quarta-feira, 22 de outubro de 2008

“Mulheres são as que mais sofrem"

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Eric Beauchemin e Daniela Stefano

Valdênia Paulino nasceu em 1967 e conhece de perto a realidade das periferias brasileiras. A família dela, oriunda do estado de Minas Gerais, migrou para uma favela em São Paulo em busca de trabalho e melhores condições de vida.

Apesar das dificuldades, Valdênia conseguiu estudar e aos 14 anos já alfabetizava outras crianças. Aos 17 organizou uma casa para ajudar as mulheres que queriam sair da prostituição.

A violência contra a mulher é o foco do trabalho da defensora de direitos humanos que, anos mais tarde, percebeu que a formação como pedagoga não era suficiente para ajudar a comunidade. Formou-se em direito e como advogada do Centro de Direitos Humanos de Sapopemba diz que a sua luta é enfocada na mulher por ser quem mais sofre as conseqüências da violência na periferia:

"A Anistia Internacional retrata o quanto as mulheres, as mães em particular, estão ficando doentes mentais por causa da violência. Não há, no sistema de saúde, uma atenção para essas mulheres."

De acordo com Paulino, a violação dos direitos das mulheres não é uma preocupação das autoridades brasileiras:

"As autoridades estão sempre preocupadas contra a violência, mas é a violência contra o patrimônio. Sempre falam dos garotos, que roubam carros etc, mas nunca falam das garotas que são abusadas na rede de prostituição. A violência contra a mulher não aparece por não ser patrimonial."

Uma das causas da violência na periferia, segundo ela, é a falta de instituições do Estado. Paulino afirma que a polícia é única presença do Estado na favela, o que não garante a inclusão social e ainda gera mais violência.

"Em Sapopemba era muito comum que a polícia adaptasse alto-falante em cima do carro e enquanto tocava música clássica para a população ouvir, (os policiais) abusavam sexualmente das mulheres e executavam jovens."

Papel da mulher
Valdênia Paulino atua também no Cedeca Mônica Paixão, o Centro de Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente. Um dos trabalhos do Cedeca é o de despertar nas mulheres, jovens e crianças de muitas favelas de São Paulo a consciência de que possuem direitos, que estão no papel, mas que precisam ser colocados em prática. Para a ativista dos direitos humanos, as mulheres ocupam um papel importante na comunidade empobrecida:

"É ela quem fica com os filhos quando a situação chega no limite, os homens escapam e as mulheres permanecem. São elas que estão nos movimentos sociais. Trabalhar com a jovem e mulher adulta é importante. Elas quem são responsáveis pela educação dos filhos."

Ainda que o trabalho desenvolvido por Valdênia a tenha tornado conhecida como defensora dos direitos humanos, as ameaças de morte, tanto por parte da polícia como por parte de criminosos, a obrigaram a deixar o Brasil. Valdênia pretende voltar ao país e continuar suas atividades no nordeste.

Noticia publicada no site da rádio Nederland no dia 4 de setembro de 2008.
http://www.parceria.nl/direitoshumanos/20080904-dh-valdenia

Valdênia Paulino esteve na Holanda a convite da Anistia Internacional. Ouça a entrevista completa concedida por ela a Eric Beauchemin (30'56):

http://content70b.omroep.nl/edd3e48cd334fb4079759cfdc3cc6602/48ff337c/08/rnw/smac/cms/por_valdenia_20080904_44_1kHz.mp3

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