segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

O Parque


E eu ali, naquele parque, em construções completamente fora de seu tempo, galinhas e pintinhos soltos a todo lado. E pipoqueiros, vendedores de milho, de churrasquinho, de coco, de sorvete. E muitas crianças. E muitos velhos. Mas o que eu gostaria de registrar é a apresentação de dois deles. Sentaram-se em um banco, um com um violão e outro com um saxofone. E iniciaram uma canção que é como se o tempo tropeçasse de delírio e eu caísse em outra época. Eram aquelas músicas da época de Ouro do rádio, com aquelas mesmas vozes. Vozes que não existem mais. E nesse momento, a magia. As crianças sabem reconhecer o que é mágico. E por isso, até mesmo elas, pararam para ouvir. Outros velhos sentaram em volta dos dois, emocionados. E eu ali em uma espécie de alegria e angustia, por saber que minhas palavras não alcançarão a beleza daquela cena. Suspeito de que só sabem realmente viver a vida e conferir a beleza que lhe é intrínseca as crianças e os velhos. Velhos, não idosos. Velhos que sabem a beleza de suas marcas e de sua história. E que, como aqueles velhos do parque, gostam da vida e não se curvam diante dessa babaquice de que só a juventude vale a pena. Por isso, a beleza só pode mesmo frequentar parques como o que estive ontem: repleto de velhos cantores, crianças e bichos soltos.  

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