Eu apenas planto sementes.
quinta-feira, 20 de agosto de 2020
Ancestralidade
quarta-feira, 7 de novembro de 2012
Doce, doce!
quinta-feira, 1 de novembro de 2012
Conectivos
Eu,
frases desmembradas de seu fim,
insustentável,
(desperdício de vocábulos)
mastigando
vazios e sonhos,
e,
entre
as últimas-mais-novas-das-novas-notícias
(salgados de padaria suja requentados)
:
eleições-dos-EUA-bombardeio-na-faixa-de-Gaza-tendência-batom-matte-para-o verão-2013-mulher-esfaquiada-nos-Jardins-policia-prende-seis-elementos- medo-medo-medo-medo-!
terra-água-fogo-ar
vida...
flor...esmagada...na...calçada...ladreada...de...pedrinhas...no...meio...do...caminho...
Você.
Eu te amo.
Desconecto-me
(Eu)
Para ti
tu
desprovida de armaduras
em vidro e plumas
descalça
desnuda
TU
em mim
POR FIM
dançar
no inverso
do abismo do abismo
o sonhar
nas salivas
das línguas
conectivos do amar.
Sós e sóis
amor
infinito úmido por narrar.
segunda-feira, 24 de setembro de 2012
Utilidades
Tempo de absoluta depuração.
Tempo em que não se diz mais: meu amor.
Porque o amor resultou inútil.
E os olhos não choram.
E as mãos tecem apenas o rude trabalho.
E o coração está seco.”
quinta-feira, 26 de julho de 2012
Perfurações íntimas II
Escorre,
entre paredes
molhadas de vergonha,
vingança de mulher
Na brancura alheia do papel,
Menstruação!
O vermelho enjeitado
que te enojas,
mas que não consegues calar.
_______________
Republico o poema, pois houve modificações.
segunda-feira, 23 de julho de 2012
INICIAÇÃO
Primeiro,
o abandono dos sapatos.
Os pés nus,
e a descoberta íntima do chão.
Entender o mundo pelo tato,
e experimentar a firmeza da vida
pelos pés desprotegidos de seus medos.
Depois, no solo desnudo de cimento,
acariciar a terra
e nela reencontrar,
íntima de mim,
os meus pés e o meu firmamento.
Já arraigada, por fim,
redescobrir o corpo
de suas inúteis cobertas.
Olhar por entre as vendas desses panos,
o que do olhar acoberta.
Devolver ao mundo,
os sapatos apertados,
os passos rasgados,
e as cicatrizes
que suas roupas escondiam
enquanto não tinha coragem de me despir.
segunda-feira, 16 de julho de 2012
MULHER 2
No farelo do espelho,
um corpo em retalhos,
no retrato esmigalhado,
entre cacos de reflexo,
avisto,
às avessas e embaçada,
nas frestas de meus olhos,
uma mulher.
À espreita,
inesperada mesmo de mim,
bicos de seios,
uns lábios lambuzados,
um dorso em segredo
(desejo silenciado),
Eu. Mulher.
Entre migalhas e reflexos,
cacos de desejos,
e retalhos espelhados,
o olho vê
nas frestas de meu sexo,
pelos segredos de seus lábios,
no toque de meu dorso,
em seus olhos nos meus seios,
Eu, mulher.
Pela fresta de meu corpo,
no segredo de seu dorso,
Pelo bico de seu sexo,
e os olhos em desejo,
inesperada mesmo de mim,
nítida e alinhavada,
no avesso do avesso da vista,
uma menina morre.
E uma mulher se olha ao espelho.
sexta-feira, 1 de junho de 2012
Sem título
O tempo masca o corpo enquanto assiste um noticiário da privada. Ouço um relato de crime hediondo e distraio-me para que não me importe. Durmo. Acordo. Pego o ônibus. E sonho o rebentar de estradas e seus crânios estúpidos pelo chão. O vidro está embaçado. Chovem-me gritos infantis e uma enxurrada de menstruação e placentas atam-me as vísceras. A vida fez-me água. Fez-me também covarde. E agora meu reflexo só alcança a fugir de meus espelhos. As estradas seguem intactas. Os noticiários seguem ilesos. Já os meus cacos caem. Inconveniência de minhas aguâncias.
Eu obedeço pau-mandada a uma pontuação fingida. Aos meus estupradores abro as pernas e ensaio um gozo. Lâminas que me represam. Todos creem no gemido. Embora desconfiem.
