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segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Beijos paulistanos

Histórias que poderiam ser reais. Realidades que poderiam ser fictícias... E quem sabe o limite entre a imaginação e a realidade? Ou vice-versa.

...

A chuva providencialmente cai. Somente aos legítimos eleitos é conferido o sagrado dever de manter o ritual em meio ao divino aguaceiro.  É carnaval, Amor!

E mais uma vez um folião rouba um beijo da mascarada. Vestida em renda, protegida em sua máscara de brilho e penas -  rosto encoberto e alma desnuda - a escolhida sentia em seus lábios pela primeira vez o sentido das marchinhas tantas vezes cantadas. Talvez obra da petulância de um bêbado ladrão da íntima carícia.  Mas eis que o olhar de seriedade destoante a fitar seus olhos de cor indecisa a desmente. E fez-se delicadeza pela exata palavra úmida o que somente o é na imprecisão de um improviso.  

- Não lembro há quanto tempo não beijava alguém na chuva...

(E a mim que nunca havia beijado ninguém na chuva?)

- Posso ver o seu rosto?

Mais uma vez, o Beijo. Beijou-lhe também as mãos com aprovação.  E ao se recordar de seu papel de fanfarrão, retorna à avenida.

Enquanto isso, ali ao lado, licença poética: outro cortês folião, em gravata borboleta, chapéu e sapatos elegantes, aos beijos em baixo do guarda-chuva no meio da grande festa pagã.  

É carnaval, Amor. Apesar de São Paulo.

...

Festa da empresa. Novamente atrasada. Restavam apenas quarenta minutos antes de tudo ter fim.  Não entendia porque se dava ao trabalho de ir a festas como essa. O melhor talvez fosse beber o mais que pudesse nesse meio tempo.

Vieram as cervejas.

 Veio também um rapaz. Veio a conversa.

- Já é quase meia noite.  O metrô logo encerra o horário de funcionamento. Uma pena não ter chegado antes à festa.

- E quem garante que nos encontraríamos antes?

- Posso ao menos acompanhá-la até a estação.

Na última viagem, finalmente, o Beijo. E as portas liricamente demoram mais que o habitual a fechar as portas que interromperiam os enamorados. O instante agora infinito. Paulistano da gema.

 

 

terça-feira, 24 de janeiro de 2012

E o que resta dos ombros

Um humilde diálogo com o poema de Drummond.

...

Os ombros


ainda suportam


O peso da mão de uma criança


Apagada


após o extermínio


Dos não pagadores de impostos


almas secas


sonham concretadas


as semelhanças entre São Paulo e Nova York


E os ombros,


agora quebrados,


continuam a suportar esse mundo .


Não se pode dizer o mesmo do coração.  

 ...

O poema com o qual dialogo:

Os Ombros Suportam o Mundo

Carlos Drummond de Andrade


Chega um tempo em que não se diz mais: meu Deus.
Tempo de absoluta depuração.
Tempo em que não se diz mais: meu amor.
Porque o amor resultou inútil.
E os olhos não choram.
 
E as mãos tecem apenas o rude trabalho.
E o coração está seco.


Em vão mulheres batem à porta, não abrirás.
Ficaste sozinho, a luz apagou-se,
mas na sombra teus olhos resplandecem enormes.
És todo certeza, já não sabes sofrer.
E nada esperas de teus amigos.


Pouco importa venha a velhice, que é a velhice?
Teu ombros suportam o mundo
e ele não pesa mais que a mão de uma criança.
 
As guerras, as fomes, as discussões dentro dos edifícios
provam apenas que a vida prossegue
e nem todos se libertaram ainda.
Alguns, achando bárbaro o espetáculo,
prefeririam (os delicados) morrer.
Chegou um tempo em que não adianta morrer.
Chegou um tempo em que a vida é uma ordem.
A vida apenas, sem mistificação.

 

sexta-feira, 22 de julho de 2011

Os prazeres paulistanos de cada dia

18 de julho de 2011

Local: Metrô Pinheiros, integração CPTM – 19 horas

Detalhes: Y. no elevador de pessoas com deficiência física.

Cinco andares de escada rolante e o novo metrô super, ultra-faturado de São Paulo é inagurado. Teriam os engenheiros da faraônica construção se inspirado na biblioteca de Borges, ou no inferno de Dante?

Aguardo a chegada do elevador e assim que a porta se abre a imagem que me vem à mente e aos olhos é de que se assemelha muito às lotações ilegais que há alguns anos circulavam a todo o momento na Zona Leste de São Paulo.

TPM.

Y. em dias de espirito de porco.

Y. no elevador com várias pessoas aparentemente sem nenhuma deficiência ou a nenhum acompanhando.

Y:  -  Esses elevadores realmente são ótimos, né? Ajudam mesmo. Nem eu sabia que tinham tantas pessoas com deficiência física em São Paulo!

Pessoas no elevador:  - ...

Todos exceto a um homem descem imediatamente após a minha fala.

(Não sei por que?!!!)

O quem nem a medicina, nem a Santa Madre Igreja , nem Véio Preto, ou mesmo Alá  explicam é que muitas daquelas pessoas, assim que o elevador quebrar em razão de sua grande utilização, serão automaticamente curadas de suas deficiências.

Ou melhor, nem todas...

OBS: A cara de extremo constrangimento de todos -  os quais fiz questão de olhar nos olhos - não tem preço. Para todas as outras,  Master Card.