Entro no elevador para pessoas com deficiência e em seguida entra uma moça a me acompanhar. Inicia-se a rotineira conversa de elevador...
- Aí, eu estou tão cansada. Minhas pernas doem. Ainda bem que há esse elevador.
- Hum, hum.
Nesse momento resolvo guardar o meu bilhete de trem e me atrapalho com o zíper da bolsa.
- Você quer ajuda?
O zíper resolve ceder e eu consigo guardar o bilhete. Com a situação já resolvida, respondo:
- Não, obrigada.
- Você se vira bem, né?
- Nem sempre. Obrigada por oferecer ajuda.
- Ainda bem que você não acha ruim.
- Não, não vejo problemas.
- Você estava passeando?
- Não. Estou saindo do trabalho.
- Ah é? Você trabalha?
- Sim, faz sete anos.
- Pois é... Você aí com deficiência física, com os bracinhos deformados e trabalhando. E o meu marido que fica em casa desanimado com a vida. Ele deveria estar aqui pra te ver. Saber que tem de seguir em frente mesmo, feliz.
- E porquê ele está desanimado? (Se arrependimento matasse...).
- Ah, ele já teve dez derrames. Mas ainda devia agradecer a Deus. Porque olha você! Com o corpo todo deformado, nem tem mãos direito! E ele que nem tem nada faltando e nem nada de feio no corpo! Que ele tenha partes do corpo que não se mexem e não consiga andar, eu entendo. As vezes não consegue nem ir ao banheiro sozinho. Mas desanimar?! Você aqui em uma situação beeeeeeem pior que a dele e veja: até trabalha! Eu assisti um testemunho na igreja de um rapaz, sem braços, nem pernas, assim, quase como você. Um toquinho, nem sei como sobrevivia. Mas foi lá e testemunhou na igreja que é feliz e venceu na vida. E é assim que tem de ser! Você já viu esses testemunhos?
- (!!!)
***
Jogar, ou não se jogar na linha de trem: eis a questão.
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