E eu ali, naquele parque, em construções completamente fora
de seu tempo, galinhas e pintinhos soltos a todo lado. E pipoqueiros,
vendedores de milho, de churrasquinho, de coco, de sorvete. E muitas crianças.
E muitos velhos. Mas o que eu gostaria de registrar é a apresentação de dois deles.
Sentaram-se em um banco, um com um violão e outro com um saxofone. E iniciaram
uma canção que é como se o tempo tropeçasse de delírio e eu caísse em outra
época. Eram aquelas músicas da época de Ouro do rádio, com aquelas mesmas vozes.
Vozes que não existem mais. E nesse momento, a magia. As crianças sabem
reconhecer o que é mágico. E por isso, até mesmo elas, pararam para ouvir. Outros
velhos sentaram em volta dos dois, emocionados. E eu ali em uma espécie de alegria
e angustia, por saber que minhas palavras não alcançarão a beleza daquela cena. Suspeito de que só sabem realmente viver a vida e conferir a beleza que lhe é
intrínseca as crianças e os velhos. Velhos, não idosos. Velhos que sabem a
beleza de suas marcas e de sua história. E que, como aqueles velhos do parque, gostam da vida e não se curvam diante dessa babaquice de que só a juventude
vale a pena. Por isso, a beleza só pode mesmo frequentar parques como o que
estive ontem: repleto de velhos cantores, crianças e bichos soltos.
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