quinta-feira, 26 de abril de 2012

Aguâncias

II

No início

 o horizonte

belo e distante

nítido

como a luz e a escuridão

os contornos cheios de certeza

o coração sempre em linha reta

***

Depois

A  vida em enxurrada

fecundação

em meu útero

a fórceps

este estado de mulher

E então

os sonhos nublados

os desejos 

desde ali

borrões

  ***

Choveu

Placentas inteiras

encharcaram-me todas as certezas

mofações fertilizadas

um dilúvio

a terra abrindo-me com os dentes

exigindo o seu retorno ao meu ventre

um parto ao avesso

contrações eternas  

abortanças compulsórias

um rastro de ilusões pelo caminho

  *** 

agora

apenas

acalentar as frustrações

para que não acordem.

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