quarta-feira, 20 de janeiro de 2016

Cinismo

De algum momento em diante o cinismo não mais me protegeria. Abriram um corte, fino corte, entre as células sinceras do core. Ouvir “Ace Of Spades” na última altura não apagaria os intervalos na escola ouvindo Axé Music e Back Street Boys. Cantarolar Caetano na Universidade em meio aos casaizinhos puro amor-gratidão rasta corpos-padrão vida hipster eu desafortunada sem aborto relações livres presa em um corpo armadilha tão pouco. Nem tão boa quando todos esperam. Nem tão má quanto gostaria de poder bancar. A peleguice é sempre muito sedutora e  a hipocrisia é um vestido de perfeito corte. Compadecer-se de mim… Falar infantilmente. O olhar servil que não enfrenta nem afronta os olhos de quem a especulação revelaria a dificuldade em observar quem tem no rosto uma máscara. Ainda sim, ver a máscara. Não acreditar no que vê. E ver máscaras em todos. Relativizar a dor alheia em nome da Verdade e da Ciência não mais me colocava  a parte de minha própria dor. Ninguém é obrigado… sempre me argumentam. E eu de braços abertos sou piegas demais para bancar  a Lana Del Rey. Não vou morrer amanhã. Com a importância de uma bactéria, não importa. Eu gosto das bactérias. E de muita criatura. Não de todas, como muitos esperam. E busco mesmo em mim, como tudo o que reteve em internos espelhos, pois do outro pouco sei para além de tipos que desfilam e deliram em movimentos discretos, as cacas retém muito do movimento. 

Por isso dançar. Por isso a experiência de uma força e de uma sexualidade bilateral, bivalente, biestra, ancestralidade apropriada para uma cabeça sem face. Alguém que, cansada, quer-se força sem raiva. A raiva todavia não nego, ainda que enclausurada em discursos pelegos. Autoritarismo aprendi, autoritarismo reproduzo.  Mas, se é para ter algum tipo de cinismo, escolhi, abusada, aquele de quem vadia por puro deleite e afrontamento silencioso.     

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