O lado ruim de estar fora, de estar em um não-lugar: a
solidão. Eu poderia continuar a sonhar em criar um novo lugar, que contemple
aos como eu. Talvez o legado de meus escritos sirva para isso às gerações
futuras. Cultura demora a mudar. Mas
existe também o lado bom em ocupar um não-lugar ou em estar nele: o de
conseguir observar o quinhão de não-lugares de cada um; o de conseguir me mover
mais rápido do que qualquer categoria. Tentam me apreender: bela, monstra,
especial, deficiente... E eu já me movi. Quem consegue capturar o que não
consegue classificar? Se consigo tudo ou quase tudo o que preciso de onde
estou, por que abrir mão dessa mobilidade, desse novo tipo de mobilidade? Se eu
não tenho reflexo ao espelho, quem garante que o que você vê é realmente o seu
reflexo e não uma distorção do vidro? Você olha para mim, mas não sabe do que
sou capaz. E saber relacionar a imagem ao que é capaz não é exatamente o que
chamamos de enxergar? Com o tempo, passei a amar essa potência, ao seu jeito. É
solitário ainda. Eu lembro disso, as vezes. Então, eu me movo. E percebo o
quanto é prazeroso se mover. Dançar, mesmo que só. Você não me vê. Mas é
absorvido pelo espetáculo.
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