segunda-feira, 23 de setembro de 2013

Gabriel e o pastor


Sábado a noite, Gabriel, meu filho, e eu fomos ao noivado de uma amiga.  Tudo muito bem, festa linda, comida saborosa, e, mesmo Gabriel tendo relutado em ir ao evento, percebi que se divertia. Chegou o momento do discurso do casal e o noivo, recém convertido à fé cristã, chamou o pastor de seu afeto para também discursar sobre o noivado. Crianças são impacientes com essas tradições de adultos e Gabriel logo começou a ficar inquieto. Até aí, normal. Mas, conforme o pastor começou a falar sobre a  “importância da família”, dos “casais que não se separam”, etc, Gabriel dizia “este cara está me enrolando” com certa agressividade incomum a ele. E falava de modo a que o pastor pudesse ouvi-lo. Eu sou agnóstica.  Contudo, nunca  falei nada que colocasse qualquer religião sob questão. Minha mãe é católica e até reza com Gabriel. As vezes, critiquei o Papa na frente dele, ou a igreja, mas não o discurso da fé alheia. Já me perguntou se podia acreditar em Deus e eu disse que sim.  E mesmo em relação ao discurso dos noivos, ele reagiu de modo menos agressivo. Então, em casa, pensando sobre o assunto,  retomei uma atitude parecida que Gabriel teve no restaurante da USP (a funcionara, estando o local cheio, deixou que fossemos nos sentar em um local vazio do restaurante. Depois, pediu que nos retirássemos de onde estávamos, pois só havia aberto exceção a mim  e ao Gabriel de nos sentarmos ali e não aos meus acompanhantes. Segundo ela, o local estava limpo e não poderíamos sujar o chão) em que, com raiva, jogou comida no chão propositalmente.  Nós, Gabriel e eu, éramos a única família ali que não se encaixava nos padrões elogiados pelo pastor. A única que não prezava pelo casamento, pela existência de homem na configuração familiar. A comparação do pastor foi “casais que se casam e ficam juntos para sempre=família verdadeira em Deus” versus “as outras =sem Deus”. Gabriel notou (eu também, mas sem novidades). E reagiu.   Como culpá-lo por ter reagido?

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