segunda-feira, 30 de junho de 2008

Minhas pequenas promiscuidades diárias III

Um dia eu estava no bar (o famoso Rei as Batidas!) e um amigo de uma amiga puxa assunto comigo. Trocamos msn e um tempo depois eu sou convidada a acompanhar os debates em uma página cujo o nome, revelava a minha porca ignorância e falta de memória: Gironda Jacobina. Gironda o quê? Não perguntei não, mas também não fui atrás para saber a que o nome fazia referência (faz referência aos jacobinos, a quem não se lembrar das aulas de história). Isso aconteceu em junho de 2007 e estávamos em meio à efervescência das discussões sobre a ocupação da Reitoria da Universidade de São Paulo e, consequentemente, do Movimento Estudantil. 

A idéia era veicular uma discussão aberta, sem compromissos morais e de teor crítico. A ocupação findou, o movimento estudantil esmoreceu, voltando ao seu ostracismo rotineiro, mas as discussões do blog não. Os assuntos se multiplicaram, muitas vezes adquiriram teor pessoal, ganhou a contribuição de novos participantes, e perdeu a de outros. Refletia em seu conteúdo, as aflições, os afetos e desafetos de seus postadores. Era a nossa mesa de bar, a nossa biblioteca pessoal, o nosso divã e a nossa rádio. 

Mas eis que, após um ano do início dessas discussões, é encerrada a mesa de debate. Sentirei saudades desse vício! Abaixo o texto de “adeus”, escrito por Dom Enrico Della Brogna (o avatar de um dos postadores): 

Prezados amigos da rede foda-se". Com essas palavras, há exatamente 1 ano, era fundado este blog, com a missão de denunciar as contradições do movimento estudantil e avacalhar com a civilização.

A assembléia teve amplo sucesso em sua missão, embora ela tenha dado ao blog um transtorno bipolar: ao criticar o ME fomos à direita; ao expor o lixo civilizatório fomos à esquerda. Para mim foi uma experiência muito rica, ao mesmo tempo um espaço para o exercício da criatividade e um laboratório de aprendizagem, que jamais tive igual em qualquer outro lugar. Espero que meus colegas, e nossos leitores, também tenham tirado bom proveito deste projeto, como eu tirei.

Em todo esse tempo, que me pareceu muito mais longo do que apenas dois semestres, nunca perdi de vista a motivação inicial que levou à fundação do Diário do Fefeléchistão: a invasão da reitoria e toda a movimentação que ela gerou. Todos aqueles que me conhecem sabem que sempre dispensei uma crítica ácida e cínica ao movimento. O completo esquecimento em que caiu a invasão —a despeito da importante vitória representada pela revogação dos decretos do governador, que feriam a autonomia da universidade— que sequer foi lembrada em seu aniversário de 1 ano, no último 3 de maio, comprovou-me que eu tinha razão de ser cético quanto a organicidade política do propalado renascimento do movimento estudantil.

A falta de
timing
, entre outras coisas, transformou a vitória em derrota, de forma que foi jogado pelo ralo todo o capital político amealhado pelo movimento. O silêncio sobre a invasão, o completo fracasso do V Congresso da USP e o virtual sumiço das figurinhas carimbadas do ME de nossas salas de aula, um ano depois, são provas eloqüentes disso.

Com os jacobinos silenciados, chegou a hora desta Gironda descansar e retornei a esta mesa justamente para encerrar os trabalhos da assembléia, assim como os comecei. Esta Gironda lutou contra a hipocrisia, pela liberdade de expressão e de opinião, pelo bom uso da res publica, pela tolerância política e pela salvação de seus créditos acadêmicos. Não sabemos se fomos bem sucedidos em nossas intenções, contudo, lutamos, com as armas que pudemos empunhar.

Meus mais sinceros e profundos agradecimentos para aqueles que permaneceram sob o teto desta assembléia até este momento derradeiro e também para aqueles, que por um motivo ou outro, abandonaram o debate. Eu sei que ele muitas vezes foi virulentamente sórdido. Era inevitável... Que Deoos, em sua inesgotável misericórdia, perdoe-nos todos por nossos pecados.
Amém.

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