Já ouvi por muitas vezes que a vida é
uma questão de escolha. E muitas vezes já ouvi que tudo depende do meio em que
se vive. Não gosto de pensar que não há escolhas. Mas acho extremamente
perigoso retomar a questão das escolhas como algo unicamente individual. Temos
escolhas quando as temos. E minha experiência diz que temos escolhas em dois
contextos: quando temos dinheiro; quando temos apoio e nos sentimos seguros com
nós mesmos e com esse apoio. Agora, pensar escolhas sem apoio é querer lavar as
mãos com quem precisa de nós – Liberalismo; e é jogar quem está à margem em
profunda solidão. E isso é sim social,
posto que coletivo. Eu lia uma matéria
sobre coletivos de mães que se ajudam no cuidados de seus filhos. Para poderem
trabalhar e ter uma renda melhor; para não criarem subempregos a outras
mulheres; para estabelecerem redes de solidariedade. Ou seja, como mulheres e
mães, nós temos de mobilizar toda nossa vida para cuidar dos filhos. Temos de
muitas vezes, ter nossa renda reduzida em gastos com escola, babá, empregada,
etc. Temos de morar perto das escolas dos filhos, pagar aluguel mais caro,
aceitar empregos com rendas menores e com horários mais flexíveis. Mudamos de
cidade, de casa, de roupas, de dieta, de horário de dormir, aceitamos maridos
folgados e violentos, aceitamos morar com gente que não queremos... por nossos
filhos. Eu tive de ver seriamente a possibilidade de ver minha renda ir pelo
ralo para pagar um aluguel mais caro, pois não conseguiria mudar o Gabriel em
duas escolas. E faz duas semanas que estou com ele na casa da minha mãe por
falta de moradia e já estou tendo de ME VIRAR para mudar esse contexto e
rápido. Daí eu vejo um monte de homens afirmar que “poxa, seria um ótimo pai,
mas...” : “moro longe, tenho emprego com horários que não permitem, tive de me
mudar, adoraria, mas....”, pois afinal, a escolha parece ser dada só a um lado.
Temos escolhas quando as temos. Em alguns contextos, a falta de escolha é
nomeada de “comodismo”, “instinto materno”, “covardia”. Em outros contextos, a
escolha é nomeada por falta de escolha: “briguei com minha ex”, “meu emprego é
longe”, etc. Escolhas...
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