sexta-feira, 20 de junho de 2008

Aleluia em processo

A razão resistia em se fazer presente, espetando-me as vísceras e engolindo todas as minhas palavras. Mas os uivos da respiração desesperadamente lambiam o seu lugar e babavam-me o corpo em tremores e fadigas ancestrais. A boca tímida, dissimulava a tudo ignorar e ainda se movimentava com serenidade maternal. Porém, já com todas as idéias meladas entre as pernas, de uma loucura mais sã do que a sanidade, sonhava o espinho e o caule de uma flor às avessas, brotada para dentro, inchada de orvalho e sangue, descabaçada da terra. Queria que me socasse tudo, que se enfiasse em mim, que me rompesse as fibras da carne, que me chupasse os ossos, arrotando aos berros todos os pecados escondidos em meu silêncio. O caralho que me parta! Que me violente o tempo e que me sodomize todos os verbos! E foda as nádegas da moralidade, lavando em sais e porra todas as entranhas de meus ais, transformando o quarto em santuário e o pecado em sacrifício e oração. Que me entre, que me saia, que me esfregue o útero e me morda todos os sentidos e me coma o pudor e mastigue os seios de minha feminilidade até que minhas lembranças se dissolvam em grito e espasmo e eu consiga ouvir novamente as canções proferidas em gozo pelos oráculos em rituais dionisíacos. E desvirgine o claustro de todas as suas paredes e sangre no ritual dessa reza, divina, todas as amarras de minha origem.

Ó MEU Deus, dai me força e compasso nessa dança-reza, incesto sonhado por Narciso, para que junto com o leite desse sexo, finalmente seja derramada de minha boca a espuma inteligível, o Amém desta oração: EU SOU A SUA PUTA!

 

 

Apenas uma viajada em uma das frases do livro Um copo de cólera, do Raduan Nassar.

 

“[...]as palavras- impregnadas de valores- cada uma trazia ,sim, em seu bojo, um pecado original ( assim como atrás de cada gesto sempre se escondia uma paixão)...”

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