico” de meu pseudo-senso-crítico.

Obviamente, os fatos, como que escritos em sangue na língua de Murphy, também corroboraram (olha eu me eximindo da culpa!). A audiência com o puto do pai do meu filho, a morte da minha avó, a greve na Universidade e o gran finale...falta de grana! Mas colocadas as devidas proporções, eu era uma Indignada Anônima. 

Graças a Deus tive um contato mais profundo com um santo emplastro chamado Cínismo cujas propriedades terapêuticas são ainda desconhecidas pelas Ciências de Saúde. Devo publicar que bebidas, sexo, e rock´n roll, embora politicamente incorreto de se afirmar, me ajudaram bastante. Amizades, porém, foram cruciais!          

 

Boa tarde, meu nome é Vanessa Yara, e eu estou controladamente indignada por mais este dia.

 

LANCHE

Rating:★★★★★
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Os sacos da padaria do costume traziam hoje poemas impressos e a nós calhou qualquer coisa de um tal Joaquim Manuel Magalhães – raio de nome para um poeta – que dizia:

Aceita-se como vem até nós.
Tornamo-nos mais precários.

O homem avança,
sangue de folhas em esquecimento
atrai, esconde
o silêncio
entre a luz.

Lemos e relemos, em silêncio, alta voz – o meu amor gozoso imitando o pato donald –, enquanto barrávamos a manteiga, aquecíamos o leite, mexíamos freneticamente o nesquik de modo a evitar os grânulos – sem que tenhamos percebido um boi do que o homem queria dizer com aquilo: «às tantas foi só o padeiro a gozar connosco».

Mas não nos caiu bem o lanche, embora o mesmo de sempre, servido na mesma louça e eu e o meu amor sentados nos lugares certos da mesa, da cozinha, do universo: a despropósito, um nó apertava-se-nos lentamente no estômago e, com o decaimento mais veloz do sol («o Outono está quase aqui, amor»), bateu-nos também uma tristeza espessa e resignada que só com esforço não deu em lágrimas.

Indagámos a validade da manteiga, do leite – tudo dentro do prazo – e provámos o pão sem nada, a ver se o Joaquim Manuel Magalhães, ou lá como se chama o padeiro (raio de nome para um padeiro), misturara alguma porcaria na farinha – não nos pareceu. Olhámos depois desconfiados para o poema.

Texto transplantado do blog Diário Dócil - http://diariodocil.blogspot.com


quinta-feira, 20 de setembro de 2007

Overdose...

Caro leitor,

é isso mesmo, caro leitor! Isso porque descobri que tem uns desocupados que por alienação ou por misericórdia lêem estes tão razos despaltérios. É a eles, ou seja, a você (s) que venho pedir as mais sinceras desculpas por alguns de meus achismos e justificar o que creio ser uma longa, senão permanente, desatualização deste blog.

Ontem, não consegui dormir, embora já estivesse a três dias indo me deitar às 3 da matina. Não sei se por overdose de café, ou por convulsão de pensamentos (creio que os dois), meus pensamentos resolveram se rebelar contra sua genitora e agora, tomada por eles, desconfio não mais das coisas do mundo: desconfio de mim! De como o mundo vive em mim. Culpa de alguns fiadapu que tive contato na aula de ontem: Freud, O mal estar na Civilização; Lasch, A cultura do narcisismo, Walter Benjamim, Adorno, etc. 

Agora desconfio do próprio ato de escrita deste texto e já não tenho mais chão para argumentar em relação a isso.

Portanto, enquanto não decido o que pensarei quando crescer, ou escreverei frenéticamente, ou me reclusarei a humildade do silêncio.

De qualquer forma, deixo um link de uma das coisas que estou lendo, para discussões, caso estejam dispostos.

http://www.seed.pr.gov.br/portals/portal/usp/primeiro_trimestre/textos/hemeroteca/nor/nor0134/nor0134_05.pdf

    

quarta-feira, 19 de setembro de 2007

Minhas pequenas promiscuidades diárias

Bom...(sei que não se pode começar um texto com bom!) ainda faltam trinta minutos para sair do escritório e embora minhas tarefas tenham se encerrado, cheguei tarde hoje ao escritório e meu chefe está ao meio lado o que implica minha permanência na frente deste computador.

