segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

Rubi


Se é de sangue o meu sexo,
e dele feitas minhas águas
sangue mole em pedra dura
tanto bate até que fura
De minha matriz,
maremotos
tsunamis
ressaca de vidro engolindo Portos inteiros
e se cristal delicado eu feita lhe pareço,
com estas mãos frágeis já quebradas,
cacos de fêmea,
deixo avisado que é ao quebrar-se
que o mosaico e o mar
se faz arte, força e beleza

Quando Yemanjá festeja seus feitos em mim,
cristalino se torna o sangue de entre aqui embaixo ali:
forte, cristal viscoso
liquido fumegante
sangue em água
o milagre do vinho ao contrário
e ora vermelho, ora translucido
escorrerá sempre grandes tempestades
deste meu suave estreito

Quando deitada em brasa
(de dor e de doçura)
o que lhe ofereço são maremotos para dentro,
os próprios cacos em avesso:
rasgando-me duros
em dor
e doces,
se quentes liquefeitos
Mas assim como o vidro que ao calor se remodela e não se incendia
eu vim ao mundo mesmo é pra brincadeira!
Yara das águas eu sou
sangue de fêmea eu sou
dor e candura eu sou
cuidado contudo
que é bom sempre lembrar
daquilo de que sou feita:
do mar e de Iemanjá
não há vulcão nem torso
que a eles não se arredem
e que com eles não se aplaquem
de vidro liquido e mar vermelho e revolto
arrasando costas inteiras
eu só vim ao mundo mesmo,
não confunda,
é para brincadeira
não se atreva!

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