Como a proposta deste espaço é o desossar de minha hipocrisia, penso em, na medida do possível, expor minhas contradições ao impulso de impô-las.
A primeira e não recente conclusão é a que defendi acima: ser contraditória é o melhor e o pior de mim. O pior, na medida em que expõe a demagogia e a fragilidade de meus argumentos, de minhas idéias e a mesquinhez de meus sentimentos. O melhor, pois graças a essa característica tenho a facilidade em abandonar idéias apaixonadas e mentirosas, idéias e sentimentos preconceituosos e discriminadores, em mover as categorias e os quadros nas paredes que sustentam os meus pensamentozinhos. Mas mover as idéias, mover as ações e mover os sentimentos são três ações distintas, embora entrelaçadas. Pois não temos acesso a fatos, mas apenas a pontos de vista. Ações distintas... Com um mesmo alvo. A demagogia, óbvio, emerge da contradição das direções entre elas. Dificulta ainda a liquidez de minhas certezas e os malditos paradoxos, os quais nem sempre estou atenta.
Estes dias, a navegar entre meus blogs prediletos, me vi diante de uma das frases de Clarice Lispector a qual não tenho mais acesso na integra, mas da qual me ficou “a moral da história”. Clarice coloca que escrever não é apenas um ato de reflexão sobre o mundo, mas condição mesma para se pensar. A autora diz só conseguir se pensar no ato da escrita. Nisto, talvez eu seja como ela. Daí eu temer o silêncio. O silencio das idéias... Obviamente, não há grandeza proporcional entre o resultado do ato de escrita de Clarice e o meu. Mas creio ser preciso amar a vida, mesmo que seja a minha. Ando alienando-me de mim. O problema disso, antes que se levante a bandeira de humildade, é que nisso me desapego do mundo. O resultado parece ser um enorme sentimento de tédio. Como se na luta diária entre a passividade de meu temperamento e a rebeldia de minhas idéias, a contradição ficasse um fardo cada vez maior a carregar. Aliás, eis uma contradição que não consigo resolver: a demagogia de meus atos e o medo das minhas palavras. Como amar a vida se já não me satisfaço com a que tenho? “Mesmo que seja a minha”... Amar a vida porque ela é minha. É a responsabilidade da vida o que parece que me escapar às mãos.
Por estes dias decidi que para continuar a pensar-me com mais sinceridade fechar alguns de meus (futuros) posts. Medo. Sim, um medo que não consigo vencer. Não tenho acesso a quem lê este espaço. Não há medidores de audiência no blog. Assim, mantenho o compromisso de sinceridade e aviso que coloco alguns conteúdos para balanço. Contraditório? Lógico!...rsrsrs!
Fonte da imagem: http://lordevelho.blogspot.com/2008/07/partes.html
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