sexta-feira, 15 de maio de 2009

Déjà vu?



*Hoje amanheceu nublado e fui até o aeroporto ver aviões decolando. Agora, ao entardecer, tenho sol nos cabelos e uma estúpida piedade daqueles que partiram cedo demais.

Chove lá fora e hoje poderia ser mais um daqueles dias chuvosos sem nenhuma grande importância. Mas a mim soou diferente...

Acordei ao milionésimo chamado do celular. Devo o ter colocado em opção soneca uma centena de vezes. Não lembro. Meu corpo já faz coisas por mim que às vezes me toma mesmo o leme das ações. As horas já se vestiam em seu costumeiro traje de atraso, mas as vértebras de minhas idéias ainda doíam do sono que exigia sua finalização. Talvez eu sonhe demais e por isso sinta tanto sono: sonhos gulosos que não se cansam de sonharem-se. Uma vitória: cheguei ao chuveiro e sem roupa ainda de olhos fechados. Ao voltar do banho, a mudança: num estalar do instante, meus sentimentos, embaralhados pelo sono interrompido, parece terem se perdido nos labirintos de minha memória e, confusos, retomaram o paladar de um mundo que já não é.

Por um balançar de realidade o cinza do dia, perdeu o lugar das horas.  Não sabia se era o entardecer, ou o amanhecer de horas antes, mesmo tendo conferido algumas vezes no celular. A iluminação do quarto, o cheiro das coisas. Sim, o mundo exala. Mesmo quando não mais percebemos. Há alguns anos atrás tive de fazer uma cirurgia e por complicações na recuperação me ausentei do CRUSP  por alguns meses a mais do que houvera previsto. Quando retornei da casa de minha mãe  ao meu apartamento na USP, a primeira coisa que reconheci ao abrir da porta foi o cheiro, o cheiro daquele lugar. À época do falecimento de meu pai, sentia seu cheiro em tudo. Como se não conseguisse descolar a apreensão do mundo ao gosto da perda daquela existência. Os talheres tinham seu cheiro. Até a água do chuveiro!  Por meses o quarto em que dormia me parecia infestado de sua presença. Ou de sua ausência...Ou de ambos...   

Assim, mesmo o mundo me pareceu transpirar em novo ritmo a partir de meu retorno ao quarto. Devo dizer que é realmente uma sensação que de tão estranha, descola-se de qualquer ensaio de real. A rememorização não de fatos passados, mas de sentimentos passados. Sentir o sentimento de dias que já se foram e que, embora tenham sidos meus, não mais me pertence. A estranha consciência de que mudei por uma súbita experimentação nostálgica de sentimentos e rotinas que já se foram. Acabei por vestir uma roupa que há muito não usava e em decorrência da chuva e do atraso, a me enfiar em táxi rumo a Berrine. Dentro do carro me lembrei de meu primeiro mês de trabalho na antiga empresa em que trabalhei, dias de chuva como o de hoje e em que costumava ir de táxi.

Uma pequena  pista finalmente!O paradeiro cronológico das  sensações retomadas. Hoje senti o mundo em duplicidade. Ao mesmo tempo sou a Yara de hoje e a nostalgia da Yara que já morreu, a Yara de cinco anos atrás.

Ontem, ao andar pelo shopping Eldorado, finalmente encontrei a lâmpada adequada à luminária de meu quarto. Faz uns cinco anos que a tenho. Mas há uns dois anos a sua lâmpada queimou e eu segui em deixar a troca deste item para depois. Para depois... Sempre para depois.

Talvez tenha sido a luminária. Talvez tenha sido a chuva. Talvez tenha sido o sono. Ou o entrelaçamento desses três.

Quem sabe um déjà vu anômalo, nostálgico? Às vezes desconfio de que o normal não me pertence...rsrsrs!    

Excerto retirado do blog Análise Publica: frase do dia. http://analisepublica.blogspot.com/2006/05/frase-do-dia_25.html    

Fonte da imagem: http://diarionaooficial.blogspot.com/2008_01_01_archive.html

Musica inspiradora (o que ouvia enquanto escrevia todos esses disparates):

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