quarta-feira, 14 de dezembro de 2011
segunda-feira, 26 de julho de 2010
A confusa Senhorita D.

A esta que vos escreve as coisas não andam, tropeçam. Mil coisas a dizer e ainda sim, não saber como. E o que me trouxe aqui hoje? Uma enorme necessidade de dispersão.
Após três longos meses da creche de meu filho em greve, dívidas, dúvidas, trabalho, estágio da faculdade e toda sorte de imprevistos, heis que volto à arena: desisti de organizar minhas deslumbrações. Por esse período, passaram em meu socorro, ou para me apunhalar de vez, as leituras de Hilda Hilst, a obscena Senhora D. (duas vezes) , e no momento, o diário de Anais Nin, Henry e June. O que isto tem a ver? Que coinscidentemente, ou como se diz por aí, por fraqueza de espírito, nunca estive tão próxima da sensação de me ver em espelho enquanto lia um livro. Em especial, pelo primeiro. Senhora D, de derrelição, desamparo, é um dos livros mais fortes que li em toda minha vida.
Quem sabe por ter sido um período de inferno astral (rsrs!) a sensação de desamparo descrita no livro e vivida em meus dias acasalaram-se como dois amantes. Assim como a protagonista, a Senhora D, o mundo parece ter adquirido dimensões infinitas, esmagadoras, e eu tão pequena a divagar por locais que não me pertecem. Uma eterna estrangeira em terra própria.
Algo em mim está em grande mudança e só o que sei é que dói. Espero que seja uma dor necessária.
O que acontece é que de uma hora pra outra eu me sinto uma hóspede do mundo, uma desterrada nata. Maltida reflexão a esfregar em minha fuça a casa onde sou a inquilina indesejada, o trabalho alheio ao meu conhecimento, o lazer fugitivo. A faculdade em que sou um incomôdo, o Sindicato que despreza minhas necessidades, a Universidade a quem crê que me fazer benevolência. A família cuidando de sua vida. Na época, um amor que só cuidava de si (algo que enfim mudou). A melhor amiga do outro lado do Oceano, a outra do do outro lado da cidade, casada. No meio disso tudo, o filho, as contas, todas as más noticias dos jornais.
Lembranças....Meus país e eu passamos toda minha infância e juventude morando nos cômodos da frente da casa de minha avó paterna. Coisas boas - vó a todo momento a cuidar de mim - coisas ruins - vó a todo momento se interferindo no casamento de meus país - o fato é que parece que em mim criou-se um sentimento crônico de “estar incomodando”. Ainda é fresco em minha memória a frase tantas vezes repetida: vocês moram aqui de favor e nem sequer pagam IPTU. Com o nascimento de Gabriel, tornei-me novamente uma “devedora de IPTU”: “você poderia deixar seu filho com sua mãe”. Isso foi o que as assistentes sociais disseram em “meu apoio” assim que minhas necessidades tornaram-se incomôdas.
Debati, bati e endureci. Mas não o suficiente, eu sei.
Acumulo. Aos poucos vejo um quadro com somas, de todos os lados e, em todas as situações, a minha fraqueza. O jogar na cara de minha mãe em pegar o Gabriel a cada 15 dias (não mais!), o favor da babá em cuidar dele. O favor de o Sintusp ter “lutado” pela creche a qual ele fecha por três meses todos os anos. O favor do namorado em conviver com minha ausência.
Favores, sempre a dever favores...E aquela sensação de que não importava o quanto pague, enquanto eu depender de qualquer favor, ou mesmo serviço, ainda sim serei cobrada. Mas é impossível estar só o tempo todo. Limites. Como impor limites do alto de meus castelos de areia?
Total geral dos últimos meses: desamparo.
Total parcial: Preciso urgentimente aprender a ser só com os outros. E a ser feliz assim.
Total inicial: Enquanto não sair deste novelo de medos em que me enredei, não haverá ninguém que ouvirá tudo o que tenho a dizer e o pior: não conseguirei me mover. Talvez também seja necessário admitir que preciso de ajuda para isso.