Há alguns dias, depois de alguns cafés, e como gosto de pensar sobre coisas completamente desnecessárias, me apeteceu de escrever sobre a relação um tanto quanto promíscua que estabeleço com a droga oficial (que isto fique frisado – oficial) do Capitalismo.

Odeio café. Isso é um fato. Quando criança, não conseguia nem sentir o cheiro. Aos apaixonados por esta água suja com açúcar, minhas mais sinceras desculpas. Mas ô bebidinha ruim! Enfim, venho aqui para contar sobre o percorrer desse relacionamento um tanto quanto passional.

No início tudo eram trevas. Então, Deus disse “Fiat Lux” e a luz foi feita. Ou alguma coisa parecida. No inicio, tudo era sono, então o patrão disse “o seu trabalho não rende” e então, o café foi consumido. Por necessidade, que é geralmente o que leva os submissos proletários ao mundo do café, passei a consumir a bebida...a me cafeicolizar. Deixo claro que tomo café, duplo, quatro vezes por dia, todos os dias a três anos e não sou viciada! Porém devo confessar que sou dependente.

Meu nome é Yara e quando me iniciei por este caminho, um copo de café era o que me bastava. Ficava elétrica, as mãos escreviam sozinhas. Uma verdadeira lambidinha de êxtase! Depois, um só copo não mais me satisfazia. As companhias também exercem influência. Aquele papo gostoso e sincero da copeira do trabalho, os amigos (Sim, Sônia, me refiro a você!), a sociedade. Encontrava a bebida até mesmo em meu próprio lar. Minha mãe também consome. Mas a ela ao menos a relação é de prazer. Quanto a mim...

Igualzinha a mulher de vagabundo, que apanha, mas volta e ainda defende seu agressor, também eu me vejo todos os dias, masoquisticamente, na copa, tomando o bom e velho cafezinho. Vis esperanças de um despertar glorioso!

Termino aqui. Parada para o cafezinho! (Eu sei, um final clichê. Mas verdadeiro!)

sexta-feira, 14 de setembro de 2007

Ao meu único leitor de hoje...

Olá querido alguma coisa.

Hoje, que é sexta-feira, dia para não-reflexões, dia de tomar uns goró e encher a cara, deixarei apenas um adendo. Hoje, escrevo não apenas para mim (ou pelo menos com a certeza de que somente tenho-me como leitora). Hoje tive visita da aristocracia. Espero apenas, como a gentileza de minha brasilidade impõe, as mais humildes desculpas a tão nobre figura que teve de nestas porcas e sujas desreflexões, praticar na medida do impossível, a tolerância de seu senso-crítico. Sorry...    

quinta-feira, 13 de setembro de 2007

Ombudsmando-me

Olá querido....hum...diário?! Bom...ainda não sei se posso assim intitular este veículo de descomunicação.  Mas, embora parte da desreflexão de hoje (como podem ver, o “baratinho” de hoje é o prefixo “des”), a nomenclatura do copo recipiente de minhas entorpecencias mentais, não é realmente o motor propulsor da discussão (veja que ironia essa raiz da palavra dis cussão em que há a pressuposição do outro...seria melhor colocar “essa monocussão”). O que me leva a tão epopeicamente superar minha preguiça de pensar é o acometimento do sentido do atual hábito de escrever ... em blogs, deste ato em si que agora realizo.Seria uma masturbação do pensamento na busca de um orgasmo intelectual de um fetiche vaidoso? Uma tentativa apequenada de transcendência de realidade, já tão fadada uma rotina medíocre e sem saída em que o senso-crítico (mesmo que psedo) tem, assim como a morte certa de nossa condição de humanos, um vislumbre de entrevamento. Vejo ainda, o suspiro esperançoso do moribundo (nossa, que dramático! Bem característico de um veículo como esse!) que ironiza o próprio sentimento de esperança deste mesmo suspiro.

Leio diversos blogs por dia. Até mesmo para alimentar o conteúdo dos meus – que são dois: o Gironda Jacobina e este. E embora, fique feliz com a alternatividade deste tipo de informação, antes monopolizada por uma Globo, ou por uma Folha de São Paulo da vida, este tipo de rotina parece me apontar para uma outra coisa, ou mesmo para outras coisas. Decidirei até o final deste texto.

