terça-feira, 26 de maio de 2009

A preguiça nefasta

Hoje tive uma “folguinha” das tarefas “urgentes” de meu trabalho e em uma busca desesperada por leituras úteis aportei no texto de Márcia Tiburi sobre o tema preguiça (publiquei o texto na secção de artigos desse blog).

O texto chamou a minha atenção obviamente por que me veio bem a calhar: padeço de preguiça aguda. Mas, ao contrário dos quadrinhos com o maravilhoso personagem Garfield, tal “sentimento” está longe do ócio necessário, ou ainda inteligente do qual o gato faz apologia em contraposição ao lisonjeio do “amor ao trabalho”, ideologia bem sucedida do capitalismo.

A “minha preguiça”, ao contrário, não interfere deveras no trabalho (um pouco, talvez!). A preguiça de que ando a refletir é de outra ordem. Alastra-se por todos os demais campos de minha vida, fato que me levou a refletir (ou tentar!) sobre a questão, pois prevejo em suas conseqüências a mediocridade e a perversidade.

As raízes do mal que me acomete, parece ter tons mais macunaímicos do que garfieldianos. Alimenta-se de hábitos como a minha maravilhosa mania em delegar responsabilidades e a conseqüente acomodação a esse vício; no medo em frustrar expectativas alheias (querer ser/ parecer a todo instante coerente com as expectativas de outros) e, o pouco caso com as necessidades alheias (parece contraditório, mas ficará claro mais adiante).  Posso dizer que essas são apenas algumas pistas do que eu consegui colher ao longo de minhas reflexões (preguiçosas reflexões!!!). Sei que parece estranho essa associação entre preguiça e perversidade, mas tal relação é algo de que há muito desconfio. Deixarei mais claro com exemplo bem feio que há algum tempo constatei em minhas atitudes.

Eu tenho preguiça de ser mãe.  Não é algo bonito de se declarar, mas é preciso. Todos os finais de semana em que tenho de cuidar de Gabriel as minhas energias parecem se volatilizarem com o ar. Não é de hoje que vejo essa minha “preguiça” em relação ao meu filho. Por isso não baixo a guarda com relação a isso. Quer dizer: baixar, às vezes, eu baixo sim, mas tento estar sempre mais atenta. Porém penso que chegou o momento em que admitir tal horror seja o mais eficaz e produtivo.  Infelizmente, ou felizmente, não fui a única a notar o “defeito de caráter”. Minha melhor amiga (uma das, já que tenho duas melhores amigas) também percebeu e me apontou isso sem meias palavras. Não foi agora não. Faz tempo, ano passado. “Você está sendo negligente!”, disse ela. E doeu. Ainda mais porque tinha razão. Mas muita coisa se resolveu desde então.

Porém, vejo que essa negligencia foi em parte, canalizada a outro meio. Foi o que constatei ao ler o texto da Márcia Tiburi sobre a preguiça e um outro, Sem Limites. A autora aponta uma questão que, talvez, por ser tão cobrada com relação à imposição de limites ao meu filho, liga dois pontos de uma mesma questão: o exagero em frisar a necessidade de delimitação de limites a crianças e a preguiça. No texto, o que a autora aponta é a ligação entre a imposição excessiva de limites e a preguiça em educar crianças:

Para muitos basta dar “limites” para realizar uma boa educação. Como se a experiência do limite sozinha pudesse ser a salvação para alguém que se perdeu. Um não dito em tom solene aqui, ou acolá, e estaria feita a mágica. Sabemos que não funciona assim.     

Meu amor certo dia me disse: “Precisamos de espelhos”.  Nos últimos meses notei que trato Gabriel de maneira mais dura. Intuí de que devesse ser mais atenciosa também, pois achei que só poderia ser mais dura com ele se, proporcionalmente, o desse a recompensa em atenção. Mas em uma análise sincera tal recompensa não teve nada de proporcional. Daí ao me deparar com os textos de Márcia, a imagem no espelho não foi bonita. E isso teve a ver mais com a minha preocupação em impor os tais “limites” que tanto ouço todos buzinarem em minha orelha do que com o comportamento do meu pequeno. Obviamente que tal preocupação veio calhar direitinho com a minha PREGUIÇA. Calhou à preguiça, à covardia em impor LIMITES aos que buzinam “limite!”, à minha fraqueza. Ser forte com quem é fraco não tem nada de enobrecedor. É a inatividade em verniz de profunda atividade. É a PREGUIÇA em carapaça de RESPONSABILIDADE. Por fim, é covarde e perverso.  

Pois é... O jeito é continuar (clichê, eu sei!).  E sem esperanças em encontrar aquela moral da história no final do livro que tanto nos facilita a leitura. Olhar os espelhos que me cercam: sem preguiça! 

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