“É de um mundo em frangalhos, não obstante em calmo desespero, que seu pequeno grande salto se dá. É de um mundo miserável, em sua opulência fútil, que seu pequeno grande corpo emite seus sinais. Sinais de dor, tão somente e tanto.”
Fonte: O Estado de São Paulo.
Link: http://www.estadao.com.br/noticias/impresso,o-calmo-desespero-das-elites,941550,0.htm
Alguns textos felizmente ou infelizmente não passam intactos aos nossos corações, ou não nos deixam intactos, enfim. O trecho acima é o de um deles. Ao final deste relato, entenderão. Espero. O entendimento da autora talvez não anteceda a tempo para que o vosso possa ocorrer.
Nos últimos dias tenho sido irresponsavelmente consumista. Ainda não quebrei a barreira do imponderável, mas estou muito próximo disso. Nos últimos dias tenho comido chocolate delirantemente. E trabalhado e estudado na mesma proporção. E tenho sido absolutamente estupida com meu filho. Estou há um dia de um maldito processo seletivo, que de seleção faz muito pouco. Apenas tira fora a quem o sistema não suporta. Ponto. Agora, tentarei amarrar todos esses fios. Amarrados, porém, sinto muito, ainda emaranhados.
O que me tocou no texto acima: colocar meu filho, por alguns instantes, no lugar da criança que cometeu o suicidio no colégio São Bento. Dramático demais, lógico. Gabriel não estuda em colégios-formadores-de- vencedores. Não almejo um filho vencedor em relação a “perdedores”, mas em solidariedade com os últimos. Entretanto, talvez por uma analogia rasteira, enxerguei algo que se põe diante de meu nariz: um sistema que me distância de meu filho. E o faz colocando-me eternamente em débito com sei lá o quê, no qual as tarefas sempre estarão acima do necessário. Colocando-me sempre em atraso com trezentos mil deveres e em estado de stress permanente em relação à pessoa mais importante da minha vida.
A pergunta que eu me fiz ao ler o texto foi sobre quais sentimentos e angustias Gabriel estaria a carregar sozinho e indefeso ao ouvir todas as minhas grosserias? Por quê me refugio no consumismo como forma de aplacar a ansiedade que me consome diante do medo da “derrota”?
Eu tenho uma lista de angustias. A respeito do maldito mestrado que só consome os anos da minha vida e da minha relação maternal e parece cada vez mais nada me devolver. Das horas a fio que ficamos em escritórios enquanto nossos filhos, parentes e amigos adoecem sós em algum canto da cidade. Do repentino apego a um hábito consumista. Da falta de dinheiro, seja economizando, seja consumindo (será isso?).
Eu escrevo tudo isso calmamente, assim como aparece no texto citado. Não há desespero, ou, se há, ele é calmo. Eu não consigo responder a tudo isso. Mas precisarei.
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