Certa vez, uma amiga me disse: “quando estou bem, fico meses sem entrar no Orkut, mas quando estou sob pressão, trancada no quarto, entro de cinco em cinco minutos para ver novas mensagens”. Esta fala me chamou a atenção.

Seria uma possibilidade de uma nova realidade, ou a criação de um simulacro que de forma inconsciente funciona como um mecanismo de burlar o Sistema (que medo de escrever esta palavra!), um prazer de perversão?

Digo isso, pautada também por uma matéria que li no site da BBC, Sites de relacionamento custam US$ 260 mi por dia a empresas, diz estudo, em que se demonstra um significativo aumento do acesso de trabalhadores, mais especificamente, de escritórios, a sites de relacionamento. A tese defendida é a de que tais acessos trariam perda financeira à empresa (e a qual, inclusive, discordo inexoravelmente, mas isto é outro assunto).

Como sempre faço, não estou aqui para responder nada. Pelo menos, não por agora. Mais uma vez, assim como Sócrates (que pretensão, não?) ficam apenas as perguntas.                

quarta-feira, 12 de setembro de 2007

Estranhezas de viver

Enquanto lia as três primeiras páginas do Mundo de Sofia, me apeteceu (sim, meu bom leitor, se ainda não percebestes, as coisas me apetecem) de assim como a personagem da história, brincar de filósofa. Apenas não queiram encontrar aqui, nada de profundo ou mesmo valoroso, já que este espaço é apenas uma frustrada tentativa de através de reflexões rasas encantar, com uma pseudo-intelectualidade, meus tão desejados leitores inexistentes. Em outras palavras, uma tentativa inútil de cartese de uma vaidade intelectual sem fundamento e cujo destino almejado é o compartilhamento de experiências que de tão profundamente minhas possam ser, de certa maneira, universais.

Bom, deixemos as desculpas (esfarrapadas!!!) de lado e vamos à inquietação de hoje: Porque nossos desejos sexuais são tão intrinsecamente ligados a um gostar (em uma relação de proporcionalidade: quanto maior o desejo, maior a expectativa de que o ato sexual trará mais satisfação com alguém a quem temos afeto) se é apenas um ato “mecânico”? Explico.

Se o ato, em si, é uma questão de toque, do como gostamos de ser beijados, tocados, onde gostamos de ser tocados, com que intensidade, com que ritmo, com que cheiro, com que sons, enfim, por que importa tanto que haja afeto ou mesmo, em última instância, simpatia?

O ser humano é um bicho estranho, né?! A matemática dos sentimentos não tem a mesma lógica da aritmética. X+Y para nós é igual a X ao quadrado! Idealização de prazer sexual advindo de boa interação na cama tem como condição sine qua non uma coisa que não tem nada a ver, nem com qualidade da “pegada” do parceiro escolhido e nem com compatibilidade de interação! Aliás, retornando este mesmo parágrafo, não somente a lógica dos sentimentos, mas como tal lógica amarra a nossa própria concepção de prazer...as nossas sensações, os nossos sentidos!

Éh....realmente...um bicho muito estranho!

Achou que eu fosse responder a pergunta? Deixa aí! Quem sabe.

terça-feira, 11 de setembro de 2007

Desligue o computador e vá ler um livro!

Às vezes, perdemos alguns momentos de nossa existência (quer dizer, da minha existência!) com preocupações absolutamente insignificantes. Não que outras não existam para beijar o cangote. Aliás, se as coisas continuarem do jeito que se apresentam, terei de, além de alugar os meus ovários, penhorar o meu fígado! Mas voltemos às insignificâncias nossas de cada dia.Um dias destes, me peguei super preocupada com fato de o verão estar próximo e eu ainda continuar a usar este corpo, magro e flácido. Hoje já temos a do dia: estou emburrecendo, desaprendendo a escrever. Isso porque desacostumei a escrever textos acadêmicos.

Mas vejam como este tipo de especulação inútil e irresolúvel ocupa nosso dia, nossa mente, e para desespero desta escritora que me escreve (sim, porque apenas eu leio a mim mesma!) ocupa, preenche e pior, delineia a própria concepção de ser.

Que delicia de viver seria aproveitar todos os momentos de nossa volátil existência em coisas absolutamente úteis e construtivas. Mas somos concupiscência, riqueza e honra colocou um filósofo que comecei a ler ontem (um desses misógenos, igual ao Platão!). A concupiscência, esta não nego, embora neste negro e tenebroso inverno que se interpõe tal voluntariedade da alma humana não esteja a me apetecer com a mesma efervescência dos tempos de outrora.

