sexta-feira, 31 de agosto de 2012

Asas

Eu, aqui, nessa cadeira

olhos 

à tela,

paródia de infinito.

Distraio-me

e, por um instante, 

percebo nessa caixa morte-vida de pandora

o meu reflexo difuso 

misturado 

à janela, às arvores, aos pássaros 

ao voo...


Eu, aqui, nessa cadeira.


Tenho os pés palmilhados de estrelas

e pegadas que arrastam cicatrizes solares e tatuagens lunares de todos os meus afetos.

Dizem que isso não importa,

que meus pés são mancos,

que estrelas são objetos sem valor,

e o mais feio em mim são essas cicatrizes e essas tatuagens, 

vulgares.


Desconfio.


Eu, aqui, nessa cadeira.

De pés que não tocam o chão.

Eu, aqui, nessa cadeira.

Pés amarrados.


Enquanto. 


Cicatrizes, tatuagens e estrelas esvoaçam à minha cabeça

Nela fazem ninho 

anárquico,

desviam o olhar da tela, 

e eu, aqui, nessa cadeira

vejo o reflexo da janela,

que é a janela

e o voo

que é o Voo

De asas tatuadas 

cicatrizes minhas.


Eu, aqui, nessa cadeira,

sonho o sonho do voo

coisa vulgar, mas ainda,

um Voo. 

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