sexta-feira, 18 de maio de 2012

Tempo seco

Há tempos em que a gente

deserta

a alma seca

afluente por afluente 

as veias estanques e ainda sim abertas


Há tempos de desesperança

a cada passo pisado, a cada marca de pé no limo

a boca seca 

a tentação de enfiar goela a baixo

o que resta de lama úmida

ilusão de um gole de água.


Eu tenho uma colcha em flagelos 

farelos

sonhos 

a ponta da meada já esquecida do nó de seu enredo


Mas encosto aos lábios um pouco de barro

e em cada veia de meus áridos córregos

o sangue a insistir na procura de velhas vias

nascentes não cicatrizadas 

distraído nos rodilhos de seus enleios


A colcha segue  

esburacos

A secura segue 

o redesenho de seus veios

E o meu destino segue 

o corte

no embaraço de um o fio úmido 

o corpo segue 

a vida

alma 

abaixo

o seio em torções

coxeia

labirinto

gauche 

alumbramentos

de uma enxurrada de pontas

as linhas em gotejo.  

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