quinta-feira, 5 de abril de 2007

Um assunto polêmico...

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Resposta ao blog "Canto e Armas" à questão da discriminalização do aborto.

"Com liberdade, responda a estas 10 perguntas. No final, some os "Sim" e os "Não". Terá descoberto, através deste Exercício de Amor, qual o sentido de voto que a sua consciência lhe pede.

1 - A uma mulher com dificuldades na vida, é a morte do filho que a sociedade oferece?
2 - Liberalizar o aborto torna a sociedade solidária?
3 - A mulher é mais digna, por poder abortar?
4 - Uma sociedade que nega o direito a nascer, respeita os Direitos Humanos?
5 - É maior o direito da mãe a abortar, do que o direito da criança a viver?
6 - Sem razão clínica, abortos são cuidados de saúde?
7 - Concorda que a saúde de outras mulheres fique à espera? (para que o aborto se faça até às 10 semanas)
8 - Aborto "a pedido da mulher". Há filho sem pai?
9 - Quem engravida gera um filho. Mata-se o filho?
10 - É-se mais humano às 10 semanas e 1 dia do que às 10 semanas?"

Fonte: www.positivamentenao.com

Respostas:
A questão aborto é muito mais complexa do que este artigo ingênuo pode supor. Para começar, em resposta à primeira pergunta “A uma mulher com dificuldades na vida, é a morte do filho que a sociedade oferece?” a resposta é que nem isso ela oferece ultimamente: a sociedade não oferece nada além da opção de se satisfazer durante alguns minutos com agum idiota machista que a irá abondonar com uma criança nos braços, sem emprego, educação, escola, babá ou mesmo, tolerância.
Em resposta a segunda pergunta, “Liberalizar o aborto torna a sociedade solidária?”, eu digo que não, mas a torna menos hiprócrita.
Em resposta a terceira questão, “A mulher é mais digna, por poder abortar?” a mulher não será mais digna, mas a situação dela SIM!
A quarta questão, que jugo foi uma das unicas mais inteligentes e menos manipuladoras ao contrário de todas as outras questões, “Uma sociedade que nega o direito a nascer, respeita os Direitos Humanos?” , pede,realmente,uma reflexão mais complexa. Porque,em primeiro lugar,teriamos mesmo que pensar nos conceitos defendidos pelos direitos humanos. O direito a vida: pensei que fosse o direito a uma vida digna. Uma criança que nasce em um lar que passará fome, e outras privações, será que, garantido o seu nascer estaremos respeitando os seus direitos humanos? É só o "nascer" que nos constitui enquanto respeitados em nossa dignidade humana?
“É maior o direito da mãe a abortar, do que o direito da criança a viver?” E abortos naturais, por acaso são considerados assassinatos? Morte aos que estão vivos e direito a vida aos que não nasceram! Se um feto é abortado naturalmente aos três meses de gestação, ele não existiu para a sociedade enquanto cidadão, mas a mãe dele sim.
“Sem razão clínica, abortos são cuidados de saúde?” E a saúde mental da mãe? Não é levada em conta?
“Quem engravida gera um filho. Mata-se o filho?! Essa pergunta realmente é manipuladora porque já se colocou o verbo "matar", em destaque inclusive. Um embrião de dois centimetros de tamanho que, naturalmente, corre o risco de não existir ( ou de ser CRUELMENTE ASSASSINADO por DEUS!) será já um ser humano no sentido completo da palavra? E filho deve ser caracterizado com um castigo da mãe por ter feito relação sexual sem preservativo, lembrando que em nossa sociedade, mulher que anda com camisinha na bolsa é taxada de "puta"? Lembrando que tem muitos homens que quando a mulher vira de costas no ato da relação sexual, irresponsavelmente, tiram a camisinha com a desculpa de que estorou? (acho que a primeira pergunta é mais forte!)
“É-se mais humano às 10 semanas e 1 dia do que às 10 semanas?” porque não perguntas a um médico o porquê das dez semanas?
Há uma série de complexidades pragmáticas que essas perguntas altamente idealizadas, ou como sempre digo, perguntas vindas de um pênis, que não têm a menor compreensão do que é o mundo feminino em nossa sociedade , ignoram.
Podemos, antes de bater de frente com a descriminilização do aborto, pensar que eles já ocorrem independentes da sua ou da minha vontade. Em clínicas clandestinas, quando a mulher tem dinheiro, ou com “ açougueiras” quando não têm. E quando diversas mães enfiam uma agulha de crochê para tirar o feto de dois centimetros que virará o ser que ela mais amará no mundo ou ainda, mais odiará no mundo, mas que não terá condições de cuidar, a questão vira Saúde. A questão do aborto não é “ por que fez se não ia poder cuidar”, mas “agora que está feito, como irá cuidar?” .
Quando uma criança de 8 anos de idade disse a minha mãe no farol “ ou você me dá dinheiro ou estoro quem está atrás” ( quem estava atrás era meu filho de um ano de idade) isso me fez pensar o tipo de direito a vida que nossa socidade incluindo você, defendem ao ser contra descriminalização do aborto.

Alguns links sobre temas afins (mas não necessáriamnete sobre...):

http://www.scielo.br/pdf/csp/v19s2/a19v19s2.pdf

Um comentário:

  1. Definitivamente concordo com seu texto. E aí vai minha opinião, em resposta não às questões propostas pelo artigo que vc citou, mas sim à introdução deste que pretendia-se carismática, julgando unânime a opinião da população.
    Realizando o tal "exercício do amor", posso pensar em milhões de meninas-mulheres que, influenciadas por uma sociedade ainda profundamente machista e que lhes incita a trocar a boneca pela carapuça de mulher-objeto. Penso nelas sem a responsabilidade nem a informação de uma mulher adulta, que estaria apta a ter filhos. Mais ainda, penso em como crianças poderiam sustentar outras crianças. Nem a lei permite que trabalhem antes dos 14 anos.
    Penso no desespero com que reagem ao perceber as mudanças no corpo, apenas pq cometeram um ato impensado, pelo azar de uma camisinha estourada ou até possivelmente de um ato violento.
    É nelas que penso, nelas que já morrem tanto. Nelas, em quem a sociedade já investiu e que poderiam ter um futuro útil e feliz. É por elas que julgo a sociedade hipócrita.
    Porque muitas delas ainda (e talvez cada vez mais) se matam com agulhas de tricô ou remédios ou "açougueiras" ou simplesmente se matam.
    Porque muitas delas tem sim um aborto ilegal bem sucedido mas acabam por perder a oportunidade de gerarem filhos quando estiverem preparadas. Preparadas financeiramente, culturalmente, com uma família estruturada que pudesse formar cidadãos. Não apenas números que são tratados como gado e acabam por sofrer uma vida infeliz e violenta.
    É isso que diz meu coração: que a legalização provavelmente não faria crescer os números de aborto. Mas sim, diminuiria o número de mortes por infecção ou hemorragias causadas por drogas. Principalmente se as campanhas do tipo "use camisinha neste carnaval" se tornassem mais efetivas e freqüentes.
    Ainda mais se essa famosa camisinha, cujo pacote mais barato custa cerca de R$1,50 (mais da metade do preço de uma passagem de ônibus na cidade de São Paulo) fosse distribuída de verdade nos postos de saúde e nas escolas (entidades públicas com plena responsabilidade na educação em saúde pública).

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