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terça-feira, 25 de agosto de 2009

Nem todas as primaveras serão floridas...

A minha em especial não será. Mas ao menos terá trilha sonora! Rsrs!!! Explicarei mais adiante...Daqui a mês e alguns dias uma de minhas melhores amigas partirá rumo a Suécia, terra de seu amor e onde cursará um ano de seu doutorado. Apesar do sentimento de orfandade, sendo a única órfã que tem de torcer a favor de seu próprio estado de desamparo, não poderia ser de outro jeito: consigo imaginar muito bem o quanto deve ser ruim estar separada de quem tanto se quer bem. Diante disso, e por uma pulsão de morte que me faz ouvir repetidas vezes a mesma trilha sonora tantas e tantas vezes já ouvida, cantada, gritada, “sorrida” é que voltei a esse palco de triviladades e “exageridades”, claro!Era uma vez duas calouras em alojamento da Universidade de São Paulo: Vanessa e Simone. Havia outras cinco neste alojamento, mas isso não importa. Uma delas, Vanessa, consegue vaga nos apartamentos da universidade. A outra tem de esperar um pouco mais. Era uma vez uma outra caloura, Sonia, que entra no lugar de Vanessa. Ambas se conhecem através de Simone e as três viram amigas inseparaveis. Onde uma estava, a outra certamente estaria. Do contrário, sempre haveria um recado pelas lousas da Letras com o horário do próximo “Q.G”. E os “Q.Gs” seriam muitos: sesta na praça do relógio, passeios pelos sebos do centro, tardes de leitura do diário sexual de Catherine Miller, compras na 25 de Março, mercado (com pouca grana!), jogar buraco nas madrugadas da greve de 2002, festa na Poli, na Letras, na GEO, no CRUSP (com direito a macarrão com sardinha às 5 da matina)... E como a boemia exige, não poderia faltar música! Berrada, em coro, odiada por alguns de nossos ouvintes (principalmente os dos transportes públicos que frequentavámos) a música abaixo era marca registrada SSV (ou ainda SSS – Sonia, Simone e Sanessa):Havia essa outra, mas só cantavámos o começo, pois não sabiamos o resto da letra..rsrs!Festas ECA:O prédio do alojamento é também o prédio da pós-graduação na USP. Como Simome e Sonia continuavam a morar no bloco C, acabaram por conhecer Renilson que pleiteava mestrado na FEA. Em troca de dividirem almoço no bandejão, ele bancaria os lanches intermediários e todos os próximos caputinos das manhãs dessas duas. Foi assim que nasceu mais uma grande amizade e adicionou-se mais uma música de nossa trilha sonora:S.S, Renilson, violão e Eagles…No terceiro ano de faculdade, Léia, irmã de Sonia fica hospedada no apartamento de Sonia a fim de estudar para o vestibular...E entre um bilhete e outro, entre uma festa e outra, eis que não podia faltar “Passe em casa”O tempo passou, Renilson voltou para Manaus, Simone e Sonia terminaram a amizade, Si se casou, Leia casou-se e teve dois filhos. E houve uma série de históras no meio disso tudo, mas ao final ficamos Sú e eu perdidas na ilha USP.Então um belo dia (meu filho adora essa expressão!) no final de 2007, um rapaz loiro, alto, de olhos azuis e que gosta de se denominar como um “viking”, em uma das únicas baladas em que não estive junto  a Sonia, roubou seu coração e o levou lá para Suécia. Ela tentou o buscar nos quinze dias em que o visitou, mas não teve jeito: o danado gostou mesmo da social democracia!!! Foi durante essa viagem que a minha querida amiga assistiu o filme “Mamma Mia”, musical cujas canções do grupo ABBA completam – até o momento - a trilha sonora de nossa amizade. O musical conta a história de três amigas, três amores de verão e uma filha, fruto desses amores - eu resumi muuuuuuuuuuuuuito o filme aqui. Mas abaixo coloco a sinopse do filme, suéco, claro(!) e duas músicas da banda tema do músical, as que mais gosto.Donna (Meryl Streep) é dona de um pequeno hotel e mãe solteira da espirituosa Sophie (Amanda Seyfried), que vai casar. Donna precisa superar o fato de que irá ficar sozinha e convida duas amigas especiais para o casamento da filha, do tempo que era vocalista de uma banda chamada Donna and the Dynamos. Procurando conhecer a verdadeira identidade de seu pai, Sophie convida secretamente três homens especiais.         Fonte: http://br.cinema.yahoo.com/filme/15053/sinopse/mammamia   O vídeo abaixo não foi possível de incorporar, mas é possível ve-lo clicando no link em seguida:http://www.youtube.com/watch?v=JVIJU5poFvI&feature=related Certa vez em minha aula de Filosofia do Pensamento Chinês  o professor disse entre outras coisas que amar é incluir alguém em seus planos de vida. Creio que ele tinha razão. Eu incluo a Sonia em todos os meus planos de vida. Quando planejo algo, já o faço levando em consideração a presença e a disponibilidade dela. Se vou ao bar, “Sú, que horas você aparece lá?”. Se o programa é uma viagem, “onde iremos nessas férias?”. Se a barra pesou, “Sú, preciso de ajuda”. Se a barra pesou demais: “Sú, tô grávida!”.   Realmente, será uma primavera de planos confusos e poucas flores na estação que inicia... Ficam as músicas... E a internet (!) - msn, facebook, orkut, blogs, etc!Ainda sim, díficil...

