quinta-feira, 29 de maio de 2008

O espelho

Rating:★★★★★
Category:Books
Genre: Literature & Fiction
Author:Guimarães Rosa
Se quer seguir-me, narro-lhe; não uma aventura, mas experiência, a que me
induziram, alternadamente, séries de raciocínios e intuições. Tomou-me
tempo, desânimos, esforços. Dela me prezo, sem vangloriar-me. Surpreendo-me,
porém, um tanto à-parte de todos, penetrando conhecimento que os outros
ainda ignoram. O senhor, por exemplo, que sabe e estuda, suponho nem tenha
idéia do que seja na verdade – um espelho? Demais, decerto, das noções de
física, com que se familiarizou, as leis da óptica. Reporto-me ao
transcendente. Tudo, aliás, é a ponta de um mistério. Inclusive, os fatos.
Ou a ausência deles. Duvida? Quando nada acontece, há um milagre que não
estamos vendo.

Fixemo-nos no concreto. O espelho, são muitos, captando-lhe as feições;
todos refletem-lhe o rosto, e o senhor crê-se com aspecto próprio e
praticamente imudado, do qual lhe dão imagem fiel. Mas – que espelho? Há-os
"bons" e "maus", os que favorecem e os que detraem; e os que são apenas
honestos, pois não. E onde situar o nível e ponto dessa honestidade ou
fidedignidade? Como é que o senhor, eu, os restantes próximos, somos, no
visível? O senhor dirá: as fotografias o comprovam. Respondo: que, além de
prevalecerem para as lentes das máquinas objeções análogas, seus resultados
apóiam antes que desmentem a minha tese, tanto revelam superporem-se aos
dados iconográficos os índices do misterioso. Ainda que tirados de imediato
um após outro, os retratos sempre serão entre si *muito* diferentes. Se
nunca atentou nisso, é porque vivemos, de modo incorrigível, distraídos das
coisas mais importantes. E as máscaras, moldadas nos rostos? Valem, grosso
modo, para o falquejo das formas, não para o explodir da expressão, o dinamismo fisionômico. Não se esqueça, é de fenômenos sutis que estamos tratando.

Resta-lhe argumento: qualquer pessoa pode, a um tempo, ver o rosto de outra
e sua reflexão no espelho. Sem sofisma, refuto-o. O experimento, por sinal
ainda não realizado *com rigor*, careceria de valor científico, em vista das
irredutíveis deformações, de ordem psicológica. Tente, aliás, fazê-lo, e
terá notáveis surpresas. Além de que a simultaneidade torna-se impossível,
no fluir de valores instantâneos. Ah, o tempo é o mágico de todas as
traições... E os próprios olhos, de cada um de nós, padecem viciação de
origem, defeitos com que cresceram e a que se afizeram, mais e mais. Por
começo, a criancinha vê os objetos invertidos, daí seu desajeitado tactear;
só a pouco e pouco é que consegue retificar, sobre a postura dos volumes
externos, uma precária visão. Subsistem, porém, outras pechas, e mais
graves. Os olhos, por enquanto, são a porta do engano; duvide deles, dos
seus, não de mim. Ah, meu amigo, a espécie humana peleja para impor ao
latejante mundo um pouco de rotina e lógica, mas algo ou alguém de tudo faz
frincha para rir-se da gente... E então?

Note que meus reparos limitam-se ao capítulo dos espelhos planos, de uso
comum. E os demais – côncavos, convexos, parabólicos – além da possibilidade
de outros, não descobertos, apenas, ainda? Um espelho, por exemplo, tetra ou
quadridimensional? Parece-me não absurda, a hipótese. Matemáticos
especializados, depois de mental adestramento, vieram a construir objetos a
quatro, dimensões, para isso utilizando pequenos cubos, de várias cores,
como esses com que os meninos brincam. Duvida?