Moral da história (para encerrar de vez com este blá, blá, blá): que grandessíssimos  chatos seriamos se só nos ocupássemos com coisas inexoravelmente necessárias!      

terça-feira, 4 de setembro de 2007

Memórias de um Cheira Cola

http://cheiracola.blogspot.com/
Poesia e algumas "coisitchas" mais.

Diário do Fefeléchistão

http://girondajacobina.blogspot.com/
História Letras USP Trash Pornô & outras manobras políticas

Carta ao Amigo 5555555555555555555555555555 cinco!

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Caro Gordo,

Cá as coisas andam com as pernas que não tem. E se o coração insiste em bater é porque a vida tem destas coisas, ela parece querer sempre valer a pena. Por isto sempre que eu lembrar seu nome vou erguer ao alto uma canção e a minha casa, bem como a sua, vai boiar na fronteira do não.
Sabe Thiago, andei lendo livros. E o que eles me dizem não se diz em palavras, de modo que no não dito, no não escrito, reside sempre o feito. Nossos heróis, nós sabemos, estão a roubar supermercados e afirmar a humanidade acima das mercadorias, estão a burlar os preços, a pressupor os fatos nas frestas do sistema. Nossos heróis, ao contrário do besta do cazuza, não morreram de overdose: NOSSOS HERÓIS SÃO A OVERDOSE.
Nós somos o excesso, o que sobra e não se enquadra, somos os que insistem em pensar as estrutruras para fraturá-las no vértice, no apêndice do caos urbano. Vale dizer meu amigo, que nós somos por demais humanos, e como tais, por demais amamos. Esta nossa mania de amar a vida é também nossa mania de amar os vivos. Pois então, aos vivos e às vivas, todo amor que couber no tempo. Sem o por acaso das lágrimas e lamentos, nós não vivemos apenas para fabricar excrementos, isto é fato e por ele não me entrego, ao contrário, por ele é preciso negar com candura e afirmar com bravura, por ele alimentar a mente como quem alimenta criaturas, de novos nomes, novas palavras, novas vidas.
Sabe, a saudade é um negócio estranho. É quando, diante dos fatos, nos perguntamos: " o que será que meu amigo diria?" Você diria que eu quero tudo. Eu diria que não me iludo, todo silêncio um dia se queda surdo, por isso guardo minha voz e meu amor, para um dia torná-los espasmo, susto, para reverberar nas paredes e acordar o aquário onde crio minhas aves marinhas. Eu tenho tanto para dar, tanto para criar, tanto para conversar. Por isto meu amigo, caso eu no acaso da vida (não o acaso em si, mas aquela coincidência desejada, saca?) tenha por mim a morte, com sorte ou não, te peço: beba por mim o que eu beberia por vc, cante por mim o que eu cantaria com vc: faça por mim o que achar que deve fazer, afinal, somos livres para pensar, livres para discordar, para largar tudo e reconstruir, para acreditar no porvir.

P.S. : Maceió é, no fundo sem fundo, a cidade do desencanto. O povo daqui anda despovoado.
Sinto-me só. Ela permanece, há quase cinco anos ela bravamente permanece e torce por mim.

P.S. 2: salve santa geo.

Lc canário, pessoa da pessoa de tainan costa. entidade floco de neve.

p.s. último: cada vez mais fragmentado em nomes. eu.

Essa carta eu peguei no blog Memórias de um Cheira Cola:
http://cheiracola.blogspot.com/

Bom dia leitor inexistente!

No post anterior, eu dizia o como a ironia me caia bem diante da merda de realidade e de alguns seres humanos que, por serem assim biologicamente classificados, somos fadados a tolerar a existência. Pois bem, nem sempre a ironia nos aliena de tudo.

Enquanto escrevo este texto e ouço Cordel do Fogo Encantado, algumas familias terão suas vidinhas um pouco ainda pior. É que tem uma favela pegando fogo em frente ao prédio em que trabalho. È incrível como nos mantemos plácidos diante de alguns fatos que deveriam nos tocar de alguma maneira. E fazer o quê, não é mesmo? É como eu sempre digo: a minha intelectualidade não vai me salvar da morte!