domingo, 15 de janeiro de 2023

Eu preciso provar que existir no meu corpo pode ser uma experiência humana válida.

Outro dia uma amiga me apontou que eu escrevo muito sobre minhas experiências pessoais, que era meu estilo de escrita. 

Realmente, é uma escolha ainda não ter criado personagens que fossem simulações de outras existências. 


Ano passado eu li um texto - não consigo lembrar o título, infelizmente - que trazia que ser negro não era um devir desejado e, por isso mesmo, não era considerado útil o suficiente para ser preservado. Ninguém tem o sonho de um dia ser negro. 


Esses dois pontos a respeito do que é o exercício de escrever e do que seja um devir desejável parece apontar para o que intuitivamente eu tenho necessidade de trazer quando escrevo; dar testemunho de minha existência. 


Por muito tempo, os poemas que eu escrevi não traziam nenhuma menção direta a eu ser uma pessoa com deficiência. E sempre houve grande identificação das pessoas com o que ali estava colocado. Na minha cabeça, era óbvio que todos sabiam que era sobre "ser uma mulher com deficiência". Mas não era. Era sobre sentir. 


Desejar estar na minha pele, fantasiar que a voz que canta em meus escritos é a de tantas outras pessoas com outros corpos é o trabalho de formiga que de algum modo me move. 


Eu existo e eu não sou um monstro ou um anjo, eu sou tão real que poderia ser qualquer um que lê o que eu escrevo.



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