quarta-feira, 2 de março de 2016

O tempo da história e o tempo da nossa história



Ontem eu assisti um vídeo feito por meu filho em um dos ensaios do grupo de dança que participo. Antes de abrir o vídeo, não sabia, tinha duas expectativas: que não gostaria de ver o modo como eu danço, mas que não estranharia ver minha imagem no vídeo. Digo que não sabia dessas expectativas, pois foi a inversão delas o que me causou estranhamento e então eu soube que era o que eu esperava encontrar. É muito aflitivo a gente perceber que as mudanças históricas demoram séculos a acontecer e o tempo da nossa vida é muito curto em relação a esse tempo. Vai demorar muito tempo até alguém como eu olhar o próprio corpo fora de um álbum  de compêndio médico. E eu sei que esse tempo vai além da minha vida. É nesse momento que eu me pergunto: por que querer voar se já estou suspensa? Sinto-me paralisada diante da questão. O tempo é implacável e nem todos têm a opção de fugir do próprio corpo - e entendo quem o faça, como entendo…

Começo a sonhar a queda, já que a suspensão é angustiante demais para me manter e o voo está longe demais para alçar. É bom esclarecer que não é um desejo de superação de nada. Não há nada a ser superado. Quando as luzes se apagam e eu fico a sós com a solidão dessa condição, projeto uma sombra turva sobre os olhos e parece que consigo enxergar um aceleramento no tempo, como se senhora Chronos um pouco eu me tornasse. Ansiedade. Queda. Alguma liberdade. Um corpo em um álbum em branco. Incompleto, vazio, incógnito. Mas, pelo menos, que não fosse mais um compendio médico.  Tempo, tempo, tempo… como eu gostaria que deixasse pelo menos eu escrever a primeira letra de uma história de vanguarda.  A queda como parte de uma dança. O voo deixando de ser a norma da coreografia.  

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