Vejo que começa a descontar um pouco de sua inicial desconfiança, quanto ao
meu são juízo. Fiquemos, porém, no terra-a-terra. Rimo-nos, nas barracas de
diversões, daqueles caricatos espelhos, que nos reduzem a mostrengos,
esticados ou globosos. Mas, se só usamos os planos – e nas curvas de um bule
tem-se sofrível espelho convexo, e numa colher brunida um côncavo razoável –
deve-se a que primeiro a humanidade mirou-se nas superfícies de água quieta,
lagoas, lameiros, fontes, delas aprendendo a fazer tais utensílios de metal
ou cristal. Tirésias, contudo, já havia predito ao belo Narciso que ele
viveria apenas enquanto a si mesmo não se visse... Sim, são para se ter medo, os espelhos.

Temi-os, desde menino, por instintiva suspeita. Também os animais negam-se a
encará-los, salvo as críveis excepções. Sou do interior, o senhor também; na
nossa terra, diz-se que nunca se deve olhar em espelho às horas mortas da
noite, estando-se sozinho. Porque, neles, às vezes, em lugar de nossa
imagem, assombra-nos alguma outra e medonha visão. Sou, porém, positivo, um
racional, piso o chão a pés e patas. Satisfazer-me com fantásticas
não-explicações? – jamais. Que amedrontadora visão seria então aquela? Quem
o Monstro?

Sendo talvez meu medo a revivescência de impressões atávicas? O espelho
inspirava receio supersticioso aos primitivos, aqueles povos com a idéia de
que o reflexo de uma pessoa fosse a alma. Via de regra, sabe-o o senhor, é a
superstição fecundo ponto de partida para a pesquisa. A alma do espelho –
anote-a – esplêndida metáfora. Outros, aliás, identificavam a alma com a
sombra do corpo; e não lhe terá escapado a polarização: luz-treva. Não se
costumava tapar os espelhos, ou voltá-los contra a parede, quando morria
alguém da casa? Se, além de os utilizarem nos manejos da magia, imitativa ou
simpática, videntes serviam-se deles, como da bola de cristal, vislumbrando
em seu campo esboços de futuros fatos, não será porque, através dos
espelhos, parece que o tempo muda de direção e de velocidade? Alongo-me,
porém. Contava-lhe...

Foi num lavatório de edifício público, por acaso, Eu era moço, comigo
contente, vaidoso. Descuidado, avistei... Explico-lhe: dois espelhos – um de
parede, o outro de porta lateral, aberta em ângulo propício – faziam jogo. E
o que enxerguei, por instante, foi uma figura, perfil humano, desagradável
ao derradeiro grau, repulsivo senão hediondo. Deu-me náusea, aquele homem,
causava-me ódio e susto, eriçamento, espavor. E era – logo descobri... era
eu, mesmo! O senhor acha que eu algum dia ia esquecer essa revelação?

Desde aí, comecei a procurar-me – ao eu por detrás de mim – à tona dos
espelhos, em sua lisa, funda lâmina, em seu lume frio. Isso, que se saiba,
antes ninguém tentara. Quem se olha em espelho, o faz partindo de
preconceito afetivo, de um mais ou menos falaz pressuposto: ninguém se acha na verdade feio: quando muito, em certos momentos, desgostamo-nos por provisoriamente
discrepantes de um ideal estético já aceito. Sou claro? O que se busca,
então, é verificar, acertar, trabalhar um *modelo* subjetivo, preexistente;
enfim, ampliar o ilusório, mediante sucessivas novas capas de ilusão. Eu,
porém, era um perquiridor imparcial, neutro absolutamente. O caçador de meu
próprio aspecto formal, movido por curiosidade, quando não impessoal,
desinteressada; para não dizer o urgir científico. Levei meses.
Sim, instrutivos. Operava com toda a sorte de astúcias: o rapidíssimo
relance, os golpes de esguelha, a longa obliqüidade apurada, as
contra-surpresas, a finta de pálpebras, a tocaia com a luz de-repente acesa,
os ângulos variados incessantemente. Sobretudo, uma inembotável paciência.
Mirava-me, também, em marcados momentos – de ira, medo, orgulho abatido ou
dilatado, extrema alegria ou tristeza. Sobreabriam-se-me enigmas. Se, por
exemplo, em estado de ódio, o senhor enfrenta objetivamente a sua imagem, o
ódio reflui e recrudesce, em tremendas multiplicações: e o senhor vê, então,
que, de fato, só se odeia é a si mesmo. Olhos contra os olhos. Soube-o: os
olhos da gente não têm fim. Só eles paravam imutáveis, no centro do segredo.
Se é que de mim não zombassem, para lá de uma máscara. Porque, o resto, o
rosto, mudava permanentemente. O senhor, como os demais, não vê que seu
rosto é apenas um movimento deceptivo, constante. Não, vê, porque mal
advertido, avezado; diria eu: ainda adormecido, sem desenvolver sequer as
mais necessárias novas percepções. Não vê, como também não se vêem, no
comum, os movimentos translativo e rotatório deste planeta Terra, sobre que
os seus e os meus pés assentam. Se quiser, não me desculpe; mas o senhor me
compreende.