Sim, sim, está tudo muito vago. Deixa assim! Já, já organizo!
quarta-feira, 7 de abril de 2010
Da solidão necessária (e inevitável)

Há quem defenda que a condição humana é a da dependência em relação ao outro. A de nunca estar só. Mas, talvez em decorrência de tantas chuvas e de uma solidão eterna que em mim parece enraizar-se com o passar do tempo (quem sabe como o mato que prospera com a chuva), enxergo que grande parte de meus medos, covardias e erros venham da negação furiosa que opero para esquivarme de uma condição primeira: a solidão necessária da condição de existir. Não sei isso acomete a todos, mas acredito que, mesmo em parte, sim: quem nunca invejou de forma incestuosa as decisões alheias? Quem nunca sonhou com ter a seu serviço uma espécie de gênio que viesse aos ouvidos e lhe revelasse a escolha certa em uma situação difícil? Um gênio que lhe tomasse o corpo, como quem toma uma marionete e que o “fizesse fazer”? Somos absolutamente solitários em nossas decisões, em nossas responsabilidades e em nossas dores. Há a possibilidade de culparmos a outros, e os culpados podem mesmo existir. Porém, em uma reflexão sincera e franca junto ao travesseiro será difícil nos exirmimos de nossa cumplicidade a nossos algozes. A condição solitária fica ainda mais evidente se pensarmos em nossas dores. A quem confessar a raiva infantil e os desejos bobos que a provocou? A quem partilhar a amargura ainda doída do que tivemos de passar por cima? É claro que a “vaguidão” de tantas perguntas tem origem mesma na solidão do que tenho de guardar e que talvez contextualizasse melhor tanta inquietação. Por outro lado, posso compartilhar o que ando a observar em mim e nos que vivem ao meu redor. O que anda a despertar o meu interesse, tanto em minhas atitudades, quanto nas atitudes de quem amo, ou mesmo de quem odeio, é o medo. Quantas paixões amputadas, violências, durezas, futilidades, passividade acompanham a sofreguidão de nos entregarmos as decisões alheias e paradoxalmente, em não admitirmos a dependencia que temos do amor alheio? O medo que azeda tudo. Explico. Acredito que por não ser suportável a nossa condição solitária, amamos. Enquanto estamos junto ao ser amado, nos sentimos protegidos de nossa condição. Ao mesmo tempo, podemos ou, nos viciar nisso, e nos tornarmos “escravos do outro”, nos rebaixando inteiramente as suas vontades. O contrário também é possível e, a fim de demonstrarmos a nós mesmos nossa “racionalidade” e distanciamento, passamos a depreciar e ignorar o ser amado, ou a qualquer um que ouse expor nossas fragilidades. Um exemplo disso é o que acontecia quando ainda não era mãee e dizia que tinha medo de crianças. Isso porque, muitas delas, ao se depararem com minha deficiência, eram categóricas: “você é feia!”. Por muito tempo, creio, tive medo de acreditar nisso. Então, preferia manter-me distante a fim de não odiar-me. Com o tempo, essa questão foi se resolvendo em mim e consequentemente, perdi o medo dos pequenos. Embora reflexões exparsas e com pouca maturidade para descrever o que exatamente gostaria de escrever, nestes últimos meses ando a sentir o peso do que chamo aqui de condição solitária da existência. Ser ou não ser dizia Shakeaspeare e ele tinha razão: decidir é realmente angustiante. Condição paradoxal a de apenas nos completarmos no outro e pelo outro e ao mesmo tempo sermos os únicos a termos o leme de nossas decisões – dentro de um quadro de opções. A coragem em dizer sim e em dizer não às aproximações à subjetidade alheia. Aprender a diferenciar “estar só” e “ser só”. Por esses dias, em conversa com meus botões, pensava em uma “mania feia” que insisto em repetir: contar tudo de minha vida de maneira descontrolada. Colocando de lado o caráter narcisico desta mania, percebi que expunha-me descontroladamento por algo além do que a necessidade de falar sobre mim. Não sou eu geralmente quem inícia assuntos em que a minha vida seja o tema princípal (ao menos não na maioria dos casos). Por algum motivo que desconheço, as pessoas com quem tenho contato têm uma curiosidade enorme sobre minha vida. Nada de mal até aí, se essas “curiosidades” não fossem geralmente invasivas e de intenções duvidosas. Geralmente estão a especular a “exoticidade” de minhas atitudades frente a minha condição de pessoa que tem deficiência – namorar, ter filho, sair à noite, etc. Mas o que eu realmente ando a me perguntar é o porquê eu tão solicitamente respondo em pormenores a esse tipo de interlocutor? Por que sinto-me tão impelida a prestar contas de minhas atitudes? A condição de existir é de solidão e eu acrescentaria, dentro de uma enorme contradição que não sei resolver, amor. Eu sou uma viciada da aprovação alheia. Um carência estranha que de fundo esconde uma enorme covardia em frustrar expectativas alheias são (ou assim acredito) alicerssam essa compulsividade em expor-me tão desprotegidamente. Um dia, quem sabe, eu consiga resolver todas as contradições desse desabafo. Até lá, é ter paciência com a vida que, mal criada, opera suas mudanças somente a conta gotas...