Eu tenho de escrever sobre isso antes que eu mesma o faça.
Depois, velha, com todo a secura de um velho que olha a juventude, a sua e a de
outros, sob a desidratação de sua própria secura. A história do mundo sempre
foi pela a voz dos velhos. Roubando nossa esperança, dizendo-nos que não somos
tão bons, ou tão esforçados, ou tão disciplinados, enfim, que não fomos eles e,
por isso, padeceremos dessa nossa liberdade em negá-los. É por isso que é
preciso narrar a NOSSA história por nossa própria voz. Ainda que imatura ou
débil. E tudo isso antes de passarmos para o time de lá, do time DELES. Ao
mesmo tempo, será o nosso grande presente: livres para que narrem sua velhice e, esta, finalmente, passe a
existir. Eu faço parte de uma geração em que é proibido envelhecer. Então, para
não serem dizimados, os velhos se camuflaram de jovens e nos roubam a voz: mais
uma vez. Em troca, quando perdem as forças, nós os calamos na porrada ou pior:
na mais completa indiferença. Esta é história de uma guerra entre gerações para
deter a única coisa que nos diferencia dos deuses: a incapacidade em controlar
o Tempo. O silêncio, porém, essa farsa mal ensaiada, não conterá sua força! E aviso: o desejo em
maquiar o Tempo, narra-lo sob bases inverossímeis, terá o seu preço. Olhar a
Medusa é imortalizar-se em pedra, é
viver e morrer em pedra, a eternização da vida e da morte em um mesmo ato,
paradoxo. Essa é a narrativa sobre o nosso flerte com Medusa: sobre quando e
como a conta chega. Por que, ela, um dia chega. A palavra seria o registro ao nosso anseio de nos petrificarmos sem dor ou apenas a tentativa de realizar o desejo de um dia virar pedra sem ter de morrer pra isso?
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