Sendo assim, necessitava eu de transverberar o embuço, a travisagem daquela
*máscara*, a fito de devassar o núcleo dessa nebulosa – a minha vera forma.
Tinha de haver um jeito. Meditei-o. Assistiram-me seguras inspirações.

Concluí que, interpenetrando-se no disfarce do *rosto externo* diversas
componentes, meu problema seria o de submetê-las a um bloqueio "visual" ou
anulamento perceptivo, a suspensão de uma por uma, desde as mais rudimentares, grosseiras, ou de inferior significado. Tomei o elemento animal, para começo.

Parecer-se cada um de nós com determinado bicho, relembrar seus *facies*, é
fato. Constato-o, apenas; longe de mim puxar à bimbalha temas de metem
psicose ou teorias biogenéticas. De um mestre, aliás, na ciência de Lavater,
eu me inteirara no assunto. Que acha? Com caras e cabeças ovinas ou eqüinas,
por exemplo, basta-lhe relancear a multidão ou atentar nos conhecidos, para
reconhecer que os há, muitos. Meu sósia inferior na escala era, porém – a
onça. Confirmei-me disso. E, então, eu teria que, após dissociá-los
meticulosamente, aprender a *não ver*, no espelho, os traços que em mim
recordavam o grande felino. Atirei-me a tanto.

Releve-me não detalhar o método ou métodos de que me vali, e que revezavam a
mais buscante análise e o estrênuo vigor de abstração. Mesmo as etapas
preparatórias dariam para aterrar a quem menos pronto ao árduo. Como todo
homem culto, o senhor não desconhece a Ioga, e já a terá praticado, quando
não seja, em suas mais elementares técnicas. E, os "exercícios espirituais"
dos jesuítas, sei de filósofos e pensadores incréus que os cultivam, para
aprofundarem-se na capacidade de concentração, de par com a imaginação
criadora... Enfim, não lhe oculto haver recorrido a meios um tanto
empíricos: gradações de luzes, lâmpadas coloridas, pomadas fosforescentes na
obscuridade. Só a uma expediência me recusei, por medíocre senão falseadora,
a de empregar outras substâncias no aço e estanhagem dos espelhos. Mas, era
principalmente no *modus* de focar, na visão parcialmente alheada, que eu
tinha de agilitar-me: olhar não-vendo. Sem ver o que, em "meu" rosto, não
passava de *reliquat* bestial. Ia-o conseguindo?

Saiba que eu perseguia uma realidade experimental, não uma hipótese
imaginária. E digo-lhe que nessa operação fazia reais progressos. Pouco a
pouco, no campo-de-vista do espelho, minha figura reproduzia-se-me lacunar,
com atenuadas, quase apagadas de todo, aquelas partes excrescentes.
Prossegui. Já aí, porém, decidindo-me a tratar simultaneamente as outras
componentes, contingentes e ilusivas. Assim, o elemento hereditário – as
parecenças com os pais e avós – que são também, nos nossos rostos, um lastro evolutivo residual.

Ah, meu amigo, nem no ovo o pinto está intacto. E, em seguida, o que se
deveria ao contágio das paixões, manifestadas ou latentes, o que ressaltava
das desordenadas pressões psicológicas transitórias. E, ainda, o que, em
nossas caras, materializa idéias e sugestões de outrem; e os efêmeros
interesses, sem seqüência nem antecedência, sem conexões nem fundura.
Careceríamos de dias, para explicar-lhe. Prefiro que tome minhas afirmações
por seu valor nominal.

