Histórias que poderiam ser reais. Realidades que poderiam ser fictícias... E quem sabe o limite entre a imaginação e a realidade? Ou vice-versa.
...
A chuva providencialmente cai. Somente aos legítimos eleitos é conferido o sagrado dever de manter o ritual em meio ao divino aguaceiro. É carnaval, Amor!
E mais uma vez um folião rouba um beijo da mascarada. Vestida em renda, protegida em sua máscara de brilho e penas - rosto encoberto e alma desnuda - a escolhida sentia em seus lábios pela primeira vez o sentido das marchinhas tantas vezes cantadas. Talvez obra da petulância de um bêbado ladrão da íntima carícia. Mas eis que o olhar de seriedade destoante a fitar seus olhos de cor indecisa a desmente. E fez-se delicadeza pela exata palavra úmida o que somente o é na imprecisão de um improviso.
- Não lembro há quanto tempo não beijava alguém na chuva...
(E a mim que nunca havia beijado ninguém na chuva?)
- Posso ver o seu rosto?
Mais uma vez, o Beijo. Beijou-lhe também as mãos com aprovação. E ao se recordar de seu papel de fanfarrão, retorna à avenida.
Enquanto isso, ali ao lado, licença poética: outro cortês folião, em gravata borboleta, chapéu e sapatos elegantes, aos beijos em baixo do guarda-chuva no meio da grande festa pagã.
É carnaval, Amor. Apesar de São Paulo.
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Festa da empresa. Novamente atrasada. Restavam apenas quarenta minutos antes de tudo ter fim. Não entendia porque se dava ao trabalho de ir a festas como essa. O melhor talvez fosse beber o mais que pudesse nesse meio tempo.
Vieram as cervejas.
Veio também um rapaz. Veio a conversa.
- Já é quase meia noite. O metrô logo encerra o horário de funcionamento. Uma pena não ter chegado antes à festa.
- E quem garante que nos encontraríamos antes?
- Posso ao menos acompanhá-la até a estação.
Na última viagem, finalmente, o Beijo. E as portas liricamente demoram mais que o habitual a fechar as portas que interromperiam os enamorados. O instante agora infinito. Paulistano da gema.
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