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Você é um homem, ou um rato?!!!!

Trabalho, trabalho, trabalho. Trabalho, silêncio, trabalho. Trabalho, cansaço, trabalho. Trabalho, silêncio, trabalho. Trabalho, cansaço, trabalho. Trabalho, tempo, trabalho. Trabalho, tempo, cansaço, silêncio, trabalho. Tempo, tempo, tempo. Trabalho, trabalho, trabalho. Cansaço, cansaço, cansaço. Silêncio, silêncio, silêncio...

Não, isso não é uma tentativa tosca de poesia.

O rato sou eu...

quinta-feira, 28 de maio de 2009

Geração Y - por Yoani Sanchez de Havana, Cuba

http://www.desdecuba.com/generaciony_pt/
"Geração Y é um Blog inspirado por pessoas como eu, com nomes que começam ou contem um ípsilon. Nascidos em Cuba, nos anos 70s e 80s, marcados pelas escolas da paisagem rural, bonequinhos russos, emigração ilegal e frustração. Por isso, convidamos especialmente Yanisleidi, Yoandri, Yusimí, Yuniesky e outros que arrastam os seus ípsilons, para ler e escrever para mim."

segunda-feira, 11 de maio de 2009

A outra metade de meus textos...continuação

A cada dia que passa, reforça-me mais a idéia de que somos seres delineados por uma imanente contradição. É o melhor e o pior de nós. Alguns passam a vida a investigar suas contradições e a verossimilhanças de suas idéias. Outros a querer impô-las aos demais. Talvez, na realidade, sejamos um misto de ambos.

Como a proposta deste espaço é o desossar de minha hipocrisia, penso em, na medida do possível, expor minhas contradições ao impulso de impô-las.

A primeira e não recente conclusão é a que defendi acima: ser contraditória é o melhor e o pior de mim. O pior, na medida em que expõe a demagogia e a fragilidade de meus argumentos, de minhas idéias e a mesquinhez de meus sentimentos. O melhor, pois graças a essa característica tenho a facilidade em abandonar idéias apaixonadas e mentirosas, idéias e sentimentos preconceituosos e discriminadores, em mover as categorias e os quadros nas paredes que sustentam os meus pensamentozinhos. Mas mover as idéias, mover as ações e mover os sentimentos são três ações distintas, embora entrelaçadas. Pois não temos acesso a fatos, mas apenas a pontos de vista. Ações distintas... Com um mesmo alvo. A demagogia, óbvio, emerge da contradição das direções entre elas. Dificulta ainda a liquidez de minhas certezas e os malditos paradoxos, os quais nem sempre estou atenta.

Estes dias, a navegar entre meus blogs prediletos, me vi diante de uma das frases de Clarice Lispector a qual não tenho mais acesso na integra, mas da qual me ficou “a moral da história”. Clarice coloca que escrever não é apenas um ato de reflexão sobre o mundo, mas condição mesma para se pensar. A autora diz só conseguir se pensar no ato da escrita. Nisto, talvez eu seja como ela. Daí eu temer o silêncio. O silencio das idéias... Obviamente, não há grandeza proporcional entre o resultado do ato de escrita de Clarice e o meu. Mas creio ser preciso amar a vida, mesmo que seja a minha. Ando alienando-me de mim. O problema disso, antes que se levante a bandeira de humildade, é que nisso me desapego do mundo. O resultado parece ser um enorme sentimento de tédio. Como se na luta diária entre a passividade de meu temperamento e a rebeldia de minhas idéias, a contradição ficasse um fardo cada vez maior a carregar. Aliás, eis uma contradição que não consigo resolver: a demagogia de meus atos e o medo das minhas palavras. Como amar a vida se já não me satisfaço com a que tenho? “Mesmo que seja a minha”... Amar a vida porque ela é minha. É a responsabilidade da vida o que parece  que me escapar às mãos.

Por estes dias decidi que para continuar a pensar-me com mais sinceridade  fechar alguns de meus (futuros) posts. Medo. Sim, um medo que não consigo vencer. Não tenho acesso a quem lê este espaço. Não há medidores de audiência no blog. Assim,  mantenho o compromisso de sinceridade e aviso que coloco  alguns conteúdos para balanço. Contraditório? Lógico!...rsrsrs!

 

Fonte da imagem: http://lordevelho.blogspot.com/2008/07/partes.html 

quarta-feira, 25 de março de 2009

Respostas copiadas

Na ausencia completa de criatividade, o mundo me pensa com minhas palavras mesmo sendo de outros...O grifo é meu. A não minha resposta , mas ainda sim minha.

situacional

- onde estás?
- aí.
- como estás?
- bem, aqui;
- como te sentes?
- preso entre o que não sei, o que sei que não tenho e o que não sou.
- o que posso dizer? ou fazer?
- emenda-te, que eu, já não tenho espaço nem tempo, se não para ser o que sou.

Texto chupinado do blog: http://tempusatempus.blogs.sapo.pt/

quinta-feira, 5 de março de 2009

quarta-feira, 4 de março de 2009

As meias palavras e as meias verdades

Olá querido e abandonado diário, quanto tempo!

E é sempre assim, não é mesmo?! Todas as vezes que minhas idéias freiam, é a este tom e à cumplicidade do diálogo o que me resta das migalhas de minha criatividade. Em alguns textos atrás, me reportei como causa de minha inatividade, a uma possível preguiça das idéias. Mas passados alguns meses, desconfio de que após o período de “preguiça”, o que me sucede, além do caráter de urgência de meu dia-a-dia, é a perversa e erronia sensação de estanque das idéias. A melancolia da curiosidade.

Não me considero completa. Não é necessário descabelar-se quanto a esse possível erro de minha parte. Não parei os meus questionamentos por considerar-me com conhecimento suficiente para não mais ter o que questionar. O que cresce em mim é um sentimento de outra ordem: o de que não tenho mais nada a dizer. Acabou. Secou a fonte. Sequei.     

Na semana que antecedeu ao carnaval, houve a semana de recepção aos calouros na USP. E ao ver todos aqueles jovens, de rosto pintado e a minha consciência da brancura daqueles futuros, futuros tão livres, não pude conter o enorme sentimento de nostalgia de quando também fui caloura, de quando ainda era “bichete”. Eu tinha o futuro em minhas mãos e ele parecia algo misterioso e maravilhoso. Eu passaria a morar sozinha, em moradia estudantil, na melhor Universidade do país, fazendo o curso que eu escolhi. Eu não iria ter muito dinheiro para as despesas, mas ganharia o suficiente para pagar os gastos com o material da faculdade, com a alimentação e ainda sobrariam uns trocados para passear pelo centro e para pegar uns livros nos sebos da vida. Eu poderia sair a qualquer hora, para onde eu quisesse, e se eu juntasse uma grana, poderia fazer algumas viagens nas férias, à alguma cidade não muito distante. Eu poderia... Às vezes é difícil escapar da frustração em não me enquadrar naquilo que gostaria ter sido e que não fui.

As coisas nestes últimos tempos têm me parecido mais difíceis do que de costume, quase inatingíveis. Por esses dias recebi um e-mail de minha orientadora esclarecendo que avaliará se realmente abrirá uma vaga de mestrado, etc. Eu fiquei meio decepcionada (não, esse não é o único motivo de meu mutismo!), mas ao avaliar bem o comportamento que tive diante dela e o conteúdo de meu projeto, vejo que foi muito educada frente ao caráter do que a ela apresentei: mediano, medíocre. Pois é... Mas o que fazer com as idéias medianas? As minhas ando a deixar todas pela metade. Textos pela metade, projetos pela metade, faculdade pela metade, vontades pela metade.

Esse ano farei 25 anos. A idade que sempre quis ter. Isso por que acreditava que com vinte e cinco anos não haveria ninguém a questionar a “adulteza” de minhas atitudes. Mas vejo que eu estava equivocada. O que eu teimo em ignorar é que quem emprega credibilidade às minhas atitudes sou eu. Porém, acostumada a entregar a finalização de meus projetos a terceiros, realmente ficou difícil a essa altura do campeonato querer voltar ao comando do barco; preguiçoso trabalha dobrado, já diz um certeiro ditado. É óbvio que devo ser sincera e reconhecer o bocado de demagogia que existe na imagem que projeto de mim e dos papéis a que me submeto. Aos silêncios passivos aos quais eu até me felicito em tantas situações onde o direito da palavra era meu.

Por esses dias, me peguei a questionar a minha condição de mãe colocando-a na lista de meus obstáculos. Não que seja inquestionável, mas mais uma vez me vi na frustração em não ser o que os outros gostariam que eu fosse. Não sonhei ser mãe. Preciso ser sincera. Nem sempre tenho paciência. É difícil, é cansativo e às vezes é mesmo muito chato.  Mas daí me envergonhar em ocupar esse papel há uma grande distancia, né? Tive vergonha de ter ingressado à universidade aos 17 anos de idade e ter chegado aos 24 ainda não ter completado o meu curso, não ter adquirido nenhum objeto de valor, não trabalhar no que eu gosto e nem sequer conseguir escrever um maldito projeto de mestrado de 20 páginas. Tive vergonha de ter que mendigar uma vaga no CRUSP à universidade. Mas o que eu liguei sem rodeios a tudo isso, sem o menor pestanejar foi o fato de eu ter me envergonhado de tudo isso e mais a vergonha de já estar com um filho nos braços. Como se todas as atitudes acomodadas que venho mantendo seja conseqüência direta de sua existência! Se tudo é realmente mais difícil com ele, pior ainda comigo.  

E de novo, o retorno ao zero! Às pequenas e nefastas acomodações de cada dia. Agora, sem a criatividade em meu auxilio. Enfim, mais um texto pela metade (só que desta vez, publicado).

 

Imagem: quadro de Salvador Dali, The Persistence of Memory

sexta-feira, 14 de novembro de 2008

Crescer dói

Eu sei que não é a primeira vez que digo isso, mas como a maioria dos seres humanos, eu também sou repetitiva. Repito as piadas, dramatizo onde talvez nem haja tanto drama. Mas, sabe o que é? É que só tenho vinte e quatro anos e a impressão que tenho é a de que já tenho que escolher quase vida inteira. Daí os ombros pesam e o medo do passo em falso me faz sofrer de véspera. Ainda mais quando não se está só. Quando se atravessa a vida segurando a mão de alguém que tanto ama. Desculpa, mas hoje serei clichê.

Há alguns minutos atrás soube que terei de escolher entre a Academia ou o meu emprego. E isso é muito mais do que só isso. A vida acadêmica é algo muito além de meu Mestrado: é também a minha casa, a escola do meu filho, a minha independência... E o meu trabalho? O ganha pão, a chance de ter um salário decente e a segurança de não ter de depender da mesquinharia das retribuições da Universidade: a bolsa de estudos de fome (quando eles dão, né?), a intromissão da Coseas em nossa vida e a insegurança de um futuro sem dinheiro, sem convenio médico, sem INSS, sem casa, sem carro, sem escolha.

Citar o quesito dinheiro na Academia é pecado, não é? (risos secos!). E o aspirante a intelectual ou tem de nascer em berço de ouro, ou fazer fotossíntese (nem mesmo risos secos). Gritaria à parte, apenas para dizer que a vida, muitas vezes, nos coloca escolhas cujos critérios estão lá em baixo, na escolha do prato de comida, no teto para morar, no grau de dependência que se quer ter, ao res do chão. Bem mais feio do que o discurso de amor ao conhecimento que se divulga por aí. A escolha entre um modo de vida pautado pelo cinismo ou pela ironia. I don´t know... I don´t know...    

segunda-feira, 27 de outubro de 2008

Bora prosear?

Quando entrei no curso de Letras e iniciei os meus estudos em teoria literária, uma das primeiras coisas que aprendi é que o “como” eu digo um conteúdo já carrega em si o significado deste. A estrutura de uma idéia já é ela mesma uma idéia. Se isso fosse um texto acadêmico quem sabe eu tivesse de definir a partir desse ponto os pressupostos que abrem essa reflexão, como, qual é a minha concepção de idéia, de estrutura textual etc.

Mas para tanto, eu teria de fazer deste texto, um artigo acadêmico o que não é o meu propósito. O que aqui tentarei defender através do relato do que considero um grande defeito meu, e na cola do texto da Tiburi, “Conversar é uma forma de amar”, é o completo desleixo como estabeleço contato com as pessoas.   

Apesar de o conceito de “entrar na bolha” ter sido cunhado há pouco tempo por meus amigos da Lingüística, já não é de agora que moro em minha redoma de vidro. Há um tempo atrás, coloquei em um de meus relatos a minha terrível mania em esconder o que sinto e o que sei, me desqualificando em um “achismo” que enclausurava (ou ainda enclausura?) os meus quereres e, principalmente, os meus saberes, dentro do rótulo da mediocridade. Pois bem, desta vez partirei de uma outra perspectiva: quando eu esqueço de meu aprendizado de início de curso e irresponsavelmente faço uso de minhas palavras e de meu silêncio. O aborto do saber alheio por meio de minha intolerância.

O que dá a coerência e que conduzirá os argumentos nesse rascunho de reflexão é o destaque que faço ao modus operante de minha intolerância: o “como” materializo o incômodo das idéias alheias. Ora, ora! Colocado assim, parece uma contradição. Poderia pensar inclusive em um agravamento da idéia que já havia colocado em meu texto anterior: não digo o que sei, por pensar que nada sei e não ouço o que me dizem por também pensar que ninguém mais saiba! Mas veja: se eu subir só mais um grau na barra da discussão, quem sabe, não o seja. O que gostaria de apontar é a falta de reflexão e a intolerância como legitimo o conteúdo e o modo dos discursos “aceitáveis” e, consequentemente, as pessoas que produzem esses discursos. 

Houve dois fatos que me fizeram parar para pensar em minha “deslexia” em construir diálogos. O primeiro: observar pessoas que sabem conversar. Quais seriam? Irei apontar duas: minha tia Railda e meu amigo Renilson. Sabe por que os escolhi? Porque quando dialogam, prestam atenção no que o outro diz e mesmo que o seu interlocutor esteja a falar a maior das bobozeiras, sabem aproveitar o assunto para algo interessante. Por que sabem contar histórias e não precisam estar a todo o momento fazendo análises sociológicas, psicológicas e outros “ógicas” que existam por aí. Não defendo aqui a passividade como o caminho para a construção de boas relações e de bons diálogos. Não é isso. Mas partirei do seguinte principio: não temos mais paciência de conversar. Creio que aprendemos novas formas de conversa, mas, ou a restringimos ao exercício solitário e impessoal da leitura e da escrita, seja em blogs ou salas de bate-papo, ou a um exercício analítico em que exclusivamente postulamos valores ou exercitamos nossa vaidade retórica. O segundo fato e que foi decisivo: o teor combativo como TRAVO conversa (sim, porque minhas falas parecem as realizadas em uma guerra, ou uma arena) com algumas das pessoas que dialogo. É a impressão cada vez nítida da nossa (sim, pois percebo que não é uma característica que se restringe a mim!) falta de interesse com em ouvir e contribuir com o que as pessoas têm a nos contar o que me trouxe de volta a esse espaço.

E se eu começasse uma fala assim: quando eu era pequena, morava em um bairro da zona Leste de São Paulo, chamado São Miguel Paulista. Lá, estudei em uma escola pertinho de casa, o Carlos Gomes, há duas quadras de casa de mamãe. Àquela época, não havia tele transporte e tinha de ir a pé para a escola, com meu tênis all star azul e meu uniforme preto, com uma listra em vinho...? Como meu ouvinte reagiria? Provavelmente, com um “hum hum” bem educado e um enfastio enorme em seu interior. Mas é esse mesmo interlocutor quem vai a um blog ler por horas a rotina do primeiro estranho aparentemente interessante que o google o indique na internet. Isso porque nos relacionamos não com outras pessoas, volúveis, mutantes, defeituosas e cujas qualidades estão dissolvidas na rotina. Relacionamos-nos com pressupostos. Pressupostos fixos, o que é ainda pior. O outro é. E se gosta de mim, é como eu, ou o que eu gostaria que fosse. Se não, é o que é e sempre será: alguém que essencialmente por já ser o que eu não gosto que seja, obviamente, não poderá ter nada a dizer que não seja merda.  Ora! E ainda complemento o raciocínio: mas nem era preciso falar, era óbvio!!! Além disso, carrego na manga a desculpa para aqueles momentos em que a consciência resolve doer: eu gostaria de ter dado mais atenção, mas será que não entendem que EU não tinha tempo?! 

Ok, ok! Uma fala descontextualizada pode ser tão inútil quanto um noticiário de páginas da secção policial. E, além do que, poder-se-ia argumentar que vivemos na sociedade da fofoca. Mas não é a esse tipo de preenchimento de palavras a que me refiro. A minha reflexão visa criticar as obviedades não óbvias que pressupomos em nossa bolha de egoísmo, a preguiça em explicar, a impaciência em ouvir, o silêncio de corpos que foram feitos para se comunicarem, para DIALOGAREM, ou mesmo, aquelas conversas vazias, preenchimento inútil dos silêncios necessários, características que permeiam e emolduram diversas das relações afetivas que conheço, inclusive, as minhas relações.

Por apostar demais em uma certeza, ou pelo medo em invadir um espaço que, por infantilidade, atribuímos restritamente ao nosso interlocutor, abafamos de nossas idéias com uma agressividade que consideramos legitima a voz de muitas das pessoas que mantemos (ou deveríamos manter) DIálogo. Silencio o outro dentro de meu próprio silêncio, em minha desatenção e em meu esquecimento. Desqualifico opiniões que me desagradam e, nem ao menos, me dou ao trabalho de separar o joio do trigo.

A conseqüência (ou seria a causa?), creio, esteja no desrespeito à história de vida que cada um carrega no bojo de sua existência, da história de seus pressupostos, o desrespeito às pessoas que o influenciaram, muitas vezes por amor, a completa desqualificação do processo de formação de sua moral.

O que eu penso ser um grande defeito meu, mas não somente meu é a desatenção com que digerimos as experiências alheias e as nossas experiências. Quem sabe ainda precisemos aprender com os mais velhos, os da época de minha avó, que agachavam em frente à porta para trocar um dedinho de prosa. Simplesmente. Sem sublimação e teatralização teórica. Simplesmente uma boa prosa...

quarta-feira, 22 de outubro de 2008

“Mulheres são as que mais sofrem"

Rating:★★★★★
Category:Other
Eric Beauchemin e Daniela Stefano

Valdênia Paulino nasceu em 1967 e conhece de perto a realidade das periferias brasileiras. A família dela, oriunda do estado de Minas Gerais, migrou para uma favela em São Paulo em busca de trabalho e melhores condições de vida.

Apesar das dificuldades, Valdênia conseguiu estudar e aos 14 anos já alfabetizava outras crianças. Aos 17 organizou uma casa para ajudar as mulheres que queriam sair da prostituição.

A violência contra a mulher é o foco do trabalho da defensora de direitos humanos que, anos mais tarde, percebeu que a formação como pedagoga não era suficiente para ajudar a comunidade. Formou-se em direito e como advogada do Centro de Direitos Humanos de Sapopemba diz que a sua luta é enfocada na mulher por ser quem mais sofre as conseqüências da violência na periferia:

"A Anistia Internacional retrata o quanto as mulheres, as mães em particular, estão ficando doentes mentais por causa da violência. Não há, no sistema de saúde, uma atenção para essas mulheres."

De acordo com Paulino, a violação dos direitos das mulheres não é uma preocupação das autoridades brasileiras:

"As autoridades estão sempre preocupadas contra a violência, mas é a violência contra o patrimônio. Sempre falam dos garotos, que roubam carros etc, mas nunca falam das garotas que são abusadas na rede de prostituição. A violência contra a mulher não aparece por não ser patrimonial."

Uma das causas da violência na periferia, segundo ela, é a falta de instituições do Estado. Paulino afirma que a polícia é única presença do Estado na favela, o que não garante a inclusão social e ainda gera mais violência.

"Em Sapopemba era muito comum que a polícia adaptasse alto-falante em cima do carro e enquanto tocava música clássica para a população ouvir, (os policiais) abusavam sexualmente das mulheres e executavam jovens."

Papel da mulher
Valdênia Paulino atua também no Cedeca Mônica Paixão, o Centro de Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente. Um dos trabalhos do Cedeca é o de despertar nas mulheres, jovens e crianças de muitas favelas de São Paulo a consciência de que possuem direitos, que estão no papel, mas que precisam ser colocados em prática. Para a ativista dos direitos humanos, as mulheres ocupam um papel importante na comunidade empobrecida:

"É ela quem fica com os filhos quando a situação chega no limite, os homens escapam e as mulheres permanecem. São elas que estão nos movimentos sociais. Trabalhar com a jovem e mulher adulta é importante. Elas quem são responsáveis pela educação dos filhos."

Ainda que o trabalho desenvolvido por Valdênia a tenha tornado conhecida como defensora dos direitos humanos, as ameaças de morte, tanto por parte da polícia como por parte de criminosos, a obrigaram a deixar o Brasil. Valdênia pretende voltar ao país e continuar suas atividades no nordeste.

Noticia publicada no site da rádio Nederland no dia 4 de setembro de 2008.
http://www.parceria.nl/direitoshumanos/20080904-dh-valdenia

Valdênia Paulino esteve na Holanda a convite da Anistia Internacional. Ouça a entrevista completa concedida por ela a Eric Beauchemin (30'56):

http://content70b.omroep.nl/edd3e48cd334fb4079759cfdc3cc6602/48ff337c/08/rnw/smac/cms/por_valdenia_20080904_44_1kHz.mp3

terça-feira, 16 de setembro de 2008

Relatos tardios

Era uma vez uma vontade de história...
Como aquelas com o cheiro de terra molhada
Cheiro do quintal de minha avó...
Onde tatus-bola constroem castelos invisíveis em algum tijolo misterioso
E o tempo passa devagar...
E eu não alcanço a fechadura da porta e tenho medo de subir no muro
Um muro muito gigante!
Infinito...
Mas que tenho certeza
Que, lá de cima, finalmente, eu teria a revelação de uma casa,
Casa caverna cuja porta é um buraco por onde somente crianças passam
E tudo nela é de luz e de botões
e de refrigerante e de chocolate e de coxinhas!
Era uma vez a língua das árvores e das flores
Era uma vez borboletas que não mais fogem de minhas mãos
(Sussurro)
“os vaga-lumes as convenceram de que também sou borboleta
com azas invisíveis e que moro em um jardim de amoreiras”.
Era uma vez uma história que trouxesse as coisas para o seu tamanho real
Em que tudo é tão longe e tão maior do que eu...
E, novamente, a sorveteria da minha casa é o melhor lugar do mundo!
Era uma vez um lugar em eu que só usaria rosa-cor-de-mamão
Mesmo o mamão sendo de outra cor
E os ladrões usam pedaços de pau como armas
E é só dizer “vivi” para desmorrer no mesmo instante
Nela, eu comerei ovo cozido com a gema mole,
Ouvindo minha avó cantar suas músicas estranhas
enquanto lava a louça do café
Teria uns dez filhinhos
Porque todos eram gatinhos
E não mais teria preguiça
Nem de trabalhar!
Porque seria cada dia uma coisa:
Um dia professora,
Outro dia bailarina,
Outro, policial,
E outro, uma mãezinha,
Era uma vez...
Então, minha avó viria me cobrir
E segurar as minhas mãos com suas mãos quentinhas
E os vaga-lumes que escondi no bolso
Viriam outra vez me levar
E eu, borboleta,
voltaria voando ao misterioso Castelo dos Tatus-Bola
em algum tijolo misterioso
de uma memória muito estranha,
(lembrança que se esquece)
mas que acorda no escuro do quarto
enquanto rezo,
com as mãos geladas
e o mesmo medo do escuro.

sexta-feira, 22 de agosto de 2008

Por uma história da preguiça

A história do sonho ainda está por escrever-se.

Walter Benjamin

"Ai, que preguiça!".

Em Macunaíma, do Mario de Andrade.

Traria a felicidade, a esterilidade das palavras? E por essa dúvida finalmente as minhocas de minha cabeça se agitaram para a produção deste amontoado de idéias organizadas, ou ainda, texto. Racionalmente, eu responderia: não. Um ‘Não’ cujo respaldo é o ceticismo que carrego em relação ao conceito romântico de amor=dor, ou ainda, beleza=dor (dor que vem da vida e não a dor da incompreensão defendida por Kant, ao descrever o conceito de Sublime). Talvez por que realmente a vida possa ser tão melhor à ficção, eu não esteja conseguindo desamarrar as lembranças de quando a linguagem era a mim mais do que um intermédio. Vamos lá! Uma paráfrase do que ouvi por esses dias: eu havia ido morar nas palavras (filósofa Viviane Mosé). As feridas cicatrizaram devo dizer. Certos coágulos, porém, são irreversíveis. Agora que voltei, não consigo separar as idéias fruto dessa morada temporária, da outra: as idéias que carrego nas palavras que vivem em mim. Fora da linguagem, distraída com a vida (que é e deve ser o nosso fim último), me entreguei a uma preguiça, preguiça das idéias. Idéias que agora festejam; em silêncio... Mudas. Espere!  Espere um pouco. Antes de continuar, um aviso: eu comprei tudo isso. Sim, essa teoria de que o homem contemporâneo foi morar na linguagem e se esqueceu da vida, não é mais um deslumbramento das minhocas que por esta cabecinha se agitam. Até porque, não é pelo fato de eu ter aderido a essas idéias que elas sejam ruins. Apenas é que tenho necessidade de explicações. E por que o silêncio seja algo tão difícil de explicar e, paradoxalmente, grite tão alto, eu precisei de uma ajudinha... hum... extra. Mas vejamos...