Sentamo-nos. Há dias. Há anos. Há séculos. Somos insensíveis às feridas de nossas bundas. Epidemia coletiva. Anestesiados à dor. O que ninguém consegue me explicar é ter um cartão de crédito e ainda sim continuar sem um único gozo. Sem querer ignorar. Eu não sei. Mas gostaria. Eu não vejo. Mas pressinto. E ainda sinto essa aflição. Galáxias inteiras gritam-me pelas fibras cataclismos estuporados de pavor. Eu leio os muros e sei que não estou só. Eu sei. Não exatamente. Sinto. Mais do que certezas. E como dizer? Não sei dizer. Fizeram represa de mim. Conheço algumas pessoas admiráveis que poderiam fazê-lo. A tarefa, todavia, não é passível de substituição. Sou minha única porca de mim. E ninguém poderá dizê-lo de minha boca. O meu mau hálito é peculiar e doce. Muitos gostariam de assepsiá-lo. E fazer-me acreditar que é causa mortis mau hálito. Silenciosidades, surdo canibalismo. Chupação da voz. Somos peritos em transitivar o verbo calar. Porém, entretanto, em toda via, embora prisioneira dessas margens, não fui amnesiada. Ali além, sei-sinto de que, se eu abrir meus dentes, também haverá licorosos segredos. Fétidos, mas acima de tudo, doces e singulares. Que não estouram crânios. Nem estradas. Nem as margens. Nem os pontos e vírgulas. Mas lambem esgotos e fedem de cacos o seu reflexo. E nisso, somos. Em comum.
Podem conter o liquido. Todavia, ainda ouvem na garganta o odor que a atravessa.
sexta-feira, 25 de maio de 2012
Quase Debussy
Para cá.
Para lá.
Para.
O novelozinho cai.
A minha criança dorme
(eu acho)
Não vi.
Estava no trabalho.
Em diálogo com o poema Debussy, de Manuel Bandeira
Debussy
Para cá, para lá...
Para cá, para lá...
Um novelozinho de linha...
Para cá, para lá...
Para cá, para lá...
Oscila no ar pela mão de uma criança
(Vem e vai...)
Que delicadamente e quase a adormecer o balança
- Psio... -
Para cá, para lá...
Para cá e...
- O novelozinho caiu.
terça-feira, 15 de maio de 2012
O tear
Os fios caem,
os fios caem...
de minha cabeça
fiar
em in-verso
tecidos
centeias
em dourado linho,
os sonhos
cabeça oca
e, todavia,
ainda
não está careca.
terça-feira, 28 de fevereiro de 2012
Óca
Oca -vida
Di vi di da
p e q u e n i na
di a gra ma da
(s)
h o r a s
n u l a s
m u l a s
Poesiajuntatudo
DesorganizaTodos
tudonecessariamente
LetraCheia
Contramão
Freio ooooooooooooooooooooo
Ooo
TEMPO
O
Sil(^)encio
Lento
o
o
o
o
!
a
(o)
lento
de lírio
Deva -neio
(gar)
apesar de
vitais,
Fatais
Pobres
de lineios!
Com o perdão
das rimas
e dos
ai! ai! ais!
Soluço
sonhado
no vácuo
da
letra
Cinza
da memória
Poesia:
ÓcaVida.
quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012
Descontornos
Nas veias
lãs e linhos
enchentes
emaranhadas
Poesia
desalinhada
O coração
maciês rebelde
contamina
a fibra
do papel
com as linhas
do sangue
e eis
que
aqui
letramentos
em
desde
há
linhos
Ninhos
cem
contornos
terça-feira, 28 de junho de 2011
Perfurações íntimas
Quando eu nasci, um anjo torto
me disse: Vai, Yara! E seja imagem e semelhança.
Corpo incorreto
Contorno choco...
O torto da ideia do olho
o osso do fundo do oco
sangue
entranhas...
Estranha.
Um soco em ponta de vida
Carne sem rima
escultura de Sal
As mãos quebradas
Carne-Cal
Carne-caustica
Em praias lisas
de marés retilíneas
galhos uniformes
folhas geométricas
O coração correto
a carne in-core-recta
Só poderia mesmo dar nisto(!):
sentimentos torpes
poesia manca
No liso dorso do papel
um tropeço na artéria dos sonhos.