quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

O parto-poema



Abro as pernas e arreganho o verbo
como quem aborta do Outro
o que lhe é fórceps e mordaça 


Das palavras fez-se o útero
e do sexo, fiz-me úmida 
Apodreci folha e raiz
e na letra fiz-me sangue e placenta
fecunda
matriz.

Hoje rasgo o verbo como quem rasgou meu útero
e se ainda não sou um parto e seu grito
sei ao menos já ser repetida contração

E o MEU grito já é
em contraste e dilatação
de todas as segundas pessoas do que é silêncio:
serei a primeira pessoa de minha própria poética
fêmea, prenha
aleijada
de apassivadores .

Foder com poema,
foder na poética
na razão, na leitura e no leitor
meu corpo, minha voz:
ainda que em gestação,
abortiva, mas não mais
abortada. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário