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Aceita-se como vem até nós.
Tornamo-nos mais precários.
O homem avança,
sangue de folhas em esquecimento
atrai, esconde
o silêncio
entre a luz.
Lemos e relemos, em silêncio, alta voz – o meu amor gozoso imitando o pato donald –, enquanto barrávamos a manteiga, aquecíamos o leite, mexíamos freneticamente o nesquik de modo a evitar os grânulos – sem que tenhamos percebido um boi do que o homem queria dizer com aquilo: «às tantas foi só o padeiro a gozar connosco».
Mas não nos caiu bem o lanche, embora o mesmo de sempre, servido na mesma louça e eu e o meu amor sentados nos lugares certos da mesa, da cozinha, do universo: a despropósito, um nó apertava-se-nos lentamente no estômago e, com o decaimento mais veloz do sol («o Outono está quase aqui, amor»), bateu-nos também uma tristeza espessa e resignada que só com esforço não deu em lágrimas.
Indagámos a validade da manteiga, do leite – tudo dentro do prazo – e provámos o pão sem nada, a ver se o Joaquim Manuel Magalhães, ou lá como se chama o padeiro (raio de nome para um padeiro), misturara alguma porcaria na farinha – não nos pareceu. Olhámos depois desconfiados para o poema.
Texto transplantado do blog Diário Dócil - http://diariodocil.blogspot.com
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