À medida que trabalhava com maior mestria, no excluir, abstrair e abstrar,
meu esquema perspectivo clivava-se, em forma meândrica, a modos de
couve-flor ou bucho de boi, e em mosaicos, e francamente cavernoso, como uma
esponja. E escurecia-se. Por aí, não obstante os cuidados com a saúde,
comecei a sofrer dores de cabeça. Será que me acovardei, sem menos?

Perdoe-me, o senhor, o constrangimento, ao ter de mudar de tom para
confidência tão humana, em nota de fraqueza inesperada e indigna. Lembre-se,
porém, de Terêncio. Sim, os antigos; acudiu-me que representavam justamente
com um espelho, rodeado de uma serpente, a Prudência, como divindade
alegórica. De golpe, abandonei a investigação. Deixei, mesmo, por meses, de
me olhar em qualquer espelho.
Mas, com o comum correr quotidiano, a gente se aquieta, esquece-se de muito.
O tempo, em longo trecho, é sempre tranqüilo. E pode ser, não menos, que
encoberta curiosidade me picasse. Um dia... Desculpe-me, não viso a efeitos
de ficcionista, inflectindo de propósito, em agudo, as situações.
Simplesmente lhe digo que me olhei num espelho e não me vi. Não vi nada. Só
o campo, liso, às vácuas, aberto como o sol, água limpíssima, à dispersão da
luz, tapadamente tudo. Eu não tinha formas, rosto? Apalpei-me, em muito.
Mas, o invisto. O ficto. O sem evidência física. Eu era – o transparente
contemplador?.. Tirei-me. Aturdi-me, a ponto de me deixar cair numa
poltrona.
Com que, então, durante aqueles meses de repouso, a faculdade, antes
buscada, por si em mim se exercitara! Para sempre? Voltei a querer
encarar-me. Nada. E, o que tomadamente me estarreceu: eu não via os meus
olhos. No brilhante e polido nada, não se me espelhavam nem eles!
Tanto dito que, partindo para uma figura gradualmente simplificada,
despojara-me, ao termo, até à total desfigura. E a terrível conclusão: não
haveria em mim uma existência central, pessoal, autônoma? Seria eu um...
des-almado? Então, o que se me fingia de um suposto *eu*, não era mais que,
sobre a persistência do animal, um pouco de herança, de soltos instintos,
energia passional estranha, um entrecruzar-se de influências, e tudo o mais
que na impermanência se indefine? Diziam-me isso os raios luminosos e a face
vazia do espelho – com rigorosa infidelidade. E, seria assim, com todos?
Seríamos não muito mais que as crianças – o espírito do viver não passando
de ímpetos espasmódicos, relampejados entre miragens: a esperança e a
memória.

Mas, o senhor estará achando que desvario e desoriento-me, confundindo o
físico, o hiperfísico e o transfísico, fora do menor equilíbrio de
raciocínio ou alinhamento lógico – na conta agora caio. Estará pensando que,
do que eu disse, nada se acerta, nada prova nada. Mesmo que tudo fosse
verdade, não seria mais que reles obsessão auto-sugestiva, e o despropósito
de pretender que psiquismo ou alma se retratassem em espelho...
Dou-lhe razão. Há, porém, que sou um mau contador, precipitando-me às
ilações antes dos fatos, e pois: pondo os bois atrás do carro e os chifres
depois dos bois. Releve-me. E deixe que o final de meu capítulo traga luzes
ao até agora aventado, canhestra e antecipadamente.

São sucessos muito de ordem íntima, de caráter assaz esquisito. Narro-os,
sob palavra, sob segredo. Pejo-me. Tenho de demais resumi-los.
Pois foi que, mais tarde, anos, ao fim de uma ocasião de sofrimentos
grandes, de novo me defrontei – não rosto a rosto. O espelho mostrou-me.
Ouça. Por um certo tempo, nada enxerguei. Só então, só depois: o tênue
começo de um quanto como uma luz, que se nublava, aos poucos tentando-se em
débil cintilação, radiância. Seu mínimo ondear comovia-me, ou já estaria
contido em minha emoção? Que luzinha, aquela, que de mim se emitia, para
deter-se acolá, refletida, surpresa? Se quiser, infira o senhor mesmo.