Se eu fosse boa usuária da retórica, é bem provável que eu tivesse de ter começado este texto por seus contra-argumentos. Todavia, enquanto sofista e, das mais vagabundas, farei tudo a meu bel prazer. Prazer esse que, inclusive, me paralisa. O mundo continua uma droga, sinto dizer. Não é isso. Puritanos na Itália, corruptos no Brasil, xenófobos na Europa, machistas nos vizinhos, xeretas na portaria, vermelho na conta bancária. Mas é que, de repente, tudo isso passou e me desinteressar com grande força. Poderíamos levantar aqui também a questão do individual versus o coletivo. Ou que cansada de gritar a gente surda, desisti do mundo. Não de TODO o mundo. Porém, mantenho minha atenção apenas ao que me interessa. Um leitor mais atento, no entanto, perceberá que estou sendo contraditória. Saio da ficção para finalmente aportar na vida e ao mesmo tempo estou fora do mundo no qual essa mesma vida se faz vivência?! Eu sou um serzinho que seleciona. Aí, quem sabe, a contradição aí poderia ser resolvida: talvez seja mais fácil sermos críticos com aquilo que nos incomoda. Qual a necessidade em sermos críticos com aquilo que nos apraz? Eu sei que há, espere aí! Mas, em que medida, não reside exatamente aí, um de nossos pontos cegos? Seria a preguiça a dor de cabeça da felicidade? Ou apenas o medo de que ela acabe a qualquer momento?  Um efeito colateral de nosso desejo impossível em querer parar o tempo e congelar a vida, de modo a somente vivenciarmos os momentos de prazer! Morar em um pedaço de realidade e silenciar qualquer palavra que possa modificá-la. O silêncio da palavra que se confundiu com a morte da idéia. As idéias que, por saberem de sua força, têm medo de, em se corporificarem, modificarem a realidade. Como se o que fosse bom, necessariamente tivesse de ser estável. Uma vontade irresistível de suspensão do tempo. Oras! Mas o prazer também se manifesta (e talvez SÓ se manifeste) naquilo que é diverso! Até porque, como seria possível estar na vida e ao mesmo tempo querer pará-la? Seria a preguiça um erro conceitual?

Quem sabe, eu só precise argumentar isso com as minhas idéias. Bem... Bem... E como descrever com palavras à palavras as coisas que moram dentro de nosso silêncio? Ai... ai... Que preguiiiiiiiiiça... Parei!

 

Texto publicado também em www.locusdelokos.blogspot.com

sexta-feira, 8 de agosto de 2008

Comercializando fantasias: a representação social da prostituição, dilemas da profissão e a construção da cidadania

http://www.scielo.br/pdf/ref/v13n3/a04v13n3.pdf
O presente artigo discute fatos, percepções e representações sociais do cotidiano das mulheres profissionais do sexo (MPS). Foram avaliados oito projetos de intervenção educativa sobre DST/Aids dirigidos a MPS, em cidades das regiões Sul, Nordeste e Sudeste. Foram realizadas entrevistas em profundidade e grupos focais. Os resultados revelaram que a representação da
mulher que vende o corpo vem sendo re-significada para a realização de fantasias eróticas. As perspectivas de maior autonomia da profissão contrastam com a discriminação e a pressão psicológica. Foi mencionada a violência, praticada por clientes e policiais. Foram evidentes a importância do preservativo na negociação dos programas e o não-uso do mesmo em relações
com envolvimento afetivo ou devido à concorrência. Conclui-se, sob a ótica da autonomia, que classe social, escolaridade, situação de crise econômica e estigma ocasionam discriminação, violência e risco de contágio de DST e HIV.