Estamos no segundo dia do ano e volto à minha agenda, uma
planilha de Excel, com meus objetivos para 2013, para ver o que foi realizado.
Um dos primeiros, o de usar a agenda, já sabia falho. Nem lembrava mais quais
eram os objetivos ali descritos! Fico feliz, contudo, por ter feito uso dela
por mais tempo no ano em relação ao ano anterior, além de ter consigo realizar
ao menos um terço dos objetivos:
O mais fantástico disso, de escrever objetivos todo ano, de
pular ondinhas, fazer pedidos à Deus ou aos deuses, enfim, é: o de podermos
fazer isso todo ano; o de não fazermos isso toda semana, já que também
poderíamos. Um paradoxo: um milagre e a
sua negação, ao mesmo tempo.
Esse ano que passou e que a agenda acima não transparecerá foi
um ano de incertezas. Não à toa, a agenda foi usada por mais tempo do que o
usual: ela foi um escudo, um bote salva-vidas ante o medo que se acercava. Era
um ano de mudanças drásticas. Eu teria de sair da USP, eu teria muitas dívidas
pendentes, eu estava com a relação com meu filho abalada pela falta de tempo e espaço que vivíamos, além de estar em guerra aberta com
as pessoas com quem morava. Não tinha mais forças para uma seleção de mestrado,
sentia-me feia e inadequada e não via uma mão em minha salvação. Eu entrei o
ano sabendo de tudo isso e sabia que seria um ano duro. E foi. Bruxa vidente de meu destino, eu previ e
aconteceu e, ainda por cima, em tons bem mais intensos do que os observados em
minha bola de cristal coração: eu não saí da USP, fui enxotada, eu continuei
com as dívidas e as aumentei, eu passei a ficar menos com o meu pequeno, eu caí
em letargia. Mas as mãos também surgiram. Eu fui ajudada por gente que nem
imaginava e as soluções aos poucos vieram, com dificuldade, contando os
centavos, mas vieram. Fui ajudada por L.
que nem me conhecendo bem hospedou-me, dividiu o que era seu comigo, regatou-me
para a vida social, inclusive. Consegui moradia com M., que também, em voto de
confiança, abriu sua casa ao Biel e à mim.
2013 foi um ano de rupturas e descobertas: ruptura com
minhas utopias - mestrado, descoberta e ruptura com novas utopias – julho de
2013, com minhas fraquezas – militância jogada ao vento por letargia, descoberta
de um corpo vivo e que pode bem mais do que eu imaginava e bem menos do que eu
esperancei após a primeira descoberta – com a dança, com a vida social, com o
feminismo; com a escrita. Aliás, o corpo, grande tema meu em 2013, foi colocado
à prova em todos os planos: estético – parei de me esconder em roupas largar e
compridas; potencial – parei de achar que não conseguia dançar, falar e me
mover em público; sexual – aprendi que o mais subversivo nesse aspecto é a delicadeza,
a gentileza e o cuidado, ao contrário do que a tanto tempo eu acreditava. Ser
gentil é o que há de mais subversivo no sexo – obrigada feminismo e aos que me ajudaram na prática!
Em 2013, fui colocada no olho de um furacão e então fui
obrigada a me mover. O que me traz um desafio bem maior: aprender a me mover
sem ter de ser colocada à prova. Acho que é o grande desafio pra vida toda, mas
tendo em vista tudo o que passou, terá
de ser o grande passo de 2014.
Ainda não fiz a minha lista para o ano que chegou. Falta
alguma reflexão aos objetivos que, este ano, não estão todos à mão.
Contudo, já fica então o primeiro: usar a agenda...rsrs!
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