Sábado a noite, Gabriel, meu filho, e eu fomos ao noivado de
uma amiga. Tudo muito bem, festa linda,
comida saborosa, e, mesmo Gabriel tendo relutado em ir ao evento, percebi que
se divertia. Chegou o momento do discurso do casal e o noivo, recém convertido
à fé cristã, chamou o pastor de seu afeto para também discursar sobre o
noivado. Crianças são impacientes com essas tradições de adultos e Gabriel logo
começou a ficar inquieto. Até aí, normal. Mas, conforme o pastor começou a
falar sobre a “importância da família”,
dos “casais que não se separam”, etc, Gabriel dizia “este cara está me
enrolando” com certa agressividade incomum a ele. E falava de modo a que o
pastor pudesse ouvi-lo. Eu sou agnóstica. Contudo, nunca falei nada que colocasse qualquer religião sob
questão. Minha mãe é católica e até reza com Gabriel. As vezes, critiquei o
Papa na frente dele, ou a igreja, mas não o discurso da fé alheia. Já me
perguntou se podia acreditar em Deus e eu disse que sim. E mesmo em relação ao discurso dos noivos,
ele reagiu de modo menos agressivo. Então, em casa, pensando sobre o assunto, retomei uma atitude parecida que Gabriel teve
no restaurante da USP (a funcionara, estando o local cheio, deixou que fossemos
nos sentar em um local vazio do restaurante. Depois, pediu que nos retirássemos
de onde estávamos, pois só havia aberto exceção a mim e ao Gabriel de nos sentarmos ali e não aos
meus acompanhantes. Segundo ela, o local estava limpo e não poderíamos sujar o chão) em
que, com raiva, jogou comida no chão propositalmente. Nós, Gabriel e eu, éramos a única família ali
que não se encaixava nos padrões elogiados pelo pastor. A única que não prezava
pelo casamento, pela existência de homem na configuração familiar. A comparação
do pastor foi “casais que se casam e ficam juntos para sempre=família
verdadeira em Deus” versus “as outras =sem Deus”. Gabriel notou (eu também, mas
sem novidades). E reagiu. Como culpá-lo por ter reagido?
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