Abro as pernas e arreganho o verbo
como quem aborta do Outro
o que lhe é fórceps e mordaça
Das palavras fez-se o útero
e do sexo, fiz-me úmida
Apodreci folha e raiz
e na letra fiz-me sangue e placenta
fecunda
matriz.
Hoje rasgo o verbo como quem rasgou meu útero
e se ainda não sou um parto e seu grito
sei ao menos já ser repetida contração
E o MEU grito já é
em contraste e dilatação
de todas as segundas pessoas do que é silêncio:
serei a primeira pessoa de minha própria poética
fêmea, prenha
aleijada
de apassivadores .
Foder com poema,
foder na poética
na razão, na leitura e no leitor
meu corpo, minha voz:
ainda que em gestação,
abortiva, mas não mais
abortada.