São coisas que se não devem entrever; pelo menos, além de um tanto. São
outras coisas, conforme pude distinguir, muito mais tarde – por último – num
espelho. Por aí, perdoe-me o detalhe, eu já amava – já aprendendo, isto
seja, a conformidade e a alegria. E... Sim, vi, a mim mesmo, de novo, meu
rosto, um rosto; não este, que o senhor razoavelmente me atribui. Mas o
ainda-nem-rosto – quase delineado, apenas – mal emergindo, qual uma flor
pelágica, de nascimento abissal... E era não mais que: rostinho de menino,
de menos-que-menino, só. Só. Será que o senhor nunca compreenderá?

Devia ou não devia contar-lhe, por motivos de talvez. Do que digo, descubro,
deduzo. Será, se? Apalpo o evidente? Trebusco. Será este nosso desengonço e
mundo o plano – intersecção de planos – onde se completam de fazer as almas?
Se sim, a "vida" consiste em experiência extrema e séria; sua técnica – ou
pelo menos parte – exigindo o consciente alijamento, o despojamento, de tudo
o que obstrui o crescer da alma, o que a atulha e soterra? Depois, o "*salto
mortale*"... – digo-o, do jeito, não porque os acrobatas italianos o
aviventaram, mas por precisarem de toque e timbre novos as comuns
expressões, amortecidas... E o julgamento-problema, podendo sobrevir com a
simples pergunta: – "*Você chegou a existir?*"
Sim? Mas, então, está irremediavelmente destruída a concepção de vivermos em
agradável acaso, sem razão nenhuma, num vale de bobagens? Disse. Se me
permite, espero, agora, sua opinião, mesma, do senhor, sobre tanto assunto.
Solicito os reparos que se digne dar-me, a mim, servo do senhor, recente
amigo, mas companheiro no amor da ciência, de seus transviados acertos e de
seus esbarros titubeados. Sim?


Guimarães Rosa, João. *Primeiras estórias*. Rio de Janeiro: Nova Fronteira,
1988.
Fonte: http://groups.google.com.br/group/sapientiae/browse_thread/thread/0022b084f0b4a923

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endrominus

http://endrominus.wordpress.com/
É um blog que me causou certo estranhamento. O seu autor publica um texto e este serve de mote à trilha sonora, uma mistureba feita pelo autor.

terça-feira, 27 de maio de 2008

Dúvidas desnecessárias

Um espelho mentiroso...

 

Reflete:

(  ) a mentira da verdade;

(  ) a verdade da mentira;

(  ) ou simplesmente não reflete?

 

Em não refletir, ainda sim é um espelho? Ou é somente mentiroso?

E todo espelho não é inerentemente mentiroso? Ou apenas reflete uma meia verdade?

 

Existem meias mentiras?

 

Eu sou o espelho e o seu reflexo...

Lógica deformal

Sou mais naquilo que não consigo dizer. Digo o contrário do havia pensado. Gostaria de pensar o paradoxo daquilo penso e ser isto e o seu contrário. Mas aí, Lacan me disse que existo onde não penso.

Então, quero existir onde não existo, dizer o que penso que não digo e que na verdade, não seria possível nem ao menos se pensar quiçá dizer e, paradoxalmente, inverter todas essas relações e ainda sim me encontrar dentro delas. Acabo que me perco e faço o contrário do que havia pensando e o contrário do que havia dito e nisto existo, embora fora de mim, o que não quer dizer que eu também não seja nisto. Mas me coloca a dúvida se aí eu realmente seja menos ou apenas esteja.

[Além de não saber onde ficariam os “nãos”]

Apenas uma viajada nas frases abaixo:

“O que não sei dizer é mais importante do que o que eu digo.” Clarice Lispector

"Penso onde não sou, logo sou onde não penso" - Lacan.

“Penso, logo existo” – Descartes

“Penso, logo desisto” – Sonia Rocha

O texto acima foi inicialmente publicado no Gironda Jacobina

 

 

segunda-feira, 19 de maio de 2008

Alguém me empresta branquinho?

Risco e rabisco, disse a mim minha orientadora (ou mais lisonjeiro seria desonrientadora?!).

Mas agora que uso computador, ficam apenas os borrões de idéias...