terça-feira, 9 de outubro de 2012

“É de um mundo em frangalhos, não obstante em calmo desespero..."

“É de um mundo em frangalhos, não obstante em calmo desespero, que seu pequeno grande salto se dá. É de um mundo miserável, em sua opulência fútil, que seu pequeno grande corpo emite seus sinais. Sinais de dor, tão somente e tanto.”

Fonte: O Estado de São Paulo. 


Link: http://www.estadao.com.br/noticias/impresso,o-calmo-desespero-das-elites,941550,0.htm


Alguns textos felizmente ou infelizmente não passam intactos aos nossos corações, ou não nos deixam intactos, enfim. O trecho acima é o de um deles. Ao final deste relato, entenderão. Espero. O entendimento da autora talvez não anteceda a tempo para que o vosso possa ocorrer.    

Nos últimos dias tenho sido irresponsavelmente consumista. Ainda não quebrei a barreira do imponderável, mas estou muito próximo disso. Nos últimos dias tenho comido chocolate delirantemente. E trabalhado e estudado na mesma proporção. E tenho sido absolutamente estupida com meu filho. Estou há um dia de um maldito processo seletivo, que de seleção faz muito pouco. Apenas tira fora a quem o sistema não suporta. Ponto. Agora, tentarei amarrar todos esses fios. Amarrados, porém, sinto muito, ainda emaranhados.

O que me tocou no texto acima: colocar meu filho, por alguns instantes, no lugar da criança que cometeu o suicidio no colégio São Bento. Dramático demais, lógico. Gabriel não estuda em colégios-formadores-de- vencedores. Não almejo um filho vencedor em relação a “perdedores”, mas em solidariedade com os últimos. Entretanto, talvez por uma analogia rasteira, enxerguei algo que se põe diante de meu nariz: um sistema que me distância de meu filho. E o faz colocando-me  eternamente em débito com sei lá o quê, no qual as tarefas sempre estarão acima do necessário. Colocando-me sempre em atraso com trezentos mil deveres e em estado de stress permanente em relação à pessoa mais importante da minha vida.

A pergunta que eu me fiz ao ler o texto foi sobre quais sentimentos e angustias Gabriel estaria a carregar sozinho e indefeso ao ouvir todas as minhas grosserias?  Por quê me refugio no consumismo como forma de aplacar a ansiedade que me consome diante do medo da “derrota”?

Eu tenho uma lista de angustias. A respeito do maldito mestrado que só consome os anos da minha vida e da minha relação maternal e parece cada vez mais nada me devolver. Das horas a fio que ficamos em escritórios enquanto nossos filhos, parentes e amigos adoecem sós em algum canto da cidade. Do repentino apego a um hábito consumista. Da falta de dinheiro, seja economizando, seja consumindo (será isso?). 

Eu escrevo tudo isso calmamente, assim como aparece no texto citado. Não há desespero, ou, se há, ele é calmo. Eu não consigo responder a tudo isso. Mas precisarei.

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